SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, passou por uma cirurgia para colocar um marca-passo neste domingo (23), às vésperas de uma votação relacionada à controversa reforma judicial da coalizão governista –projeto que mergulhou o país do Oriente Médio na mais grave crise doméstica da sua história.
No sábado (22), o líder de 73 anos foi levado às pressas para o Sheba Medical Center, perto de Tel Aviv, por causa de uma “arritmia temporária” potencialmente fatal, segundo seus médicos. O quadro foi detectado por um monitor cardíaco implantado em Netanyahu há uma semana por causa de um episódio de desidratação.
“Como podem ver, estou muito bem”, afirmou o premiê, vestindo um blazer, em um vídeo gravado no centro médico após o procedimento. Ele disse ainda que, nesta segunda (24), pretende estar presente na votação da primeira lei de um pacote de reformas judiciais –após um hiato de três meses, o avanço desse texto no Knesset, o Parlamento israelense, voltou a convulsionar as ruas do país.
Neste domingo (23), os legisladores começaram a debater novamente o projeto de lei que proíbe os tribunais de usar o “padrão de razoabilidade” para invalidar decisões do governo –texto já aprovado em uma primeira votação. A medida impacta, por exemplo, a nomeação de ministros. A expectativa é que o debate dure várias horas e o resultado da votação saia nesta segunda.
Em janeiro, a Suprema Corte usou o padrão de razoabilidade ao determinar o afastamento do então número dois do governo, Aryeh Deri, devido a uma condenação anterior por fraude fiscal –o político confessou o crime no ano passado, como parte de um acordo judicial para escapar da prisão.
Desde que a reforma foi retomada, as ruas do país voltaram a ser palco de protestos massivos. Neste domingo, centenas de manifestantes rezaram em frente ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, enquanto milhares protestaram em outros pontos empunhando bandeiras, vestindo camisetas nas quais se lia “democracia” e tocando tambores sob um sol escaldante.
“Estamos preocupados, com medo, com raiva. Estamos com raiva porque as pessoas estão tentando mudar este país, tentando criar um retrocesso democrático. Mas também estamos muito esperançosos”, disse a estudante Tzivia Guggenheim, 24, ao lado de sua barraca. Centenas de manifestantes acampam em um parque próximo ao Knesset, em Jerusalém.
Críticos da reforma afirmam que medidas como tirar do Supremo o poder de vetar leis aprovadas pelo Parlamento ou aumentar a influência do governo sobre a nomeação de juízes removeriam os contrapesos do Estado democrático. Os defensores do projeto, porém, afirmam que a reforma impõe ao Judiciário um limite necessário para restaurar o equilíbrio entre os Três Poderes.
Os protestos atraíram o apoio de seculares e religiosos, ativistas pela paz e reservistas das Forças Armadas, além de grupos de direita e de esquerda. Até mesmo os presidentes dos maiores bancos de Israel se juntaram ao coro de críticas na última sexta-feira (21). “Os investidores com os quais conversamos nos últimos meses estão muito preocupados com os últimos acontecimentos”, disse o presidente-executivo do banco Leumi, Hanan Friedman, por exemplo.
Na quinta-feira (20) à noite, Netanyahu disse que ainda tentava chegar a um acordo com a oposição.
Redação / Folhapress