Com 17 casos confirmados em três Estados, o Ministério da Saúde realiza neste sábado o dia D de vacinação contra o sarampo. Serão aplicadas também vacinas contra a gripe e contra outras doenças para ampliar a cobertura vacinal, que tem caído nos últimos anos. O sarampo preocupa porque era uma doença que estava praticamente erradicada no país e, desde 2018, voltou e se espalhou por vários estados. Este ano, já há casos confirmados em São Paulo, Amapá e Roraima. Em outros três Estados – Bahia, Piauí e Ceará – casos suspeitos são investigados.
A campanha nacional foi dividida em duas fases: na primeira, que termina neste sábado, 30, o foco foram pessoas acima de 60 anos e trabalhadores de saúde. A segunda, que se inicia na terça-feira, 3, e vai até 3 de junho, abrange crianças de 6 meses a 5 anos incompletos e outros grupos prioritários, como gestantes, puérperas, povos indígenas, professores e pessoas com comorbidade. Entre as crianças, a meta é vacinar 95% do público-alvo, de 12,6 milhões.
Conforme o Ministério da Saúde, o objetivo é prevenir complicações decorrentes das doenças, evitar óbitos e possível pressão sobre o sistema de saúde. A meta é vacinar 12,2 milhões de crianças, 95% do público alvo de 12,9 milhões. No Brasil, entre 2018 e 2021, foram confirmados 39.342 casos de sarampo, com 40 mortes provocadas pela doença. O plano é reforçar a vacinação para, zerando os casos, recuperar o status de país livre de sarampo.
No Estado de São Paulo, foram confirmados dois casos de sarampo este ano, um na capital e outro em São Vicente, na Baixada Santista. Há ainda 45 casos em investigação, sendo 31 apenas na capital paulista, segundo a prefeitura. No ano passado, o Estado registrou 9 casos, sem óbitos, mas em 2020, foram 853 casos e uma pessoa morreu. A doença ressurgiu no Estado em 2018, com 5 casos, e teve o pico no ano seguinte, com 17.976 casos e 18 mortes.
Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, nos últimos anos, a cobertura vacinal em crianças com até 12 meses, período recomendado para o fechamento do ciclo, ficou abaixo da meta de 95%. Em 2019 foi de 91,5%, em 2020 caiu para 85%, e no ano passado, de 67% – a queda é atribuída à pandemia de covid-19. Além de ser altamente transmissível, o sarampo pode evoluir para casos graves e ocasionar complicações sérias, como pneumonia, encefalite e óbito.
Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
Multivacinação
Na capital paulista, este sábado será dia de multivacinação, com foco em crianças e adolescentes menores de 15 anos, segundo a Prefeitura. Serão oferecidos 16 tipos de vacina que protegem contra cerca de 20 doenças, incluindo a tríplice viral, contra sarampo, caxumba e rubéola. “Quem está com as vacinas desatualizadas coloca em risco a própria saúde e a de outras pessoas. Manter a carteira de vacinação em dia é importante não só para crianças e adolescentes, como para toda a sociedade, já que evita a disseminação de doenças e internações”, disse o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco.
São Paulo abre todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) das 8h às 17h, e as Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs)/UBS Integradas das 7h às 19 h. A vacina contra a covid-19 também estará disponível nas unidades, embora não se recomende a aplicação simultânea dessa vacina e a do sarampo para crianças entre 5 e 11 anos. Desde 4 de abril, o município aplicou 59.442 doses de vacinas contra o sarampo.
O Estado do Amapá lidera o ranking de sarampo no país este ano. Já são 14 casos positivos e 33 suspeitos, segundo a Secretaria da Saúde. Em Macapá, dez pessoas pegaram a doença. Os outros casos são dos municípios de Mazagão e Santana, com dois cada. “Estamos oferecendo a vacina tríplice viral em todos os postos, pois temos necessidade de avançar na cobertura vacinal e proteger principalmente as crianças”, disse a coordenadora da Unidade de Imunobiológicos do Estado, Angélica Oliveira.
Nesta quinta-feira, 28, a Secretaria Estadual de Saúde de Roraima confirmou um caso positivo de sarampo em um bebê de um ano e um mês de idade. A pasta emitiu alerta para que os municípios do Estado reforcem as ações contra a doença. Segundo a coordenadora de Vigilância em Saúde, Valdirene Oliveira, a notificação do caso foi feita em 25 de março e agora saíram os resultados dos exames. A família do paciente não possui histórico de viagem para fora do estado.
Suspeitos
Além de São Paulo, casos suspeitos de sarampo estão sendo investigados em Estados que ainda não registraram a doença este ano. No Ceará, até 27 de abril, foram notificados 23 casos suspeitos, sendo 16 descartados e sete em investigação. Por causa das suspeitas, a campanha de vacinação das crianças, que deveria começar dia 2 de maio, foi antecipada para o último dia 20.
A Bahia notificou 36 casos suspeitos este ano, mas desses 21 já foram descartados. Os outros 15 estão em investigação. No ano passado, o Estado não registrou casos positivos de sarampo. No Piauí, a Secretaria da Saúde monitora dois casos suspeitos, entre eles o de uma criança de dois anos. O Estado tem cobertura vacinal de 70%, mas na capital, Teresina, o índice é de 40%.
Em outros Estados, a preocupação é com a baixa adesão à vacinação. Em Santa Catarina, o grupo de trabalhadores da saúde tinha vacinado, até quinta-feira, 28, apenas 30% do público alvo. Em Minas Gerais, a vacinação de crianças iniciada no dia 4 de abril, atingia apenas 14% das crianças previstas. Já entre os trabalhadores da saúde, o índice estava em 24%.
A adesão às vacinas vem caindo nos últimos dez anos no país. Embora o índice ideal de imunização seja acima de 90%, as taxas gerais têm ficado abaixo desse valor desde 2012, chegando a 50,4% em 2016, segundo o Datasus, sistema de dados do Ministério da Saúde. Em 2021, a porcentagem foi de 60,7%.
De acordo com o médico Gustavo Furtado, infectologista do HCor, as vacinas continuam sendo a melhor maneira de prevenir as doenças virais, como o sarampo, que podem deixar sequelas e até causar mortes. “O Programa Nacional de Imunização foi um grande avanço no controle das endemias no Brasil e não podemos retroceder. É muito importante que as pessoas sigam o calendário de vacinação. Recentemente, vimos o impacto da vacina no controle da pandemia”, disse o médico.
Agência Estado