SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta quarta-feira (26) não ter proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que não irá forçar um apoio dele à sua reeleição em 2024.
Antes de participar de um almoço com empresários em homenagem ao ex-presidente, Nunes afirmou que, se o apoio vier, será “ótimo”. O evento serviu como uma tentativa de aliados de selar o apoio de Bolsonaro ao prefeito, o que ainda não ocorreu, mas parece próximo.
Os dois se cumprimentaram e chegaram a trocar algumas palavras, mas ambos tratam do assunto com cautela.
“Não vou forçar ninguém a me apoiar. Estou fazendo o meu trabalho, procurando tornar uma cidade melhor a cada dia e aí deixar as pessoas terem a sua decisão, de forma que elas possam colocar o coração”, disse Nunes antes de entrar no evento. “Acho que tudo tem o seu tempo. Se vier o apoio, ótimo.”
Nunes afirmou que o almoço foi um evento rotineiro, com doações beneficentes. Ele ocorreu na casa de empresários da comunidade libanesa, e a anfitriã foi Marly Mansur, da Confraria Caves. No local já ocorreram eventos com outros políticos, mas, oficialmente, tratou-se de um encontro apartidário.
Durante o almoço, ao microfone, um dos participantes pediu que o grupo apoiasse a reeleição de Nunes, descrito como um confrade. Também houve homenagens a Bolsonaro, com direito a veiculação de single de campanha do ex-presidente e gritos de “mito”.
Entre os aliados de Bolsonaro, estavam seu assessor Fábio Wajngarten e o advogado Frederick Wassef. O governador d o Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) também compareceu.
O prefeito buscou tratar o evento como algo rotineiro, não relacionado ao apoio entre os dois. “É um almoço que eu sempre venho e hoje, por coincidência, terá a presença do presidente Bolsonaro. Nem vai dar para conversar com ele aí pelo jeito”, disse Nunes.
Questionado se houve alguma sinalização de Bolsonaro sobre o apoio, o prefeito negou. “Eu acho que ele não descartou, sinalizar que seria natural, eu não vi nada dele. Eu não vou forçar, nem o próprio Tarcísio, que tenho uma relação de amizade.”
Também indagado sobre a proximidade com o ex-presidente, Nunes se esquivou e disse existir uma relação de diálogo como presidente e prefeito. “A gente tem tido um diálogo quando ele era presidente, ele na condição de presidente, eu na condição de prefeito. Eu não tenho proximidade com ele.”
Nunes afirmou ter apenas se encontrado de passagem com Bolsonaro na segunda (25), após reunião com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), para tratar de assuntos de habitação e do centro de São Paulo. “Só falei: e a tubaína, presidente, vamos marcar a tubaína”, disse.
Durante o almoço, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, demonstrou entusiasmo pela ideia do apoio de Bolsonaro a Nunes. O partido dele já faz parte do governo do prefeito paulistano.
“Nós precisamos nos unir, fazer de tudo para trazer esses votos do Bolsonaro só para somar. Porque se nós brincarmos aqui nós vamos ter o Boulos de presidente e na próxima eleição ele candidato a presidente do Brasil, com o dinheiro de São Paulo”, disse.
Valdemar ainda disse ter ficado feliz que Bolsonaro “entendeu perfeitamente” a necessidade de união.
“É evidente que ele queria ter um candidato dele aqui em São Paulo. Ele elegeu o governador, elegeu nosso senador. É evidente que ele queria ter um prefeito dele em São Paulo. Ricardo, eu estou vendo que vai ser o prefeito dele aqui em São Paulo. É isso que nós precisamos trabalhar”, disse.
Aliados de Bolsonaro também afirmam, nos bastidores, estar trabalhando para a aliança entre os dois. O assunto, segundo eles, estaria cada vez mais maduro.
Bolsonaro foi mais cauteloso em seu discurso, no qual repetiu que há perseguição a ele e a aliados. Ele também citou pontos que considera como feitos de seu governo, como o Pix.
Sem citar Ricardo Nunes diretamente, disse que antes de 2026 é preciso pensar em 2024. Afirmou ainda que é preciso “mostrar as nossas virtudes, o que o prefeito fez, o que ele pode fazer, a maneira como ele se relacionou com outros poderes, o Executivo”.
Após o evento, Nunes manteve o tom de cautela. Mas frisou que seria natural o PL fazer parte de seu projeto de reeleição, uma vez que o partido já faz parte do governo.
Caciques do centrão e aliados do ex-presidente costuram o casamento entre Nunes e o bolsonarismo na tentativa de unificar esforços para derrotar a esquerda representada por Guilherme Boulos (PSOL).
Além de Boulos, devem concorrer também Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PDT) e Kim Kataguiri (União Brasil).
Deputados bolsonaristas, no entanto, afirmam que não há identidade entre o eleitorado que representam e Nunes. Quem acompanhou a eleição de 2020 na capital já viu esse filme os parlamentares comparam a situação com a de Celso Russomanno (Republicanos), que terminou em quarto lugar, com 10,5%.
Pessoas próximas do ex-presidente, porém, argumentam que o grupo está sendo convencido de que bolsonaristas raiz seriam derrotados na capital paulista e Nunes, sem Bolsonaro, também.
ARTUR RODRIGUES / Folhapress