SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A contagem regressiva para as Olimpíadas de Paris começou. A um ano da maior competição poliesportiva do mundo, o Time Brasil vive um momento de expectativas por medalhas em modalidades que não são tradicionalmente cotadas ao pódio, como a ginástica rítmica, tênis de mesa e tiro com arco.
“Um dos objetivos do Comitê Olímpico é aumentar as possibilidades de finais e medalhas, e uma das formas de se alcançar este objetivo é com a diversidade de modalidades”, destacou Mariana Mello, gerente de planejamento e desempenho esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Somente em 2023, o Brasil conquistou bons resultados e evoluiu nos ranqueamentos mundiais e olímpicos. Veja alguns exemplos abaixo:
– Manoel Messias: se estabeleceu na elite do triatlo com boas marcas.
– Raicca Ventura: conquistou o primeiro bronze mundial no skate park feminino em maio.
– Marcus Vinicius D’Almeida: em fevereiro, ele se tornou o primeiro do Brasil a assumir a liderança do ranking mundial no tiro com arco.
– Nathalie Moellhausen: em fevereiro, conquistou pela primeira vez o ouro na Copa do Mundo de esgrima.
– Hugo Calderano: chegou ao quarto lugar no ranking mundial no tênis de mesa e está apenas atrás de três chineses.
Tal desempenho é importante, principalmente porque o ciclo olímpico é mais curto do que o normal. As Olimpíadas de Tóquio foram adiadas em um ano por causa da pandemia de Covid-19 e aconteceram somente em 2021, portanto, os atletas ficaram com três anos de preparação para os Jogos de Paris.
“O pódio é uma consequência de um trabalho de muitos anos. Entendemos que cada modalidade deve ter a meta de se superar a cada ciclo olímpico, e vemos isso acontecendo em várias. Além da ginástica rítmica, temos visto evolução em modalidades que ainda não chegaram ao pódio Olímpico, como tiro com arco, tênis de mesa, saltos ornamentais, canoagem slalom, ciclismo bmx, wrestling, entre outras”, analisou Mariana.
Entre outubro e novembro, os atletas terão oportunidade de melhorar os resultados e conquistar mais vagas olímpicas durante os Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile.
“O Pan é a maior competição deste ano e a mais importante na preparação para os Jogos Olímpicos de Paris. São 21 modalidades com classificatória olímpica, além de outras 12 que somam pontos para classificação às Olimpíadas. O trabalho vem sendo feito em conjunto pelo COB, confederações, comissões técnicas e atletas, com o objetivo de garantir o maior número possível de vagas para Paris-2024, além de manter o Brasil entre os top 3 no quadro de medalhas”, projetou Mariana.
O BOOM DA GINÁSTICA RÍTMICA
Neste ano, a ginástica rítmica do Brasil conquistou uma chuva de medalhas e bateu marcas inéditas, tanto no individual quanto no conjunto. Em abril, Bárbara Domingos fez história ao ganhar um bronze inédito na etapa de Sofia (BUL) da Copa do Mundo.
Há dez dias, as atletas brasileiras atingiram outra marca importante ao garantirem quatro medalhas pela primeira vez em uma mesma etapa de Copa do Mundo. Elas conquistaram o ouro na prova mista, prata nos cinco arcos, bronze no individual geral e bronze no individual na fita com a Babi Domingos.
Esses e outros feitos deste ano colocam a ginástica rítmica brasileira entre as cinco melhores do mundo. O UOL conversou com a técnica da delegação brasileira, Camila Ferezin, que destacou o trabalho a longo prazo que vem fazendo com a delegação para chegar ao momento atual.
Camila começou na seleção em 2011, quando o Brasil estava em 26º lugar no ranking mundial. Ao longo dos anos, a treinadora – que também foi atleta – decidiu montar com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) uma equipe interdisciplinar para trabalhar diariamente com as atletas.
“As nossas grandes referências são os países do leste europeu, e todos essas equipes têm um suporte com inúmeros profissionais. O primeiro passo que conquistei na seleção foi uma professora de balé. Hoje, já temos cerca de 20 profissionais trabalhando exclusivamente pela ginástica rítmica brasileira”, destacou Camila.
“Temos profissionais da psicologia, nutrição, médicos de esporte, fisioterapeutas, analistas de desempenho, entre outros. Toda essa equipe, que chamo de ciência do esporte, fez com que os resultados fossem aparecendo”, acrescentou.
A CBG também fez um trabalho de parceria com os clubes espalhados pelo Brasil de capacitação de treinadores de ginástica. “Compartilhamos o conhecimento sobre essa equipe interdisciplinar e promovemos reuniões semanais para que as entidades busquem o modelo da seleção”, explicou Camila.
O “ônus” de chegar ao patamar mais alto dos últimos anos é a pressão para manter os bons resultados e chegar com tudo nas Olimpíadas de Paris. E é aqui entra, além do trabalho técnico, o apoio dos psicólogos, segundo a técnica:
“Nós ficamos apreensivas no início desta temporada. Afinal, todos os outros países e até os europeus [que são os mais fortes] estão de olho no Brasil agora. É uma pressão a mais, e a psicóloga está trabalhando diariamente as emoções das meninas para aguentar essa tensão”.
BEATRIZ CESARINI / Folhapress