NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O filme “Oppenheimer” começa com gotas de chuva. A tela mostra elas pingando no chão e formando circunferências, perfeitas como só a natureza pode fazer. De repente, vemos o rosto do ator Cillian Murphy em proximidade, enquadrado de baixo para cima e com olhar aterrorizado. Ele vê a chuva, mas ali, na sala de cinema, a sensação é de que ele encara o espectador, atônito com o tamanho daquela face.
Justiça seja feita, qualquer filmagem impressiona no cinema Imax de Lincoln Square, em Nova York. A tela da sala, no alto do prédio da AMC, é do tamanho de um prédio de seis andares.
Mas o caso do filme de Christopher Nolan é diferente. Ele desconcerta o público pela projeção usada para iluminar aquela sala escura. Uma experiência para poucos, mesmo com o longa prestes a estrear em todo lugar.
A sala, hoje a segunda maior tela do planeta, é uma das 30 no mundo que passam “Oppenheimer” em Imax 70 mm. O filme foi pensado para o formato, que aproveita toda a capacidade dos projetores em película da Imax Corporation.
A empresa investe no que define como as experiências mais imersivas de cinema, e se tornou o padrão ouro do circuito. Eles até fabricam câmeras para ajudar os diretores no produto final, exibido em suas salas.
A diferença para as exibições tradicionais não é a escala, e sim o espaço de cena. Com altura de 70 milímetros, o enquadramento ganha alguns centímetros de altura -que viram metros na tela- e, com isso, o filme ganha dimensão de quilômetros. É como se a tela crescesse para cima e encurtasse as laterais, que permanecem onde estão.
Assim, o formato é ideal para cenas grandiosas, que usam e abusam da profundidade de campo extra. Christopher Nolan, que filma com as câmeras Imax desde “O Cavaleiro das Trevas”, em 2008, fez isso à exaustão. O avistamento de planetas em “Interestelar”, de 2014, ou de soldados britânicos na praia em “Dunkirk”, de 2017, foram pensados para a projeção em 70 mm.
O barato de “Oppenheimer” é outro, porém. Segundo Nolan, ele e o diretor de fotografia, Hoyte van Hoytema, viram no filme a chance de aproveitar essa escala para algo íntimo.
“A gente queria usar o formato em extrema proximidade do elenco, colando a câmera no rosto do ator”, afirma. “Na prática, a imersão da imagem é tamanha que permite que a tela desapareça e a gente mergulhe na cabeça dos personagens.”
O nível de detalhe desses momentos -e nesse estilo- impressiona. Em especial na projeção em filme analógico, outra diferença do formato para as exibições padrões em digital, que dá mais textura às cenas. A certa altura de “Oppenheimer” em Imax 70mm, por exemplo, o público vê em detalhes os pelos faciais raspados da boca da atriz Florence Pugh.
A questão, de novo, é a disponibilidade. Apenas 30 salas de cinema espalhadas em cinco países acomodam esse tipo de projeção. O Brasil não é um deles, e o cinema mais próximo do país é na cidade de San Antonio, no sul dos Estados Unidos.
Nolan diz ter consciência das limitações, e garante que o filme foi pensado para fora dessas salas. Segundo ele, o segredo está nas próprias gravações no formato, que facilitam a conversão para o digital.
“A resolução das filmagens tem o máximo de informação que a imagem pode transmitir”, diz o cineasta. “Quando você as converte a outros formatos, das projeções digitais tradicionais até a cópia para celulares, você garante a melhor imagem possível.”
Ou seja, “Oppenheimer” pode ser visto em todos os tipos de sessões, da maior tela de cinema do planeta ao menor dos celulares.
O jornalista viajou a Nova York a convite da Universal Pictures
OPPENHEIMER
Quando Estreia nesta quinta (20) nos cinemas
Classificação 16 anos
Elenco Cillian Murphy, Robert Downey Jr. e Emily Blunt
Produção Estados Unidos, 2023
Direção Christopher Nolan
PEDRO STRAZZA / Folhapress