BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Com o respaldo de Lula, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, reafirmou o compromisso do partido de apoiar candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo em 2024.
Em um recado ao grupo de petistas contrário ao nome de Boulos, Gleisi afirma que “tergiversações agora só ajudam o atual prefeito [Ricardo Nunes] candidato à reeleição” e a direita.
Na reunião do grupo de trabalho eleitoral do partido do dia 27 de junho, Gleisi foi questionada sobre a solidez do acordo com Boulos e também sobre os acertos em prol da reeleição dos prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PSD), e do Recife, João Campos (PSB).
Nessa reunião, descrita como dura, Gleisi lembrou ter acompanhado a construção do pacto pelo qual Boulos abriu mão da disputa ao Palácio dos Bandeirantes no ano passado, em favor da candidatura do hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Além do próprio Haddad, esse acerto foi avalizado por Lula, à época candidato à Presidência da República. Em nenhuma outra cidade a articulação de aliança para sucessão municipal está tão avançada.
“Esse acordo foi amplamente publicitado. Ninguém, nenhum dirigente do partido se levantou contra. Agora vêm questionar? Esse tipo de questionamento, tergiversação, só serve ao atual prefeito, que é candidato à reeleição. Serve à direita”, diz Gleisi, ressaltando que Ricardo Nunes é candidato dos bolsonaristas.
Para Gleisi, essa é uma oportunidade de reversão do quadro em que a direita está dominando. Ainda segundo ela, o PT não tem nome natural para a disputa. “Não tem outro nome que tenha a estatura do Boulos para disputar.”
“Não podemos esquecer que nós vamos disputar com o prefeito que está apoiado pelo Bolsonaro e temos um governador [Tarcísio de Freitas, do Republicanos] apoiadíssimo pelo Bolsonaro, inclusive pré-candidato a Presidente da República. Então, nós temos que ter juízo”, diz.
Os questionamentos ao acordo são encabeçados pelo secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, pelo secretário de Relações Internacionais, Romênio Pereira, e pelo deputado federal Washington Quaquá (RJ), vice-presidente da sigla.
Segundo participantes, nessas reuniões, Tatto não esconde ressentimento com o papel de dirigentes do PT nas eleições de 2020, quando não chegou a 9% dos votos na corrida pela Prefeitura de São Paulo.
Ele se queixaria de abandono e traição pelo presidente Lula e até mesmo Gleisi. Também responsabilizaria a atual presidente do PT pelo vazamento da convocação de uma reunião com o intuito de convencê-lo a desistir da disputa já no primeiro turno –o que a presidente do partido sempre negou.
Quanto a Lula, a reclamação se refere ao fato de ele ter manifestado simpatia à candidatura de Boulos no momento do voto, em São Bernardo do Campo.
Procurado, Tatto disse à reportagem, porém, que o PT o apoiou de forma coerente até o fim.
“Fizemos uma grande bancada de vereadores em uma eleição muito difícil para nosso partido em todo Brasil. Lula não só me apoiou como esteve em meu programa de TV, só no meu inclusive. Evidente que ele respeita o Boulos e o apoiou no segundo turno. Até penso que Boulos usou pouco a imagem de Lula e Haddad no segundo turno, e ambos ganharam na capital em 22”, disse.
Sobre as eleições de 2024, o secretário de comunicação do PT diz que o partido “está debatendo o tema na capital, e, em diálogo com a direção nacional, deve se pronunciar na sequência”. “Importante é compreender que o PT é um partido muito grande, com histórico de diferenças internas e, mesmo assim, muita união na hora de disputar os votos.”
Ao falar sobre as sequelas da disputa municipal de 2020, Gleisi afirma que são águas passadas e defende o fortalecimento do campo político para as eleições do ano que vem.
Para Quaquá, no entanto, a aliança com Boulos é prejudicial ao PT. Nas reuniões, ele chega a afirmar que uma candidatura de direita provocaria menos danos ao partido. “Acho o apoio ao Boulos ruim para o PT”, disse à reportagem.
Outro integrante desse grupo, Romênio lembra nas reuniões que o PSOL, partido de Boulos, não apoiou a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, não sendo um aliado fiel.
Para rebater esse argumento, Gleisi diz que foi uma única votação. Procurado pela reportagem, Romênio não se manifestou.
Na semana passada, Lula recebeu Boulos no Palácio do Planalto. Em agosto, o pré-candidato do PSOL participará de reuniões com dirigentes petistas, em alguns casos acompanhado pela própria Gleisi.
CATIA SEABRA / Folhapress