SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O consórcio responsável pela construção da linha 6-laranja do metrô de São Paulo retomou, nesta terça-feira (18), as escavações para resgate arqueológico da futura estação Praça 14 Bis, no Bixiga, região central de São Paulo, após autorização do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
No canteiro de obras foram encontradas cerca de 4.000 peças supostamente de origem do quilombo Saracura, o que fez o instituto a determinar a paralisação das escavações na área após fortes chuvas em 7 de fevereiro -que provocaram instabilidade geológica no terreno-, para garantir a segurança.
Também houve ação do coletivo Mobiliza Saracura Vai-Vai levada ao Iphan, pedindo a paralisação das escavações até que fosse realizada uma avaliação do solo.
Em maio, o Ministério Público Federal realizou uma perícia nas obras da futura estação.
Entre as peças encontradas no canteiro de obras estão louças, cerâmicas, metais e peças de vestuário e couro, como calçados, supostamente de origem do quilombo Saracura.
A obra da da linha 6 é de responsabilidade do consórcio Linha Uni, que tem a espanhola Acciona à frente, em uma parceria público-privada com o governo paulista.
Parte da estação está sendo construída onde era a escola de samba Vai-Vai, maior campeã do Carnaval de São Paulo. A área foi desapropriada em 2021, e a agremiação, até hoje, não conta com uma nova sede.
A liberação ocorreu após fiscalização do Iphan coordenada pelas arqueólogas Gladys Mary Santos Sales e Marina Teixeira Figueiredo no último dia 7.
Na fiscalização, as técnicas analisaram as obras de engenharia para a contenção geológica consideradas imprescindíveis para a continuidade das pesquisas arqueológicas no sítio Saracura 14 Bis, conforme consta no documento que autorizou o salvamento arqueológico, ou seja, a retomada dos trabalhos que haviam sido paralisados.
A Linha Uni não informou se haverá atrasos na conclusão da estação, a mais atrasada entre as 15 da linha 6-laranja, que estão sendo construídas simultaneamente.
A previsão era de entregar a linha toda em 2025, mas em maio passado o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) admitiu a possibilidade de apenas parte da obras ser inaugurada de início, e em 2026.
Segundo o consórcio, as primeiras peças foram encontradas em abril de 2022, a cerca de 3 metros de profundidade, o que levou à necessidade de elaboração de um projeto de pesquisa, autorizado pelo Iphan. Foi contratada a empresa A Lasca, especializada em arqueologia, para retirada e análise dos objetos encontrados.
“Nesta etapa [iniciada terça], além de dar continuidade à escavação na área do sítio, o avanço da pesquisa arqueológica permitirá conhecer melhor a materialidade histórica de uma das ocupações mais antigas de São Paulo, que foi soterrada por conta da urbanização da cidade”, afirma a arqueóloga Lúcia Juliani, da A Lasca.
Em documento enviado ao Iphan, com data desta terça-feira, a empresa de arqueologia afirmou que nos trabalhos retomados haverá remoção de sedimento e da cobertura de manta geotêxtil inserida para proteção da primeira área de escavação do sítio e da camada superficial da segunda área de escavação.
“Ambos os procedimentos serão realizados com o uso de maquinário e supervisão do arqueólogo coordenador do resgate”, afirma.
Assim que o solo for exposto, os arqueólogos darão continuidade aos trabalhos de escavação.
Segundo a A Lasca, foram realizadas mais de dez vistorias por representantes do Iphan ao canteiro de obras da futura estação 14 Bis e à área de escavação do sítio arqueológico.
No parecer técnico do último dia 7, o Iphan disse que como a área da estação é densamente urbanizada, com solo altamente conturbado, há a necessidade de vistorias frequentes ou mensais, sem aviso prévio.
Conforme a empresa de arqueologia contratada, desde o início das obras da linha, 11 sítios arqueológicos foram cadastrados.
Lançada em 2008, a linha 6-laranja foi prometida inicialmente para 2012. O ramal ligará a Brasilândia, na zona norte, à estação São Joaquim, no centro, onde haverá interligação com a linha 1-azul.
A expectativa é que a linha, quando totalmente inaugurada, transporte cerca de 630 mil passageiros por dia.
No mês passado, a passagem do tatuzão que perfura o trecho norte da linha, provocou a interdição de trecho da avenida Miguel Conejo, na Freguesia do Ó, por causa do afundamento do solo. A Acciona disse na época que a medida era preventiva.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress