SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Governo de São Paulo está fazendo um “censo” dos frequentadores da cracolândia para separar moradores de rua, dependentes químicos e traficantes e, depois, levar os usuários de drogas para um novo endereço. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que ainda não há uma estratégia pronta para fazer a migração do chamado fluxo de usuários, muito menos certeza de que a ideia terá sucesso.
A gestão Tarcísio pretende levar os dependentes químicos para o Complexo Prates, no Bom Retiro, também na região central. O equipamento da prefeitura que reúne um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) para viciados em álcool e outras drogas, dois abrigos (um para crianças e adolescentes, outro para homens adultos), uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e um centro de convivência.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), porém, disse na manhã desta quarta-feira (19) que não foi informado sobre a intenção de levar o fluxo da cracolândia para o Complexo Prates. Ele ressaltou que a concentração de dependentes químicos tem uma dinâmica própria e que cabe ao poder público oferecer tratamento a quem está no fluxo.
Segundo Tarcísio, a intenção é que censo dos frequentadores ajude não só na separação de traficantes e usuários, que seriam levados para o novo endereço, mas também em outras medidas para retirar as pessoas de lá. O governo também quer que pessoas com famílias em outras cidades paulistas e de outros estados sejam levadas de volta para casa. Os familiares serão procurados com base na pesquisa no fluxo.
“Aos poucos, vamos fazer esse movimento. A gente tem que ter paciência, tem efeito colateral, o pessoal vai querer voltar, vai ter balbúrdia. Vamos ter que organizar, vamos ter que ocupar e não deixar o pessoal [da cracolândia] voltar”, disse o governador nesta segunda.
Tarcísio retratou o perfilamento dos frequentadores da cracolândia como uma iniciativa inédita, com a intenção de que a abordagem seja individualizada. Ele diz que o censo pode, por exemplo, identificar pessoas que estejam em progressão de pena no sistema penitenciário, que possam ser internados voluntariamente ou até compulsoriamente.
O governo estadual tem discutido com o Judiciário e o Ministério Público uma estratégia que permita levar pessoas com dependência química grave e que não tenham contatos de parentes a serem internadas contra a própria vontade. “Para aqueles que não têm outra opção, eu tenho que cuidar da vida dessa pessoa e pode ser que eu tenha sucesso lá na frente, eu vou recuperar alguém que a gente internou contra a própria vontade”, disse o governador.
O secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite, ressaltou que a estratégia de mudança de local pressupõe uma separação dos fornecedores da droga e dos usuários. Ele disse que uma operação na semana passada prendeu 16 pessoas, inclusive dois homens apontados como lideranças do tráfico na região de Campos Elíseos e Santa Efigênia.
Já o prefeito da capital afirmou que o assunto não foi discutido em nenhuma das reuniões periódicas entre governo estadual e prefeitura sobre a cracolândia. “Não foi falado comigo”, disse Nunes.
“O que eu entendo é que o governo do estado deva ter falado de fazer não a remoção da cracolândia, mas talvez fazer um direcionamento para atendimento público”, completou.
Há cerca de dez dias, usuários de drogas foram levados, sob escolta da polícia e de guardas-civis metropolitanos, da Santa Efigênia para o espaço embaixo do viaduto Orestes Quércia, no Bom Retiro. Eles voltaram para a área que ocupavam antes horas depois.
Com mostrou a Folha, equipes das polícias Civil e Militar que atuam na região central foram comunicadas pelo governo estadual dois dias antes que participariam da operação policial. A operação foi organizada para que as equipes policiais evitassem a reocupação pelos usuários de pontos já recuperados, como o entorno da praça Júlio Prestes, endereço da cracolândia por mais de 30 anos e hoje ocupado por torres residenciais.
Nunes negou envolvimento da gestão municipal, e disse que o movimento da Santa Efigênia para o havia sido espontâneo.
TULIO KRUSE / Folhapress