SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Agentes dos EUA que trabalham na fronteira com o México foram instruídos a empurrar crianças migrantes ao Rio Grande, que divide os países, além de negar água para pessoas que tentam entrar no território americano de forma ilegal, segundo emails obtidos pelo jornal britânico The Guardian.
Em mensagem enviada a supervisores, o policial Nicholas Wingate, do Departamento de Segurança Pública do Texas, denuncia o que chama de ações “desumanas” na fronteira e pede mudanças nas políticas para os migrantes. O caso foi primeiro revelado pelo jornal americano Houston Chronicle.
O agente narra situações que aconteceram na semana de 24 de junho a 1º de julho. No dia 25, por exemplo, os policiais encontraram um grupo de 120 pessoas tentando cruzar o rio, incluindo crianças e bebês de colo. Eles estavam exaustos e com fome, segundo o relato, mas o comandante ordenou que os agentes da patrulha “empurrassem as pessoas na água, de volta para o México”.
No dia 30, os policiais encontraram uma menina de quatro anos que desmaiou devido ao calor de 38ºC. Ela e o grupo que a acompanhava também foram empurrados para o rio. No mesmo dia, Wingate relata que uma migrante grávida ficou presa em uma cerca de arame farpado e teve um aborto espontâneo.
No email, o policial pede a retirada de algumas das cercas e mudanças na conduta dos agentes. “O fio […] não passa de uma armadilha desumana em águas altas e com baixa visibilidade”, escreveu. “Devido ao calor extremo, a ordem para não dar água às pessoas também precisa ser revertida imediatamente”.
“Acredito que ultrapassamos a linha do desumano”, acrescenta Wingate no email.
Travis Considine, porta-voz do Departamento de Segurança do Texas, afirmou que as alegações do funcionário estavam sob investigação. Ele negou que o departamento tenha como política rejeitar água para os migrantes ou empurrar as pessoas ao rio. Já Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, disse à agência de notícias Associated Press que, se verdadeiro, o relato configura ações “horríveis” e “perigosas”.
“Estamos falando sobre valores fundamentais do nosso país, e a indecência humana que estamos vendo”, disse Jean-Pierre. “Se isso for verdade, está completamente, completamente errado.”
Só no ano passado, 2,6 milhões de pessoas foram flagradas atravessando para os EUA de maneira irregular pelo México, número sem precedentes na história americana recente. O fluxo é formado quase totalmente por migrantes que fogem da crise na América Latina após a pandemia, acentuada em regiões que já viviam emergências humanitárias, caso de Venezuela, Haiti e outras áreas dominadas por grupos criminosos na América Central.
Em maio, o fim da vigência do Título 42 fez crescer o temor de uma escalada na crise, com expectativa de aumento no fluxo de migrantes. A regra havia sido implementada pelo governo Donald Trump, sob a justificativa de crise sanitária na pandemia, e mantida pelo governo de Joe Biden.
Em sentido oposto ao esperado principalmente por parlamentares republicanos, porém, o mês de junho registrou queda no número de migrantes flagrados em travessias ilegais 211.575 pessoas foram abordadas pelos agentes, o segundo menor número do ano, segundo dados da CBP (Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, na sigla em inglês).
Redação / Folhapress