SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A habilidade das mulheres negras na cozinha é ancestral. Por anos, foi com o preparo e a venda de quitutes que elas conquistavam sua própria liberdade e a de outros escravizados. Hoje, por meio da valorização da gastronomia afro-brasileira, elas usam essa habilidade para empreender e comandar seus próprios restaurantes.
Um grupo de chefs negras vêm mudando a cena gastronômica no Brasil e levam ancestralidade e afrofuturismo à cozinha. No Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, veja algumas delas para acompanhar.
ALINE CHERMOULA
Além de chef de cozinha, é escritora, professora, pesquisadora da cozinha ancestral afro-diaspórica e proprietária da Chermoula Cultura Culinária. O sobrenome adotado pela baiana faz referência a um tempero versátil utilizado no norte da África que utiliza ervas frescas como coentro, hortelã, temperos e especiarias em sua composição. Ela também é idealizadora do projeto Xepa no Prato e dá palestras sobre alimentação ancestral e autocuidado.
ALINE GUEDES
Foi uma das participantes da terceira temporada do Mestre do Sabor, da TV Globo. Sua história na cozinha começou ainda na infância. Da periferia de São Paulo, Aline teve sua mãe, Benedita, como sua maior influência. A matriarca trabalhou como cozinheira em casa de família por 25 anos. A chef também é especializada em hábitos alimentares dos quilombos do estado de São Paulo. Hoje segue como professora do curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi.
CARMEM VIRGÍNIA
Do acarajé na porta de casa a um restaurante de sucesso na área central do Recife, ela é mais um exemplo de mulher negra que ascendeu empreendendo. Durante a pandemia, a chef se aventurou nas redes sociais para ensinar pratos saudáveis e simples para o seu público. A mídia espontânea foi a responsável por levantar fundos e impedir a falência do restaurante Altar Cozinha Ancestral Também foi o pontapé inicial para a vida de apresentadora no programa Uma Senhora Panela, do GNT. Carmem desembarcou na Vila Madalena, em São Paulo, em 2023. Seu segundo restaurante, também chamado Altar, é uma parceria com cantora Luísa Sonza e a empresária Fátima Pissara.
CIDINHA SANTIAGO
Natural de Minas Gerais, Cidinha cursou enfermagem nos anos de 1980, mas depois percebeu que gostava mesmo era de cozinhar. Em 1985, lançou seu livro “Receitas de Comidas Típicas” e se mudou para São Paulo, onde está até hoje. Especializada em fitoterapia, ela ministra aulas e dá consultoria para restaurantes. Em 2017, foi homenageada com o título de membro honorário da FIC, a Federação Italiana de Cozinheiros. Em 2021, recebeu o Prêmio Nacional Dólmã.
IEDA DE MATOS
Sua história com a gastronomia começou ainda na infância, quando acompanhava a mãe, o pai, a avó e as tias na cozinha. Eles utilizavam utensílios simples e colhiam ingredientes e temperos direto do quintal, hábitos que marcaram a memória da chef. Vinda da Bahia, Ieda chegou a São Paulo com uma tia que lhe adotou e, na capital paulista, trabalhou em diversas outras profissões até decidir realizar seu antigo sonho de viver entre panelas. Profissionalizou-se, fez estágios na Bélgica e, quando voltou ao Brasil, resolveu investir em comida de rua. Deu vida ao Bocapiu, especializado em receitas nordestinas, por três anos. Depois abriu a Casa de Ieda, para servir sabores de sua terra natal, a Chapada Diamantina.
NAIARA FARIA
Desde cedo, a mineira já frequentava os bastidores do Vecchio Sogno, restaurante de seu pai, o chef Ivo Faria. Com 14 anos de experiência, Naiara, ainda no início da carreira, estagiou em dois restaurantes na França. Um com uma estrela Michelin, o Lou Fassum, e o outro, com duas, o Le Meurin. A chef hoje comanda a cozinha do paulistano La Palma, restaurante com 10 anos de história de culinária italiana, com massas e pães artesanais.
PATTY DURÃES
Formada em relações internacionais, Patty Durães deixou o mundo corporativo para ser pesquisadora de culturas alimentares, com foco na produção alimentar das comunidades tradicionais quilombolas. Como produtora de eventos gastronômicos, há anos elabora encontros nos quais o alimento é protagonista. Como comunicadora, também atua como mediadora e mestre de cerimônias em eventos institucionais. Participou do TED e é autora do curso Muito além da boca: um passeio transatlântico pela comida afro-diaspórica no Brasil.
NADINE NASCIMENTO / Folhapress