RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Ministério Público do Rio de Janeiro apontou que o policial militar reformado Ronnie Lessa ajudou financeiramente o ex-PM Élcio de Queiroz após a prisão deles, em março de 2019.
Segundo o inquérito, Ronnie, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco, pagava os honorários do advogado e dava um auxílio financeiro à família de Élcio.
A promotoria afirma ainda que foi o próprio Ronnie quem escolheu a defesa do ex-PM. Na segunda-feira (11), após a informação de que Élcio firmou um acordo de colaboração, seu advogado deixou o caso.
O defensor, João Henrique Santana Telles, afirmou que recebia seus honorários da família de Élson, e que esta dizia que a origem do dinheiro era legal.
Élcio, assim como Ronnie, está preso suspeito pela morte da parlamentar e do motorista Anderson Gomes. Ele é apontado pelas investigações como o responsável por dirigir o carro usado no crime, que aconteceu na noite de 14 de março de 2018.
“O advogado de Élcio foi escolhido por Ronnie e era pago pelo denunciado, sendo certo que este último igualmente ficou responsável por remeter quantia em dinheiro para auxiliar na subsistência da família de Élcio”, diz o relatório do inquérito.
“Tudo com o evidente objetivo de evitar que este rompesse com os comparsas e viesse a se dissociar de Ronnie em sua tese defensiva ou, ainda, voluntariamente auxiliar a Justiça, seja confessando os fatos, seja figurando como réu colaborador”, afirma o texto.
No comunicado em que anunciou sua saída da defesa de Élson, o advogado João Henrique Santana Telles afirmou que foi “surpreendido” com a colaboração do então cliente.
Questionado se houve algum pedido de outra pessoa para que deixasse o caso, ele negou e disse que a decisão partiu de seu escritório.
“Por questões de foro íntimo, decidi deixar a defesa técnica dele, por não compactuar com o instituto da delação premiada, algo que ele [Élcio] sempre soube da minha objeção profissional a esse instituto”, afirmou ele.
“Quem me pagava era a família do senhor Élcio a mando dele, por estar privado da sua liberdade. A família dele sempre me garantiu que a procedência dos valores eram lícitos de fonte legal, agora quem dava dinheiro para a família dele, eu não tenho como dizer”, completou o defensor.
AUMENTO PATRIMONIAL E AJUDA MENSAL
Na delação, Élcio afirma que Ronnie teve um aumento patrimonial relevante após o assassinato de Marielle e Anderson. Ele conta que o policial reformado comprou, depois crime, uma lancha nova, um Dodge Ram blindado e começou a fazer a reforma em um terreno que tinha em Angra dos Reis, na Região dos Lagos.
Élcio, por sua vez, nega que tenha enriquecido. Na colaboração, ele afirmou que passou a receber, após ter sido preso, uma mesada de Lessa para ajudar a pagar os gastos de sua família e do advogado. No início, o valor desse pagamento mensal era de R$ 10 mil, mas foi diminuindo ao longo do tempo.
Quem intermediava esse pagamento, segundo Élcio, era o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, preso nas segunda-feira sob suspeita de envolvimento na morte da vereadora. De acordo com o ex-PM, Suel, como é conhecido o ex-bombeiro, parou de fazer o repasse.
“O Ronnie falava ‘faz o seguinte, uma parte paga as mensalidades do advogado e o outro fica pra você, pra te ajudar’. Mas no final o Suel parou de pagar e falou que não ia dar mais nada”, disse Élcio.
Segundo a colaboração, esse dinheiro era oriundo do chamado “gatonet” -isto é, receptações ilegais de sinais de TV que são distribuídas a moradores de um bairro mediante pagamento de taxas extras. Segundo Élcio, Ronnie e Maxwell tinha uma “sociedade” nessa prática ilícita na região de Rocha Miranda, no morro chamado Jorge Turco, zona norte do Rio.
De acordo com as investigações, a renda de Maxwell vinha do “gatonet” e não era compatível com a renda de um bombeiro. Segundo relatório de inteligência da Coaf (Conselho de Controles de Atividades Financeiras), Maxwell movimentou, entre 2014 e 2019, créditos de mais de R$ 559 mil. Porém, o órgão apontou que apenas R$ 86 mil eram provenientes de salário.
“O restante são provenientes de depósitos, transferências bancárias e operações de créditos”, diz o relatório, citado pela investigação do Ministério Público.
Já entre março de 2019 e outubro de 2010, os créditos movimentados por Maxwell somaram mais de R$ 569 mil -considerado pela investigação quase duas vezes mais do que sua renda mensal. O salário médio informado por ele na época era de R$ 5.734,83.
CAMILA ZARUR E BRUNA FANTTI / Folhapress