SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A contraofensiva lançada pela Ucrânia para tentar reconquistar áreas perdidas após a invasão da Rússia entrou em uma nova etapa, com a intensificação de ataques no sul. O presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu que Kiev aumentou as ações ofensivas nos últimos dias, e autoridades do país invadido afirmam que suas tropas estão fazendo um progresso lento, mas constante.
O principal objetivo dos ucranianos é cortar a ponte terrestre que liga a Rússia e a região do Donbass à Crimeia, península anexada por Moscou em 2014. À agência Bloomberg uma autoridade do setor de inteligência dos Estados Unidos que não quis se identificar disse que os ucranianos fazem avanços significativos em Zaporíjia, uma das áreas tomadas pelos russos na guerra iniciada em fevereiro de 2022.
“Confirmamos que as hostilidades se intensificaram de forma significativa”, disse Putin nesta quinta-feira (27), em fala à margem de uma cúpula em São Petersburgo com a participação de líderes africanos. Em discurso transmitido na televisão, o presidente russo minimizou os impactos das ações, afirmando que as forças ucranianas estavam sendo repelidas e sofrendo perdas significativas.
Horas depois, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou em um vídeo compartilhado em suas redes sociais que as tropas do país haviam recapturado a pequena cidade de Staromaiorske, no sudeste.
A Ucrânia realizou ataques massivos com três batalhões, reforçados com equipamentos de artilharia e blindados, ao sul da cidade de Orikhiv e próximo da vila de Robotine, segundo Igor Konashenkov, porta-voz da Defesa da Rússia, em relato da agência estatal Tass. Assim como Putin, ele disse que as ações foram repelidas e que a região de Zaporíjia agora é o foco da contraofensiva.
Blogueiros militares afirmam que as batalhas são intensas, e a tônica em canais russos nas redes sociais é de preocupação. Na quarta (26), a Ucrânia iniciou um de seus ataques mais fortes desde o início da contraofensiva, em 4 de junho, com 80 blindados tentando romper as linhas inimigas em Zaporíjia.
“Glória a todos os que defendem a Ucrânia! A propósito, nossos meninos na frente [de batalha] tiveram resultados muito bons hoje”, disse Zelenski, em discurso na noite desta quarta-feira, segundo a Bloomberg. Ele não entrou em detalhes.
Em resposta, a Rússia lançou ataques de artilharia e bombardeios em todo o sul ucraniano, num aparente esforço para barrar a contraofensiva. A Ucrânia relatou ofensivas com mísseis e drones e informou que a infraestrutura de Odessa foi atingida um terminal de carga foi destruído, e uma pessoa morreu.
Até aqui, a contraofensiva registrou ganhos tímidos. Enquanto Kiev se armava para a operação, Moscou passou meses cavando trincheiras e outras posições defensivas, cercando-as com minas e fortificações estratégias que tornaram os avanços ucranianos lentos e sangrentos.
Segundo analistas ao New York Times, na primeira fase da contraofensiva as forças de Kiev se limitaram a sondar as linhas inimigas em busca de pontos fracos. Nos últimos dias, porém, a estratégia foi alterada, com a mobilização da maior parte de suas tropas treinadas pelo Ocidente na porção sul do país.
Os Estados Unidos e outros aliados de Kiev treinaram mais de 63 mil soldados ucranianos, segundo o Pentágono, e forneceram centenas de blindados e outros equipamentos à Ucrânia.
Na teoria, o objetivo de romper a ponte terrestre e isolar a Crimeia tem se mostrado difícil. A chegada de mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow facilitou, contudo, ataques à infraestrutura da península.
Se as tropas de Putin estão pressionadas ao sul, há relatos de avanços de forças de Moscou ao norte, na região de Lugansk. Ao que tudo indica, porém, tanto Rússia quanto Ucrânia podem ter exagerado, com motivações diversas, as ações do Kremlin. Os ucranianos falaram na maior concentração de tropas desde a invasão de 2022, com 100 mil militares de Putin, mas o que se viu até aqui não corrobora isso.
Redação / Folhapress