SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Desde que assumiu a seleção brasileira feminina, Pia Sundhage, volta e meia, faz questão de enfatizar que seu trabalho tem objetivos de longo prazo que vão muito além de conquistar títulos inéditos.
A missão da treinadora sueca passa, sobretudo, pela formação de uma nova geração de talentos. Quando ela assumiu o cargo, em 2019, o elenco estava no meio de uma passagem de bastão geracional, que será completada justamente durante a Copa do Mundo na Austrália e na Nova Zelândia.
Depois da edição disputada na França, em que as brasileiras acabaram eliminadas pelas anfitriãs nas oitavas de final, o trio formado por Marta, Cristiane e Formiga, símbolos do grupo que foi vice-campeão do mundo em 2007 –até hoje o melhor resultado do país–, começou a se desfazer.
Formiga se aposentou, Cristiane deixou de ser chamada por Pia, e apenas Marta, 37, estará junto com o elenco que estreia nesta segunda-feira (24), em Adelaide, contra a debutante seleção do Panamá, às 8h (de Brasília) –Globo, SporTV, Cazé TV, ge, globoplay e Fifa+ transmitem o jogo.
Nem mesmo a Rainha tem o status de intocável de antes. A estrela perdeu espaço no time durante o período em que se recuperou de uma lesão no joelho esquerdo. Como ela voltou aos gramados poucos meses antes do Mundial, sua real condição física para a competição é uma incógnita.
Ainda que valorize a liderança e a força da presença da camisa 10, Pia trabalhou para não ficar na dependência da jogadora. Pelo contrário, a sueca fez florescer no elenco outras lideranças técnicas, e a meia-atacante Debinha é quem mais bem simboliza isso.
Habilidosa e versátil, ela foi artilheira do Brasil na Copa América, com cinco gols, ao lado de Adriana, e teve ao longo do último ano atuações que lhe renderam uma indicação ao prêmio The Best, da Fifa. Ela ficou em sexto lugar na votação promovida entre capitãs, treinadores de seleções e jornalistas especializados.
Aos 31 anos, ela demonstra gratidão por tudo o que aprendeu com Marta, Cristiane e Formiga, entre outras, e se coloca à disposição para ser ela, agora, uma referência. “Tive o privilégio de aprender com cada uma delas, e acho que venho tentando passar isso para as meninas mais novas”, diz.
Das 23 jogadoras que vão lutar pelo inédito título para o Brasil, 11 atletas vão debutar na competição. São nomes como Ary, Kerolin, Gabi Nunes, Geyse, Angelina e Bruninha, que refletem a renovação do plantel liderado por Pia Sundhage.
Em seu primeiro ciclo completo à frente da seleção, houve uma melhora significativa em relação à forma como o país chegou para o último Mundial.
Se há quatro anos as brasileiras desembarcaram na França com peso de uma fase ruim, com apenas uma vitória e nove derrotas nos dez jogos que antecederam sua estreia, desta vez há um histórico recente com mais equilíbrio. São seis vitórias, três derrotas e um empate.
Na reta final do ciclo até a Copa, o Brasil obteve bons resultados contra equipes consideradas favoritas ao título mundial, como Inglaterra e Alemanha. Na disputa da Finalíssima, confronto único que opõe as campeãs da Eurocopa e as da Copa América, as brasileiras empataram com as inglesas, 1 a 1, e só deixaram o título escapar nos pênaltis, em 6 de abril.
Cinco dias depois, o time de Pia venceu as alemãs, na casa delas, por 2 a 1. No geral, a sueca acumulou 54 partidas à frente da seleção, com 33 vitórias, 12 empates e 9 derrotas. Com ela, as jogadoras marcaram 124 gols e sofreram 40. O Brasil foi, ainda, campeão invicto da Copa América em 2022, sem sofrer gols.
Embora não esteja no grupo das seleções apontadas como favoritas ao título, a brasileira tem sido vista como uma daquelas capazes de surpreender na competição. O país não passa das quartas de final desde 2007.
O primeiro compromisso na Copa na Austrália e na Nova Zelândia pode ajudar a aumentar a confiança das brasileiras, afinal o Panamá é uma das estreantes deste Mundial, ao lado de Portugal, Marrocos, Filipinas, Irlanda, Haiti, Zâmbia e Vietnã.
As panamenhas, que chegaram à Copa do Mundo após uma repescagem contra Paraguai e Papua Nova Guiné, acreditam, no entanto, que também podem surpreender as brasileiras. “Quando nos colocam um teto, sempre tentamos ultrapassá-lo”, disse a atacante Karla Riley.
Para ela, o Brasil sempre será “a terra do futebol”, mas confia que seu grupo “fará de tudo para vencer”.
A confiança da jogadora contrasta com o histórico de sua seleção. O Panamá está entre as equipes com menos jogos disputados desde a Copa do Mundo 2019 até maio de 2023, segundo um estudo da Fifpro, o sindicato internacional dos jogadores de futebol. O país da América Central fez 35 partidas no período, sendo 18 competitivas e 17 amistosos.
Em comparação, o Brasil teve 53, sendo 11 competitivos e 42 amistosos. Os Estados Unidos lideram, com 65 partidas, 16 competitivas e 49 amistosas, números que fazem diferença no desenvolvimento das equipes.
Além de jogar menos, o Panamá não acumulou bons resultados, sobretudo em um recorte recente. Nos dez últimos jogos, venceu cinco, perdeu quatro e empatou um. As vitórias foram contra equipes de pouca expressão (Gibraltar, República Dominicana, Paraguai, Papua Nova Guiné e Chile).
As derrotas ocorreram em embates com países com mais tradição no futebol feminino, como Japão e Espanha, e ainda foram por placares elásticos. As japonesas fizeram 5 a 0, e as espanholas, 7 a 0.
Não é descabido, portanto, imaginar a seleção brasileira iniciando sua trajetória na Copa do Mundo, na segunda-feira, também com uma goleada.
Estádio: Hindmarsh, em Adelaide, na Austrália
Dia: Nesta segunda-feira (23)
Horário: 8h (horário de Brasília)
Árbitra: Cheryl Foster (País de Galés)
Transmissão: TV aberta (Globo), streamings e internet
BRASIL
Lelê; Antonia, Kathleen, Rafaelle e Tamires; Luana Bertolucci (Duda Sampaio), Ary Borges, Kerolin e Adriana; Debinha e Geyse (Bia Zaneratto). Técnica: Pia Sundhage.
PANAMÁ
Bailey; Castillo, Natis, Pinzón, Baltrip-Reyes e Jaén; Cedeño, Quintero, González e Cox; Tanner. Técnico: Ignacio Quintana.
LUCIANO TRINDADE / Folhapress