Um mês após ataque, escola em Cambé espera fim das férias para saber se alunos vão retornar

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A direção do Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé (PR), aguarda o fim do recesso de julho para saber quantos alunos voltarão para as aulas e de que forma eles têm enfrentado as lembranças do ataque que, há um mês, em 19 de junho, deixou dois adolescentes mortos.

“É uma ferida que não vai sair nunca. Fica no coração de todos. É inacreditável, depois de 30 anos de magistério, passar por uma situação dessa”, diz Jéssica Pieri, chefe do núcleo regional de educação de Londrina, ligado à Seed (Secretaria de Estado da Educação). Cambé tem mais de 100 mil habitantes e é vizinha a Londrina (PR), a segunda maior cidade do Paraná.

A escola, onde estão matriculados 600 alunos dos ensinos fundamental e médio, permaneceu uma semana sem atividades depois daquele dia, quando um ex-aluno de 21 anos entrou armado e disparou contra estudantes —as balas atingiram o casal de namorados Karoline Verri Alves, 17, e Luan Augusto da Silva, 16.

Em 26 de junho, a escola voltou a receber os estudantes, mas as disciplinas deram lugar a rodas de conversa. “Naquela primeira semana, fizemos acolhimento. Num primeiro momento, é acolher, escutar e acalmar. Não houve busca de culpados. As famílias, em nenhum momento, fizeram discurso de ódio depois do que aconteceu. Isso mostra que eles confiavam na escola”, conta Pieri.

Em 7 de julho, a escola foi fechada novamente, por conta do recesso escolar, que termina na semana que vem.

Entre o ataque e o início do recesso, cerca de 30% dos estudantes não frequentaram a escola, em média. “Como o episódio aconteceu muito perto do recesso, a gente respeitou. Cada família e cada aluno tem seu tempo. Agora é que a gente vai ver se realmente teve desistência”, diz Pieri.

Segundo ela, um atendimento psicológico deve continuar sendo oferecido no segundo semestre.

Pieri afirma ainda que a questão do bullying já era um tema trabalhado na escola, mas que o assunto ganhou uma atenção maior desde o episódio.

De acordo com a Polícia Civil, o atirador de 21 anos disse que foi vítima de bullying no período em que estudou na escola, até 2014.

Ele foi preso logo após o ataque e, no dia seguinte, em 20 de junho, a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) informou à imprensa que ele foi encontrado morto em sua cela, na casa de Custódia de Londrina.

Uma investigação investigação foi aberta para apurar as circunstâncias da morte do atirador. Mas, quase um mês após a morte, a Sesp disse que o inquérito ainda não foi concluído.

Há suspeita de suicídio, mas a pasta informa que só vai divulgar informações sobre o caso após a conclusão do inquérito, que tramita na Delegacia de Homicídios de Londrina.

Além dele, outras cinco pessoas foram presas sob a suspeita de ligação com o ataque. Nenhum deles teve o nome divulgado.

Em 12 de julho, o Ministério Público do Paraná denunciou três dessas pessoas pessoas por homicídios duplamente qualificados. As penas previstas são de 12 a 30 anos de reclusão para cada um dos crimes.

Os três estão presos preventivamente.

Trata-se de um jovem de 21 anos que foi preso em Rolândia (PR) ainda na noite de 19 de junho e que atualmente está detido em Pinhais, na região de Curitiba; o segundo rapaz tem 18 anos e foi preso em Gravatá (PE) em 21 de junho; e um terceiro jovem de 19 anos foi preso em Santo André (SP) em 10 de julho.

De acordo com o a Promotoria, os três são suspeitos de instigarem e auxiliarem o atirador, através de redes sociais e aplicativos de mensagens. O processo tramita em segredo de justiça.

Outros dois homens foram presos em Rolândia –um de 35 anos e outro de 39 anos. De acordo com o Ministério Público, eles vão responder apenas pelo crime de venda ilegal de arma de fogo e munição.

ESCOLA RECEBE REFORÇO NA SEGURANÇA

De acordo com a chefe do núcleo de Londrina, a escola também terá um novo sistema de segurança a partir de 24 de julho, com o início do segundo semestre letivo.

Ela menciona a contratação de uma empresa especializada em monitoramento eletrônico 24 horas em colégios, com atendimento tático móvel.

Segundo Pieri, os equipamentos de vigilância estão sendo instalados em todas as 13 escolas estaduais de Cambé.

O contrato foi assinado em 22 de junho, por 180 dias, com a IIN Tecnologias, uma empresa de Manaus (AM), com dispensa de licitação e ao custo de R$ 648 mil, de acordo com extrato publicado em Diário Oficial.

A chefe do Núcleo de Educação conta ainda que uma mudança física na escola também foi feita depois do ataque. Uma floreira foi colocada no local onde o casal de adolescentes foi atingido pelos tiros. Também não há mais marcas de balas nas paredes, que foram reformadas.

CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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