Fotolivro de Christian Cravo mostra as paisagens ‘pré-humanas’ da África

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagens de dunas de areia de um parque na Namíbia abrem o novo livro de Christian Cravo. Nas fotografias, não há presença humana ou animal. Só vemos montanhas infinitas do mineral ofuscadas pelo Sol. A vida aparece somente depois da sequência inicial de páginas, num close das listras do corpo de uma zebra e numa tomada aérea da migração de flamingos.

“Queria mostrar um mundo pré-humano, de antes dos jardins do Éden”, afirma o fotógrafo, de maneira metafórica, ao justificar por que dedicou seu olhar para paisagens naturais em diversos países da África nos últimos 12 anos. O resultado de suas expedições é “Reino Desse Mundo”, que Cravo lança no sábado (5), na galeria Base, em São Paulo.

São cerca de 90 imagens em preto e branco, feitas com câmeras digitais, que se valem de cortes para ressaltar seus assuntos ou deixar o leitor imaginar o que não está no quadro, como observa a crítica Ligia Canongia em texto no final do livro. Há fotos de girafas e elefantes dos quais não vemos a cabeça, e espinhos que só descobrimos ser de uma palmeira pelas legendas.

“Tem que ter poesia dentro da foto, se não ela vira jornalística. A fotografia tem que carregar o máximo de subjetivos possíveis”, afirma o artista. Algumas imagens, como as das dunas, são grandes zonas pretas e cinzas sobre o papel, quase abstrações.

Cravo afirma que nunca buscou registrar uma África geográfica, de dados enciclopédicos, porque se este fosse o caso ele teria fotografado em cor, estética que diz ser fundamental para mostrar o reino animal. Para ele, as fotos em preto e branco deixam espaço para a imaginação do espectador.

Um dos desafios do projeto era o ambiente em que fotografava. Boa parte de seu trabalho consistia em ficar sentado esperando algo acontecer. “É uma espera absurda. Você não tem controle nenhum na fotografia de natureza, por isso também [este ensaio] demorou tanto tempo”, conta.

O título do volume é uma homenagem ao livro “O Reino Deste Mundo”, ficção de realismo mágico na qual o escritor cubano Alejo Carpentier refaz a história da independência do Haiti, país onde Cravo mantém vínculos fortes, dado que fotografou por lá durante nove anos.

Quando o terremoto de 2010 assolou a nação caribenha, o artista perdeu três amigos próximos. A tragédia aconteceu pouco depois da morte de seu pai, o também fotógrafo Mario Cravo Neto, e de uma série de disputas familiares pelo controle do legado do patriarca.

As turbulências levaram Cravo a se afastar de sua tradicional linguagem, a de olhar para a natureza humana –como no seu livro de 2014 de imagens da vida em Salvador– e a se voltar para a fotografia contemplativa do meio ambiente. Era uma forma de lidar com os traumas que tinha passado, ele diz.

Depois de mostrar a natureza possível na África, Cravo se dedica agora a registrar o oposto. São locais onde o meio ambiente é sufocado sob o impacto ecológico causado pelo consumo humano, como os lixões de roupa usada no deserto do Atacama, no Chile, e também os de Gana, para onde são enviados toneladas de itens de vestuário com defeito ou de baixa qualidade vindos das redes de fast fashion da Europa, dos Estados Unidos e da China.

REINO DESSE MUNDO

Quando Lançamento dia 5 de agosto, sábado, das 11h às 16h

Onde Galeria Base – al. Franca, 1.030, São Paulo

Preço R$ 399 (208 págs.)

Autoria Christian Cravos (fotos); Ligia Canongia e Emanoel Araujo (textos)

Editora Apuena

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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