Mulheres incendeiam casa de suspeito após crime sexual revoltar Índia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dezenas de mulheres incendiaram a casa do principal suspeito de um caso de agressão sexual em Manipur, na Índia. O crime de estupro, ocorrido em maio, enfureceu a população e chamou a atenção das autoridades para um conflito étnico intensificado há três meses.

O suspeito é acusado de arrastar duas mulheres pelas ruas e de incitar uma multidão a estuprá-las, segundo investigações da polícia e relatos de testemunhas. O crime provocou revolta nacional após um vídeo viralizar nesta semana, o que desencadeou uma onda de protestos.

O homem foi preso nesta quinta-feira (20), após o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, descrever o ataque como “uma vergonha para qualquer sociedade civilizada” e prometer ações duras. Três outros suspeitos também foram detidos, e a polícia rastreia pelo menos 30 pessoas envolvidas no crime.

“Entendemos a raiva, mas pedimos às mulheres que protestem de forma pacífica, pois há um intenso mal-estar”, disse Hemant Pandey, oficial da polícia na capital do estado, Imphal, após o ataque.

A agressão sexual foi relatada pelas vítimas em maio, depois que confrontos étnicos se intensificaram em Manipur. Os conflitos começaram após uma decisão judicial determinar a extensão de direitos à população majoritária meitei que os kukis, etnia minoritária, haviam ganhado do Estado —como uma licença especial para adquirir terrenos nas montanhas e cotas para disputar cargos públicos.

Ao menos 125 pessoas foram mortas e mais de 40 mil fugiram desde o início da onda de violência. Em maio, uma multidão armada vandalizou casas da tribo kuki e agrediu as mulheres sexualmente. As vítimas, de 21 e 19 anos, foram forçadas a andar nuas e sofreram estupros coletivos, segundo testemunhas.

A filmagem data daquele mesmo mês, mas viralizou na quarta. Nela, as mulheres caminham sem roupas enquanto homens meitei cercam a dupla, ameaçando-as e exibindo os próprios pênis. Uma das vítimas afirmou ao veículo indiano The Wire que policiais estavam presentes e nada fizeram. A multidão ainda teria assassinado o irmão de uma das mulheres quando ele tentou protegê-la.

Protestos foram organizados em várias partes da Índia por grupos que atuam em defesa dos direitos humanos. Os manifestantes exigem justiça e investigações rápidas. “Queremos saber por que a polícia falhou em agir rapidamente quando soube que mulheres foram estupradas”, disse Radhika Burman, estudante na cidade de Calcutá, no leste do país, que liderou uma manifestação nesta quinta.

Centenas de pessoas também foram às ruas na cidade de Bengaluru, no sul, e Bhubaneswar, no leste. Atos contra os agressores ainda foram registrados em universidades de todo o país. A repercussão levou Modi a se pronunciar sobre o conflito étnico pela primeira vez. “O que houve com as filhas de Manipur jamais será perdoado. A Justiça tomará as medidas mais rigorosas e avançará com toda a sua força.”

À época do ocorrido, o silêncio do líder quanto ao conflito entre kukis e meiteis foi considerado uma tentativa de abafar o caso, ocorrido em um estado governado por seu partido, o Bharatiya Janata (BJP, ou nacionalista hindu). Mesmo agora, opositores apontaram para o fato de que o premiê não abordou diretamente a violência na região ou apresentou planos para reduzi-la em sua declaração.

Os kukis exigem que o ministro-chefe do estado, N. Biren Singh, renuncie para que as tratativas de paz tenham início. O político, integrante do BJP, é acusado de inação ante a violência.

Também acusado de inação, Modi já foi apontado como cúmplice de outro episódio de violência étnica na Índia, no início dos anos 2000, quando era governador do estado de Gujarat, no início de sua vida política.

À época, tumultos entre comunidades locais deixaram mais de mil mortos, em sua maioria muçulmanos — organizações de direitos humanos, no entanto, estimam que o número de vítimas seja o dobro da cifra oficial. A violência começou após um trem com peregrinos hindus ser incendiado, matando 59 pessoas.

O caso, alvo de críticas de líderes internacionais, foi retratado em um recente documentário da rede pública britânica BBC censurado na Índia pelo governo do atual primeiro-ministro. A produção mostra, entre outras coisas, um documento da chancelaria do Reino Unido segundo o qual Modi teria pedido à polícia local para não intervir em agressões contra grupos muçulmanos.

Redação / Folhapress

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