Se estivesse viva, Jovelina Pérola Negra estaria completando 79 anos neste 21 de julho.
Um dos grandes nomes do nosso samba, a cantora e compositora carioca tem uma contribuição imensa na história da cultura e da música afro-brasileira.
E, para homenagear a aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.
Nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, em 1944, Jovelina Pérola Negra escutou muito Clementina de Jesus e herdou dela o estilo de cantar e de defender a sua música. Clementina deixou um grande legado no resgate dos cantos negros tradicionais e na popularização do samba, além de ser vista como um importante elo entre a cultura do Brasil e da África.
Assim como sua ídola, Jovelina também trabalhou como doméstica e lavadeira, antes de fazer sucesso no mundo artístico.
Pastora do Império Serrano, no início da década de 1980 – ao lado de Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Fundo de Quintal, entre muitos outros – , Jovelina Pérola Negra participou do Pagode da Tamarineira, do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos. Dessa geração de sambistas, surgiu o que se convencionou chamar “Pagode carioca”, com tradição musical mais ligada ao partido-alto.
Fã também de Bezerra da Silva, Jovelina começou a cantar seus pagodes no Vegas Sport Clube, levada pelo amigo Dejalmir, que também lançou o nome Jovelina Pérola Negra, em homenagem à sua cor reluzente.
Em 1985, ao lado de Zeca Pagodinho, Mauro Diniz, Pedrinho da Flor e Elaine Machado, participou da coletânea Raça Brasileira, na qual interpretou duas composições que viriam a ser seus primeiros sucessos: Bagaço da Laranja (de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho), cantada em dueto com Zeca Pagodinho; e Feirinha da Pavuna, composição de sua autoria. O primeiro disco solo veio no mesmo ano.
Com seu canto forte, gravou cinco álbuns individuais, conquistando um Disco de Platina. Outros grandes sucessos foram na voz da sambista foram: Luz do Repente (de Arlindo Cruz, Franco e Marquinho PQD), No Mesmo Manto (de Beto Correia e Lúcio Curvello) e Garota Zona Sul (de Guará).
O estilo muito pessoal conquistou muitos fãs no meio artístico, levando até mesmo Maria Bethânia a uma apresentação no Terreirão do Samba, na Praça Onze de Junho, de onde a diva da música popular brasileira só saiu depois de ouvir “dona Jove versar”.
Apesar da imensidão de sua voz e de seu legado para a música negra brasileira, Jovelina Pérola Negra era grande demais para um Brasil tomado pelo racismo estrutural e pela intolerância religiosa. Seu sucesso chegou tardiamente e ela não realizou o sonho de “ganhar muito dinheiro e dar aos filhos tudo o que não teve”.
Ela faleceu muito cedo – novembro de 1998, após sofrer um infarto, aos 54 anos – mas não sem antes influenciar uma gama de artistas brasileiros, que hoje celebram a importância gigantesca de sua presença na nossa cultura e para o nosso povo.
Dos seus três filhos, a filha do meio, Cassiana, também seguiu carreira como cantora. Mas Jovelina Pérola Negra também é tia do cantor, ator e compositor Seu Jorge.
Alcione homenageou a Pérola Negra no seu disco Profissão Cantora, de 1995. A faixa 4 do disco é um pot-pourri com os sucessos de Jovelina: Sorriso Aberto (Guará); Liberdade Plena (Beto Correia e Lúcio Curvello); Luz do Repente (Arlindo Cruz, Franco e Marquinho PQD); Menina Você Bebeu (Beto Sem Braço, Arlindo Cruz e Acyr Marques) e Bagaço da Laranja (Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz).
Em janeiro de 2012 foi inaugurada a Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Praça Ênio, no centro de Pavuna, Rio de Janeiro, bairro onde a artista morou. Com mais de 1600 metros quadrado e três andares, o espaço cultural contém em suas instalações oficinas educativas e colônia de férias para crianças carentes, além de salas para exibição de cinema, teatro e shows.
Entre os inúmeros sucessos compostos por Jovelina Pérola Negra, escolhemos contar as histórias do maior de seus clássicos: Feirinha da Pavuna.
Feirinha da Pavuna
A Feirinha da Pavuna acontece há mais de 50 anos na saída das estações de trem e metrô da Pavuna, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e se estende até o centro do município de São João de Meriti, cidade vizinha.
Funciona todos os dias da semana e é um local que moradores da região frequentam cotidianamente para abastecer suas despensas e passear. A Feirinha é um centro estratégico de distribuição de mercadorias aos moradores da região, mas também aos usuários dos serviços de trens, ônibus, vans e metrôs da localidade.
Da mesma forma que representa um dos mais expressivos espaços de comércio popular do município, proporciona um importante local de sociabilidade entre os clientes. Conta com uma variedade enorme de produtos, que vão desde frutas e legumes até vestimentas, produtos de limpeza, serviços de corte de cabelo, reparo de eletrônicos e afins.
Jovelina Pérola Negra compôs o samba Feirinha da Pavuna (Confusão de Legumes), após presenciar uma briga na feira, enquanto passava pelo local na década de 1980. A música foi lançada em 1985, no já citado álbum Raça Brasileira.
A Feirinha da Pavuna foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da cidade, em 2014. Orgulho de muitos trabalhadores locais, que diariamente sustentam suas famílias a partir de suas vendas, a feira só teve esse reconhecimento histórico após uma forte campanha nas redes sociais, mobilizada a partir da Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, aparelho cultural popular e público mantido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, na Pavuna.
Feira da Pavuna depois foi gravada por outros grandes nomes do samba como Zeca Pagodinho, Alcione, Leci Brandão e Dudu Nobre.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos a aniversariante Jovelina Pérola Negra.