BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) se tornou alvo de críticas de parlamentares e integrantes do governo, que o acusam de cometer gafes e causar ruídos desnecessários em anúncios da gestão Lula (PT).
As reclamações são de que Pimenta age por conta própria e acaba por gerar deslizes evitáveis.
Em ao menos duas ocasiões, segundo relatos de auxiliares palacianos, o presidente demonstrou a Pimenta contrariedade com a repercussão negativa de atos do ministro. Já Pimenta diz a aliados que sempre age seguindo orientação do chefe.
No episódio mais recente, Pimenta afirmou à imprensa que o novo presidente do IBGE seria o economista Marcio Pochmann. O anúncio ocorreu na última quarta-feira (26).
“Márcio Pochmann será o novo presidente do IBGE e não tem nenhum ruído quanto a isso”, afirmou o ministro na ocasião. Naquele mesmo dia, a ministra Simone Tebet (Planejamento), que tem o IBGE sob seu guarda-chuva, havia dito que ainda não tinha sido consultada sobre a troca.
O anúncio feito por Pimenta gerou a avaliação entre aliados de Tebet e outras alas do governo de que a ministra foi vítima de uma “bola nas costas”. Isso porque prevaleceu a impressão de que a titular do Planejamento havia sido desmentida ou mesmo atropelada.
Integrantes do Planalto e ministros atribuíram o mal-estar a Pimenta. Ele relatou a interlocutores ter recebido orientação de Lula para divulgar a escolha de Pochmann, na tentativa de estancar as críticas contra o nome.
Auxiliares de Lula, porém, afirmam que o ministro apenas confirmou com o presidente em reunião no Palácio da Alvorada que ele estava decidido por Pochmann para o IBGE. A decisão de anunciar a nomeação teria sido tomada por conta própria.
A divulgação do nome, no entanto, acabou por gerar um estranhamento interno, o que levou o ministro a ligar para Tebet no mesmo dia para tentar contornar o mal-estar. Para aliados de Lula, o ideal seria que a própria ministra divulgasse quem presidiria o instituto.
O episódio teria irritado Lula, que, segundo aliados, reclamou do incidente em conversa com o titular da Secretaria de Comunicação Social.
O episódio com Pochmann foi a segunda vez em que Lula se queixou com o auxiliar, segundo relatos de integrantes do Planalto. Em outra situação, Pimenta deu declarações desencontradas a respeito da saída da ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro (União Brasil) e provocou um princípio de crise na articulação política.
No início do mês, Daniela reuniu-se com Lula ao lado do seu marido e padrinho político, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho. A expectativa era a de que ela pedisse demissão.
A União Brasil pleiteava o cargo para o deputado Celso Sabino (PA), deputado licenciado e agora ministro do Turismo. O partido contava que a substituição ocorreria naquela semana.
Após o encontro de Lula com Daniela, Pimenta disse que ela permaneceria no cargo até a Câmara dos Deputados votar pautas econômicas. Menos de duas horas depois, afirmou que ela já havia colocado o cargo à disposição e sabia que deixaria o governo.
A retratação não foi suficiente para amenizar as reclamações da União Brasil, que ameaçou postergar a votação da reforma tributária por conta do ocorrido.
Em resposta, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) divulgou um comunicado no qual confirmou a saída da ministra para apaziguar os integrantes da União Brasil. Na ocasião, Padilha também sinalizou com a entrada de Sabino na Esplanada.
O episódio, reclamam parlamentares, serviu como combustível para que uma ala da União Brasil, capitaneada pelo líder Elmar Nascimento (BA), pressionasse por mais espaço.
Em outro momento, em março, Pimenta foi criticado por parlamentares e integrantes do governo por tentar desqualificar a apresentadora da CNN Brasil Raquel Landim durante participação em um dos programas da emissora.
Ele questionou na ocasião as qualificações de Landim após ser questionado por ela sobre uma fala em que Lula havia sugerido, sem provas, ser uma “armação” de Sergio Moro (União Brasil-PR) o plano da facção criminosa PCC contra autoridades.
Pimenta também é alvo de críticas de integrantes do governo por supostamente tentar influenciar na relação com políticos e parlamentares do Rio Grande do Sul. Como mostrou a Folha, o ministro priorizou no início do governo agendas com gaúchos.
No início do ano, segundo auxiliares palacianos, Lula também reclamou da ausência de agendas com potencial simbólico, para repercutir positivamente na imprensa. Ele conversou sobre o tema com Pimenta, que ajudou a organizar o lançamento da Lei Paulo Gustavo, em maio na Bahia.
“Eu estava cansado de lançar programa de governo lá dentro do Palácio [do Planalto]. Com a mesma cara, quase que as mesmas pessoas. (…) E eu quero, Paulo Pimenta, dar os parabéns, porque o primeiro teste seu foi um evento extraordinário da cultura baiana, para que as pessoas possam saber o quê que a Bahia tem, o quê que a Bahia tem”, afirmou Lula, durante o lançamento da lei.
Procurado, o ministro da Secom afirmou ter “costas largas” e disse que não há “nenhum tipo de ruído” na relação dele com o presidente ou nenhum ministro.
“Eu nunca falo nada da minha cabeça. Se, eventualmente, alguém tiver que ser responsabilizado por alguma informação inadequada, que seja eu, porque a minha tarefa é essa, é ser um ponto de relação da comunicação que preserva o resto do governo de eventuais críticas ou incompreensões”, disse.
Questionado se Lula o orientou a fazer o anúncio de Pochmann e dar a declaração sobre Daniela Carneiro, ele afirmou que a relação com o presidente é de “confiança, lealdade e respeito”.
“Jamais vou atribuir a ele qualquer responsabilidade sobre qualquer tipo de declaração que eu dê.”
“Eu converso com o presidente sobre todos os episódios, todas as notícias. O presidente tem comigo uma relação de muita confiança, de muita amizade. As pessoas sabem disso e, eventualmente, ele conversa comigo no sentido de a gente sempre procurar melhorar essa relação interna dentro do governo”, afirmou.
JULIA CHAIB / Folhapress