RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ex-policial militar Élcio de Queiroz, preso sob suspeita de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, disse em seu acordo de colaboração que o inspetor da Polícia Civil Vinícius de Lima Gomez o orientou a combinar com o policial reformado Ronnie Lessa, também acusado pela morte da parlamentar, a versão que dariam à Delegacia de Homicídio quando foram intimados a depor sobre o caso.
Segundo Élcio, Vinícius os aconselhou a comparecer à delegacia sem advogados, para não levantar suspeitas, e que ao menos um deles dissesse se lembrar de onde estavam quando Marielle e o motorista Anderson Gomes foram mortos. Procurada, a defesa do policial civil negou “veementemente” as afirmações do colaborador.
“O Vinícius falou: É bom pelo menos alguém lembrar de onde estava, ninguém lembrar fica uma coisa difícil, e vocês não indo com advogado já fica uma coisa melhor, de que vocês não estão devendo nada’. Então a gente ficou mais tranquilo”, disse Élcio na delação, firmada em junho deste ano.
Vinícius é apontado pelo Ministério Público como um dos braços direitos do ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski, preso em setembro passado sob suspeita de favorecer contraventores, inclusive Ronnie Lessa. A Folha fez contato com a defesa do ex-secretário, mas não teve resposta até a publicação.
Marielle e Anderson foram assassinados a tiros na noite de 14 de março de 2018, após o carro em que estavam ser alvejado no Estácio, na região central do Rio. Um ano após a morte, Ronnie e Élcio foram presos. O primeiro foi acusado de ser o autor dos disparos, enquanto o segundo, de dirigir o veículo usado no crime.
A delação de Élcio coincide com as investigações do Ministério Público do Rio de que o ex-PM e Ronnie Lessa combinaram o que falariam quando foram intimados a depor à Polícia Civil. Mesmo antes da colaboração, os promotores já tinham Vinícius como um dos suspeitos de ter auxiliado a dupla.
No depoimento de Ronnie, em outubro de 2019, o policial reformado foi questionado sobre sua relação com Vinícius. Ele respondeu que conhece o inspetor “desde criança”.
Na época do assassinato de Marielle, Allan Turnowski era chefe do Departamento Geral de Polícia da Capital e chegou a participar de reuniões sobre o caso com a cúpula responsável pela intervenção federal no Rio. Em 2020, assumiu como secretário da Polícia Civil, deixando o cargo em 2022 para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PL.
Vinícius também já foi alvo de denúncias do Ministério Público por suspeita de envolvimento com o crime organizado. Ele é suspeito de receber propina e beneficiar contraventores do jogo do bicho. Ele também agia, segundo a investigação, como elo entre Allan Turnowski e Ronnie Lessa.
Os promotores captaram mensagens de Vinícius para o policial reformando fazendo menção ao ex-chefe da Polícia Civil, indicando uma relação entre os dois. As conversas são de 2018, meses depois do assassinato de Marielle.
“Estou com doutor Allan, te mandou um abraço”, escreveu Vinícius a Ronnie, em maio de 2018. O policial reformado responde: “Ok, manda outro para ele”.
Em agosto do mesmo ano, o inspetor fala novamente de Allan a Ronnie: “Estive com o doutor Allan ontem, ele até perguntou de você. Falei que estava tudo bem”.
CAMILA ZARUR / Folhapress