Analista preso injustamente no interior de SP é inocentado pela segunda vez

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Um analista de pricing que chegou a ficar preso dois anos por um crime que não cometeu -e só deixou a prisão após a ajuda de uma carta escrita por outro detento- foi inocentado agora em outro caso.

Vinicius Villas Boas, 37, era acusado de ter cometido um furto em 2016 em José Bonifácio (a 418 km de São Paulo). Mas, na última terça (25), foi publicada a decisão da Justiça que põe fim ao processo.

Em março, ele foi absolvido de um roubo na mesma cidade, também registrado em 2016, depois de ter passado dois anos em um CDP (Centro de Detenção Provisória). Conseguiu provar que havia sido confundido com o criminoso, o que ajudou na decisão favorável desta semana.

A vida dele foi transformada naquele ano, após ele se mudar com a família de São Paulo para Mendonça, cidade com pouco mais de 5.000 habitantes no interior paulista, e ser confundido com um criminoso.

Segundo o processo, em fevereiro de 2016 três assaltantes invadiram uma casa em José Bonifácio, a cerca de 20 km de Mendonça, e mantiveram um homem refém e fugiram levando objetos do local.

Uma semana depois, uma casa no mesmo bairro foi furtada. Câmeras de segurança registraram o veículo usado pelo grupo e as características de um dos supostos autores. As imagens fizeram com que a Polícia Civil acreditasse que os dois crimes foram cometidos pelos mesmos criminosos.

As imagens e o suposto reconhecimento de uma das vítimas levaram a polícia até Villas Boas, que foi preso sob suspeita de participar dos dois crimes.

Na época, ele trabalhava como pintor e, mesmo com o testemunho de seu patrão dizendo que ele estava trabalhando nas datas dos crimes e recorrendo em todas as instâncias, acabou condenado a sete anos de prisão.

Depois de dois anos, período no qual trabalhou na limpeza e serviu comida aos presos, foi no próprio CDP que encontrou uma solução: conheceu um detento de sua cidade que afirmou conhecer os verdadeiros autores dos crimes.

Sabendo que o analista havia sido preso injustamente, ele escreveu uma carta apontando quem seriam os autores e ela foi anexada ao processo. O preso disse em depoimento que Villas Boas havia sido confundido com o criminoso.

O TJ (Tribunal de Justiça), então, reconheceu a inocência dele pela primeira vez.

Essa decisão auxiliou no julgamento desta semana. O Ministério Púbico apontou que o crime ocorrido há sete anos prescreveu e, com base nisso e no fato de o analista ter sido inocentado da outra acusação, a juíza Carolina Castro Andrade declarou extinta a punibilidade dele no processo.

“Considerando que, do recebimento da denúncia até a presente data já se passaram mais de cinco anos, deve ser reconhecida a prescrição pela pena em concreto que poderia ser aplicada ao caso, não havendo utilidade na condução de uma instrução que fatalmente resultaria na extinção da punibilidade logo após aplicação da pena na sentença, ainda mais considerando o conteúdo da Revisão Criminal favorável ao acusado”, diz trecho da sentença.

A comprovação da inocência pela segunda vez foi comemorada pelo analista, que busca conseguir ingressar em um cargo público.

“Vou voltar a sonhar e correr atrás dos meus objetivos. Como meus pais e meus avós eram concursados, vou seguir o mesmo caminho. Voltar a estudar para prestar concurso público, como fazia antes de tudo isso começar. Também quero viajar pelo Brasil, coisa que não podia fazer, pois estava privado de sair do estado de São Paulo. Vou voltar a viver sem nenhum peso”, disse à reportagem.

Ele e a mulher deixaram a capital em 2013 com o objetivo de fugir da violência dos grandes centros. Tinha planejado inaugurar uma pizzaria, mas a prisão alterou o planejamento. Depois da liberdade, ele preferiu voltar para a capital.

SIMONE MACHADO / Folhapress

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