SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As delegacias localizadas em Pinheiros e Perdizes, bairros nobres da zona oeste de São Paulo, registraram recorde nas ocorrências de roubo e furto, respectivamente, nos primeiros cinco meses da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Além das duas regiões, distritos policiais que cobrem áreas como Itaim Bibi, Vila Olímpia, Moema, Campo Belo e Jardins também viram seus registros de ocorrência crescerem em 2023.
Sob anonimato, um delegado relatou para a reportagem que faltam policiais para investigar integrantes de quadrilhas especializadas em atacar pedestres e motoristas em áreas nobres, o que resulta em mais criminosos nas ruas. Para ele, só vai haver melhora no quadro com o aumento do número de funcionários na Polícia Civil, responsável por apurar os crimes.
Dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) indicam uma explosão nos casos de roubos elaborados no 14º DP (Pinheiros). De janeiro a maio foram anotadas 1.426 ocorrências com o uso de armas ou mediante violência. É a maior quantidade já vista no distrito desde 2002, quando teve início a séria histórica. Em relação ao ano passado houve uma alta de 4% nos registros.
Em nota, a secretaria declarou que as atividades de policiamento serão reorientadas e intensificadas. Conforme a pasta, desde o início do ano, 293 criminosos foram presos por crimes patrimoniais em Pinheiros e Perdizes.
Ainda em Pinheiros, que concentra restaurantes e escritórios, os acionamentos por furto subiram 52% no comparativo entre os cinco primeiros meses deste ano com o mesmo período do ano anterior.
Manobrista de um restaurante, Manoel Bezerra de Fontes, 51, diz estar cansado de ver os ataques nas proximidades do metrô Fradique Coutinho. Os autores estão sempre de bicicleta e se aproveitam da ausência no policiamento para tomar celulares, segundo Fontes. O manobrista relata que, quando policiais aparecem, os bandidos somem, mas retornam assim que as viaturas se distanciam. O horário preferido é por volta das 19 horas, contou.
A reportagem percorreu a pé as ruas Mateus Grou, Fradique Coutinho, Cardeal Arcoverde, Deputado Lacerda Franco, Francisco Leitão, Joaquim Antunes e Cristiano Viana, na manhã e no início da tarde da última sexta-feira (21), e não encontrou carros da Polícia Militar ou policiais em patrulhamento a pé.
Bairro não tão distante dali, Perdizes é outra região com alta na criminalidade. O 23º DP, com sede na rua Itapicuru, nas proximidades da avenida Pacaembu, foi responsável por registrar 3.847 ocorrências de furto neste ano, a maior quantidade em duas décadas ou 11% superior ao anotado em 2022.
Por outro lado, a delegacia local registrou queda de 7% na quantidade de roubos.
TRAUMA
Ainda na zona oeste, o 15º DP (Itaim Bibi) tabulou 885 casos de roubos nos cinco primeiros meses, quantidade inferior apenas aos anos de 2004 (966 registros), 2003 (981) e 2002 (961).
Em relação aos furtos, os policiais civis que atuam no distrito computaram 2.438 ocorrências, número 65% superior ao visto em semelhante período do ano passado.
Era noite de 30 de junho quando um empresário de 33 anos e sua esposa ficaram de frente com um criminoso armado. O caso ocorreu na rua Fidencio Ramos, na Vila Olímpia, bairro que tem uma parte na circunscrição do distrito do Itaim e outra na área do 96º DP (Cidade Monções).
Segundo o homem, que pediu para não ser identificado, ele voltava a pé do shopping Vila Olímpia, onde havia ido ao teatro, quando foi abordado por ladrões em duas motos. Conforme ele narrou, uma das motocicletas ficou mais distante acompanhando o assalto, enquanto um bandido armado, que utilizava uma mochila de entregador, levou alianças do casal e seu telefone iPhone 14.
O empresário diz ter acionado à PM e apontado que o aparelho estava em Paraisópolis recebeu como resposta que o objeto já estava fora da área de cobertura do batalhão, conta.
Um boletim de ocorrência eletrônico foi realizado para formalizar o ocorrido.
Traumatizado, ele afirmou para a reportagem ter deixado de passear a pé pelo bairro.
Para o diretor de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, o combate a crimes contra o patrimônio demanda o acompanhamento da investigação.
“Há roubadores que são responsáveis por dezenas de casos na mesma área. Com alguma investigação gerariam prisão com poder de afetar fortemente os indicadores. Sem investigação não se acessa o eixo da receptação dos bens roubados, que é um eixo decisivo do crime patrimonial. Se houver dificuldade de escoar o bem roubado, dificulta-se o furto e o roubo”, afirma o especialista.
ROUBOS CRESCERAM 23% NO BROOKLIN
Assim como a zona oeste, áreas nobres da zona sul também têm visto as estatísticas aumentarem. O 27º DP (Campo Belo), que abrange o bairro de Moema, teve alta de 8% nos roubos no comparativo entre 2023 e 2022. No caso dos furtos, a alta foi de 10% de um período para o outro.
O 96º DP, que abarca ainda o bairro do Brooklin, viu os roubos passaram de 732 casos para 900 (23%) ocorrências em um ano. O distrito é responsável por apurar o ataque sofrido pelo estudante de engenharia da computação Enzo Luidge Peixoto da Silva Bozelli, 20.
Ele caminhava pela avenida Cotovia, em Moema, em direção à academia, quando foi abordado na noite de 19 de maio por um motoboy armado. O homem usava capacete e uma caixa de entregador. Bozzelli diz que o assalto demorou, uma vez que o ladrão exigiu a senha do celular. Ao verificar que o jovem havia fornecido o dado corretamente, o criminoso foi embora com um iPhone 12.
O estudante também registrou um boletim de ocorrência virtual. Segundo a pasta da Segurança, investigadores buscam imagens e outros elementos que auxiliem na identificação e localização dos autores.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress