Hostilidade a Moraes polariza redes, enquanto Barroso é alvo da direita

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto o episódio de hostilidade ao ministro Alexandre de Moraes (STF) dividiu direita e esquerda nas redes sociais, a fala de Luís Roberto Barroso em evento da UNE (União Nacional dos Estudantes) gerou engajamento praticamente apenas da direita.

A manifestação da esquerda sobre o episódio foi tímida: apenas de 7%, frente a 93% da direita.

No caso de Moraes, o debate ficou dividido. A direita ficou ligeiramente na dianteira, com 53% das menções, enquanto a esquerda representou 47% das citações, dentre os dois segmentos.

É o que mostra monitoramento feito pela Quaest, empresa de pesquisa e consultoria. Houve coleta de menções sobre os assuntos em publicações no Twitter, Instagram, Facebook, YouTube e Google, classificadas a partir de um modelo de aprendizagem de máquina.

Uma terceira fala polêmica recente, do ministro Gilmar Mendes ironizando o deputado cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), foi a que menos gerou engajamento.

Do ponto de vista de participação, no entanto, foi semelhante ao caso de Barroso, com tímido engajamento da esquerda (16%) frente às menções da direita (84%).

O levantamento dos dados ocorreu de 15 a 20 de julho no caso de Moraes e Gilmar, e de 12 a 20 de julho no episódio referente a Barroso.

Os dados indicam que as falas de ministros fora dos autos sobre a cena política, além de um alto potencial de desgaste à imagem dos integrantes do Supremo, não geram mobilização positiva à corte.

De outro lado, cenas de ataques aos magistrados continuam colocando os dois grupos políticos em oposição. O episódio com Moraes mostrou a direita buscando colocar em xeque que o ministro e sua família tenham sido vítimas do episódio, enquanto a esquerda condenou o caso.

Na noite de 12 de julho, Barroso foi criticado por falar “nós derrotamos o bolsonarismo” na abertura do Congresso da UNE, do qual participava, entre outros, o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).

Com pico no dia seguinte, quando a declaração reverberou, as menções voltaram a subir levemente em 19 de julho, quando um pedido de impeachment contra o magistrado foi apresentado por congressistas aliados de Jair Bolsonaro (PL).

Entre os três episódios envolvendo integrantes do STF, a frase foi campeã de menções nas redes –foram 668 mil frente a 199 mil sobre a hostilidade contra Moraes. Para comparação, a inelegibilidade de Bolsonaro gerou 2 milhões de menções, segundo monitoramento da Quaest.

Guilherme Russo, diretor de inteligência da Quaest, diz que a frase de Barroso veio para confirmar um pensamento consolidado pelos bolsonaristas de que o STF é um tribunal suspeito para tomar decisões envolvendo a vida do ex-presidente, e tornou-se mais uma evidência de uma perseguição a Bolsonaro.

Ele também disse que é como se o movimento de apoiadores do ex-presidente sentisse todas as suas expectativas confirmadas pela frase do magistrado, e ressaltou a dificuldade não só de Barroso e do Supremo, mas também da esquerda e da mídia como um todo de explicar a afirmação.

“A frase do ministro ‘dá pano para manga’ e tende a confirmar os bolsonaristas. Dá mais uma evidência a eles de que a corte, especialmente os ministros Barroso e Moraes, estão e atuam contra Bolsonaro”, reiterou Russo.

Enquanto a direita ganhou tração relembrando outras falas do ministro como “perdeu, mané, não amola”, dita no ano passado, para reforçar um suposto viés político do STF, a esquerda reverberou publicações destacando as explicações dadas pelo ministro e pelo tribunal. Notas oficiais afirmaram que o “nós” da declaração se referia ao voto popular, e o “bolsonarismo” era uma referência ao extremismo violento.

No caso do episódio envolvendo Moraes, as menções da direita, que inicialmente trataram o episódio como positivo, no sentido de que o ministro teria vivenciado a “fúria popular”, passaram a questionar o ocorrido.

O jurista foi hostilizado, junto de sua família, no aeroporto internacional de Roma, em 14 de julho. Segundo investigadores, um grupo proferiu expressões como “bandido”, “comunista” e “comprado” ao ministro, além de ter supostamente agredido o advogado Alexandre Barci de Moraes, 27, com um empurrão e um golpe no rosto.

Entre as narrativas que ganham força na direita estão a de acusar o filho de Moraes como agressor e de duvidar da existência de imagens de comprovação. Também o cumprimento de mandado de busca e apreensão pela Polícia Federal na casa dos acusados foi explorada.

A esquerda, por sua vez, se mobilizou ao redor do caso para demonstrar indignação e criticar os suspeitos do caso, além de acenar com apoio a Moraes.

Para Guilherme Russo, além da dificuldade de protagonizar os assuntos nas redes, a esquerda também não ganhou relevância nas discussões por acreditar ser melhor defender as pautas do governo Lula (PT) e aqueles mais próximos ao presidente.

O diretor de inteligência da Quaest ressalta a desconfiança dos apoiadores do petista ao Supremo, especialmente após a prisão de Lula, em 2018, e a sequência de decisões tomadas contra o atual presidente até sua soltura, no ano seguinte.

Dino foi um dos que se manifestaram ainda no dia 15 de julho nas redes sobre o caso.

“Até quando essa gente extremista vai agredir agentes públicos, em locais públicos, mesmo quando acompanhados de suas famílias? Comportamento criminoso de quem acha que pode fazer qualquer coisa por ter dinheiro no bolso. Querem ser “elite”, mas não tem a educação mais elementar”, escreveu.

Em relação a Gilmar Mendes, houve poucas citações, mas a distribuição da participação de direita e esquerda reforça a tese de que esse tipo de declaração não agrega engajamento positivo às imagens dos ministros.

O ministro ironizou Deltan, afirmando que o ex-procurador poderia “fundar uma igreja”. A declaração ocorreu no dia 15 em evento online do Prerrogativas, grupo de advogados crítico da Operação Lava Jato e que apoiou a candidatura de Lula ao Planalto.

Foram pouco mais de 10 mil menções no total, que ganharam maior tração após o deputado rebater a fala, acusando o magistrado de intolerância religiosa e dizendo preferir abrir uma instituição religiosa a proteger corruptos.

RENATA GALF E MATHEUS TUPINA / Folhapress

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