Em 5 pontos, o que se sabe até agora sobre depósitos em Pix a Bolsonaro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) revelado pela Folha de S.Paulo na quinta-feira (27) mostrou o recebimento de 769 mil transações via Pix por Jair Bolsonaro (PL) nos seis primeiros meses do ano, totalizando R$ 17,2 milhões.

Afirma o Coaf que as transações “atípicas” podem ter relação com a campanha de doações organizada em junho para o pagamento de multas judiciais obtidas por Bolsonaro. Segundo o documento, o ex-presidente recebeu por exemplo pagamentos de R$ 5.000 a R$ 20 mil de 19 pessoas e empresas.

A defesa do ex-mandatário afirmou que o vazamento e divulgação dos depósitos via Pix realizados ao ex-presidente “consiste em insólita, inaceitável e criminosa violação de sigilo bancário”, e anunciou medidas judiciais para apuração dos autores da difusão das informações.

Entenda em cinco pontos as transferências via Pix recebidas por Bolsonaro:



1) MULTAS JUDICIAIS

Bolsonaro acumulou uma série de multas judiciais durante e após o mandato. O relatório do Coaf, inclusive, apontou as cifras de R$ 195.559 e R$ 30.698 como “bloqueio judicial”.

Estão nessa lista autuações por andar sem máscara durante a pandemia de Covid-19, além de outros processos na Justiça capazes de gerar indenizações.

Um exemplo ocorreu na sexta-feira (28), quando a corte eleitoral determinou que Bolsonaro e Walter Braga Netto (PL), candidato à vice na chapa do ex-presidente, sejam multados em R$ 55 mil cada um por descumprimento de decisão judicial durante os eventos do bicentenário da Independência.

2) VAQUINHAS A BOLSONARO

O Coaf indica que Bolsonaro recebeu R$ 230.366 em proventos nos seis primeiros meses do ano. Após deixar a Presidência, o capitão reformado do Exército passou a acumular rendimentos que ultrapassam R$ 86 mil. O valor inclui salários de presidente de honra do PL e aposentadorias de militar e deputado.

Com os bloqueios, porém, aliados passaram a pedir transferências de apoiadores para o ex-presidente quitar as multas decorrentes de decisões judiciais.

A ação envolveu os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), federal, e Bruno Engler (PL-MG), estadual, até ex-integrantes do governo como Gilson Machado e Fabio Wajngarten.

3) PERFIL DAS DOAÇÕES

No início do mês, Bolsonaro afirmou ter recebido o suficiente para pagar todas as multas, sem revelar os valores. Ele disse que “a massa” havia feito doações entre R$ 2 e R$ 22 —número do PL, sua legenda.

Além da transferência de R$ 47,8 mil pelo PL em dois lançamentos, outros 18 nomes pagaram de R$ 5.000 a R$ 20 mil ao ex-presidente, segundo o Coaf. Há ainda três empresas. Só uma delas depositou R$ 9.647 na conta de Bolsonaro em 62 lançamentos.

4) GRANDES DOADORES

A Folha de S.Paulo mostrou que dentre os grandes doadores, ou seja, aqueles listados pelo Coaf que doaram entre R$ 5.000 a R$ 20 mil, estão o locutor de rodeios e amigo de Bolsonaro Cuiabano Lima, o ex-ministro do TSE Admar Gonzaga Neto e o empresário Marcos Ermírio de Moraes, herdeiro do Grupo Votorantim.

Gonzaga Neto, que atuou como advogado de Bolsonaro, transferiu R$ 5 mil para a conta do ex-chefe do Executivo. Ele disse que transferiu o dinheiro para “ajudá-lo a pagar a multa relacionada ao uso da máscara”.

O bilionário Marcos Ermírio de Moraes fez uma transferência de R$ 10 mil. Procurado, ele afirmou que a informação em nada acrescenta na vida dos brasileiros. O Grupo Votorantim se manifestou dizendo que o herdeiro não possui cargos na companhia.

Um valor de R$ 10 mil foi repassado a Bolsonaro pelo locutor de rodeios Cuiabano Lima, amigo do ex-presidente. A assessoria de Cuiabano não respondeu à reportagem.

5) DEFESA DE BOLSONARO

Os advogados do ex-presidente afirmaram que a divulgação dos depósitos via Pix configurava uma violação ao sigilo bancário de Bolsonaro. Disseram, ainda, que os valores “são provenientes de milhares de doações” feitas por apoiadores, com origem lícita.

Declararam ainda que tomarão as medidas judiciais cabíveis para apurar e responsabilizar os autores do vazamento.

MATHEUS TUPINA / Folhapress

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