RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As cotações internacionais do petróleo fecharam julho nos maiores patamares desde abril, mas a Petrobras afirmou nesta segunda-feira (31) que ainda vê grande incerteza em relação ao comportamento do mercado e não vai repassar volatilidades ao mercado interno.
O contrato para setembro do petróleo Brent, referência internacional negociada em Londres, fechou o pregão desta segunda a US$ 85,43 por barril, acumulando alta de 13% em junho, diante de sinais de aperto na oferta e crescimento na demanda até o fim do ano.
Para analistas o mercado seguirá pressionado pelos cortes de produção em grandes exportadores. “Ninguém duvida que a Opep+ [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] manterá esse mercado apertado”, disse à agência Reuters Edward Moya, analista da OANDA.
O cenário indica que as defasagens nos preços internos dos combustíveis permanecerão elevadas no país, em um teste para a nova política comercial da Petrobras, implantada pela gestão petista no dia 16 de maio.
Na abertura do pregão desta segunda, a gasolina da Petrobras estava R$ 0,78 por litro abaixo da paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). Considerando refinarias privadas, a defasagem média da gasolina era de R$ 0,68 por litro.
No caso do diesel, a diferença nas refinarias da estatal era ainda maior, de R$ 0,83 por litro -a média nacional é R$ 0,75. Desde a mudança na política comercial, a Petrobras vende combustíveis abaixo dessa referência, mas os valores dispararam nos últimos dias.
Em comunicado divulgado nesta segunda, a estatal diz que “tem observado com atenção os desdobramentos do mercado internacional de petróleo e seu impacto sobre o mercado brasileiro”, mas reforçou que não repassará volatilidades aos preços internos.
“O momento é de grande incerteza quanto à recuperação da economia global, o que influencia
diretamente a demanda por energia, e quanto à oferta de petróleo e de combustíveis, de uma maneira geral”, afirma.
“Essa combinação, no curtíssimo prazo, levou a uma elevação dos preços de referência e da volatilidade”, continua, ponderando que, por outro lado, há um crescimento no fluxo de combustíveis da Rússia para o Brasil. Mais barato, o produto russo tem pressionado para baixo os preços internos.
A nova política comercial da Petrobras considera a paridade de importação como uma espécie de teto para os preços internos, cujo cálculo considera também o custo de produção e as alternativas para o cliente.
Especialistas vêm alertando, porém, que preços muito baixos geram distorções no mercado, com eventuais prejuízos para a estatal e produtores de etanol, como ocorreu no governo Dilma Rousseff.
No segundo trimestre de 2023, por exemplo, a Petrobras registrou o melhor volume de vendas de gasolina em seis anos, diante da melhor competitividade em relação ao etanol. Para abastecer seus clientes, teve que ampliar as importações do produto.
As vendas de gasolina pela estatal atingiram a média de 434 mil barris de gasolina por dia no trimestre, alta de 15,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. A produção cresceu 4%, para 399 mil barris por dia. As importações somaram 52 mil barris por dia, bem superior à média recente.
As defasagens se ampliaram no início do terceiro trimestre. Na nota desta segunda, a Petrobras diz que “reajustes continuam sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.
E que qualquer decisão por reajustes será suportada por “análises técnicas e independentes”.
“A companhia reitera que ajustes de preços de produtos são realizados no curso normal de seus negócios, em razão do contínuo monitoramento dos mercados”, reforça o texto.
“O que compreende, dentre outros procedimentos, análise de preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacional e internacional, levando em consideração a melhor alternativa acessível aos clientes.”
NICOLA PAMPLONA / Folhapress