SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto o PL se digladia e ameaça uma divisão irreconciliável, um dos seus nomes mais conhecidos se mantém alheio e se manifesta apenas publicando piadas sem relação com a política nas redes sociais.
Veterano do PL e antigo fenômeno eleitoral do partido, o deputado federal Tiririca tem permanecido afastado do racha na legenda protagonizado por bolsonaristas e parlamentares que ensaiam aproximação com o governo Lula (PT).
Tiririca votou com a minoria do partido que apoiou os principais projetos do governo petista neste ano: a Reforma Tributária e o arcabouço fiscal. As duas propostas sofreram forte oposição da ala do PL alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Questionado pela reportagem por meio de sua assessoria, Tiririca não falou sobre seu posicionamento na crise do PL nem respondeu a pedidos de entrevista.
Em suas redes sociais, onde tem 6 milhões de seguidores só no Instagram, ele publica apenas vídeos de humor, como piadas de duplo sentido, e promove suas atividades de comediante e artista. Não fala sobre o andamento dos trabalhos na Câmara nem de seu dia a dia no Congresso.
Nos comentários de publicações mais recentes, foi atacado por apoiadores de Bolsonaro por causa do voto a favor da reforma.
O deputado tampouco tem se manifestado na Câmara. O site da Casa informa que a última vez que ele se pronunciou no plenário foi em 2018, ao homenagear brevemente o Dia do Circo.
Tiririca, que é cearense mas tem sido eleito por São Paulo, só integra nesta legislatura uma comissão, a de Cultura.
O deputado entrou na política pelas mãos do mandachuva do PL, Valdemar Costa Neto, na época em que a sigla ainda era aliada do PT. Nunca trocou de partido.
Em meio ao racha do PL, Valdemar tem tentado apaziguar a situação e diz que há liberdade de opinião para cada deputado votar “no que for melhor” para quem o elegeu em pautas sobre economia.
Mas decidiu expulsar um parlamentar licenciado, Yury do Paredão (CE), que apareceu em foto fazendo gesto de “L”, em homenagem a Lula.
A crise no PL começou ainda antes da aprovação da reforma, no início do mês, quando Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foram a uma reunião do partido na qual o tema foi discutido. O ex-presidente pediu união contra a proposta, e participantes vaiaram quando Tarcísio tentou defendê-la.
Dias depois, em um grupo de WhatsApp, deputados trocaram ofensas. Samuel Viana (MG), que votou a favor da reforma, chamou o comportamento de colegas de “canibalismo político”. Carlos Jordy (RJ) falou que aqueles que não aceitam sua posição “devem sair do partido”.
O episódio levantou dúvidas no meio político sobre a hipótese de a sigla virar um “novo PSL”, em referência à legenda pela qual Bolsonaro se elegeu em 2018 e que viveu uma grande disputa interna logo no primeiro ano daquele governo. O PSL acabou se fundindo com o DEM para formar a atual União Brasil.
A bancada do PL é a maior da Câmara, com 99 deputados. Vinte deles foram a favor da reforma defendida pelo governo Lula.
Na bancada, Tiririca, 58, é um dos mais antigos, em seu quarto mandato.
A votação do parlamentar, porém, despencou desde que foi o deputado mais votado do país, há 13 anos, em uma das maiores votações da história. Dos 1,3 milhão de votos em 2010, obteve apenas 71,7 mil no ano passado, conseguindo renovar o mandato apenas graças ao quociente de seu partido. Foi o eleito menos votado em São Paulo –ele concordou em ceder seu número de candidato, usado em campanhas anteriores, para o colega Eduardo Bolsonaro.
Na primeira eleição, quando foi o puxador de votos da legenda aproveitando a fama de sua carreira na TV, ficou marcado com o bordão apresentado no horário eleitoral: “Pior do que tá não fica”.
Redação / Folhapress