Onda de calor na Europa, cada vez mais comum, coloca saúde e turismo em alerta

MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – A Itália, assim como boa parte do sudeste da Europa, enfrenta nesta semana seus dias mais quentes do ano, em meio a uma onda de calor que deixa em alerta os serviços de saúde e parece confirmar os efeitos da emergência climática, intensificada pela ação do homem.

Depois de termômetros atingirem 46,3°C nesta terça-feira (18) em Licata, na ilha da Sicília, a previsão é que as temperaturas subam mais na região e em outras localidades. Segundo o Ministério da Saúde, 23 das 27 maiores cidades do país —três a mais do que no dia anterior— vão começar a quarta-feira em alerta vermelho, o mais grave.

Na capital Roma, tomada nas últimas semanas por uma avalanche de turistas, foram atingidos 41,8°C. A Proteção Civil organizou quase 30 pontos de atendimento móvel, incluindo nas proximidades de atrações turísticas, como o Coliseu, para receber pessoas com mal-estar.

O fenômeno atinge também a Espanha, onde a temperatura chegou a 45,3°C em Figueres (Catalunha) –cidades do interior e das ilhas Baleares continuam em estado de alerta. Partes dos Bálcãs, incluindo a Grécia, do norte da África e da Turquia são outras áreas afetadas, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). As condições na Europa devem se manter até o fim da semana pelo menos.

Em Atenas, atrações turísticas, como a Acrópole, precisaram ser fechadas em horários de pico de calor ao longo dos últimos dias, e incêndios nas imediações da capital destruíram casas e forçaram a saída de moradores da região.

“O clima extremo, cada vez mais frequente, está tendo um grande impacto na saúde humana, ecossistemas, economias, agricultura, energia e abastecimento de água. Isso destaca a crescente urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa o mais rápido e possível”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

O atual recorde de temperatura para a Europa continental foi registrado em agosto de 2021, quando a Sicília marcou 48,8°C. A OMM, um braço da ONU para o clima, porém, considera que essa marca pode ser superada nesta semana.

Uma onda de calor é quando temperaturas extremas persistem por vários dias consecutivos na mesma região, frequentemente associadas a alta umidade, forte irradiação solar e ausência de ventilação. Outra característica é que as noites continuam quentes, dificultando a recuperação natural do corpo e aumentando riscos de morte.

Estudo divulgado no começo deste mês na revista Nature Medicine calculou que mais de 61 mil pessoas morreram durante o verão de 2022 na Europa por causas relacionadas ao calor. A Itália, com 18 mil vítimas, foi o país mais afetado, seguido pela Espanha (11 mil).

O verão do ano passado foi o mais quente da história da Europa, segundo o programa de observação Copernicus, da União Europeia.

O continente tem o ritmo de aquecimento mais acelerado do mundo, em uma taxa duas vezes maior do que a média global desde a década de 1980. Em 2022, a Europa ficou cerca de 2,3°C acima da média pré-industrial (1850-1900), usada como base para o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Neste ano, o mês de junho foi o mais quente globalmente, com 0,5°C acima do período de referência (1991-2020).

A origem da atual onda de calor é a mesma das ocorridas na Europa nos últimos dez anos, segundo Massimiliano Fazzini, professor de meteorologia e risco climático da Universidade de Camerino.

“Trata-se de um anticiclone que vem da África, das áreas mais setentrionais do Saara, que se deslocou para o norte e invadiu grande parte do território italiano”, afirmou à Folha.

Segundo o professor, a combinação de dois fatores é o que tem tornado a Europa um continente mais suscetível às ondas de calor.

Em primeiro lugar, a mudança climática alterou a circulação geral da atmosfera nas latitudes médias do Norte. “Se antes havia uma persistência do anticiclone dos Açores, no oceano Atlântico, mais ameno, agora ele foi superado pelo anticiclone africano, que atinge até latitudes mais altas, como Inglaterra e Dinamarca, trazendo massas de ar mais quentes e mais úmidas”, afirma.

A segunda razão é o que ele chama de antropização –a ação do homem sobre o meio ambiente. “A Europa tem alta densidade populacional, e a antropização traz uma série de consequências, como a impermeabilização do solo.”

Segundo a OMM, as ondas de calor estão entre os perigos naturais mais mortais. Nesta terça-feira, o órgão reforçou a importância de sistemas de alerta e de planos de ação para prevenir óbitos diante de temperaturas extremas persistentes.

Na Itália, o governo anunciou a reativação do número de telefone de emergência utilizado durante a pandemia do Covid-19. Ele servirá para responder dúvidas e indicar ambulatórios médicos mais próximos. Também recomendou que hospitais adotem um procedimento específico, chamado de “código calor”, para que pessoas que se sentem mal tenham atendimento preferencial nos prontos socorros.

O Ministério da Saúde italiano identificou 12 grupos mais vulneráveis às ondas de calor. Na lista, estão, entre outros, idosos, grávidas, bebês, doentes crônicos de problemas cardiovasculares e diabetes, pessoas com transtornos mentais, com mobilidade reduzida e a faixa mais pobre da população.

MICHELE OLIVEIRA / Folhapress

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