SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O fiscal de operação de linhas de ônibus Mário Luís Kaneko Júnior, 49, chegou à meia-noite desta terça-feira (1º) em busca de uma chance de trabalho no 8º Mutirão de Emprego do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. Primeiro da fila, Kaneko Júnior quer voltar a trabalhar para tentar conquistar a guarda da filha única, de cinco anos.
“Cheguei meia-noite e nem dormi. Fiquei acordado, ouvindo música e mexendo no celular. Quero sair empregado e com um curso profissionalizante”, afirma o fiscal, desempregado há um ano e sete meses após uma demissão na pandemia de Covid-19.
O feirão oferece 12 mil vagas de trabalho, incluindo estágio e jovem-aprendiz, até sexta-feira (4), na sede do sindicato, na rua Formosa, 99, vale do Anhangabaú (região central de SP). Há ainda serviços de saúde, direitos humanos e educação, além de cursos profissionalizantes.
Keneko Júnior estava confiante em sua recolocação e lamentava a forma como perdeu o emprego. “Fiquei afastado por suspeita de Covid, nem estava doente, mas fui demitido.” Durante o período em que esteve sem emprego, morou com os pais e ajudou a mãe de 74 anos após uma cirurgia nos dois olhos, que a impossibilitava de exercer suas atividades diárias.
Neste período, não conseguiu nem mesmo fazer bicos e, com isso, não paga pensão à filha. “Sem dinheiro, como consegue? Como sustenta um filho? Quero pedir a guarda dela, que foi retirada da mãe”, conta.
Além do celular, o fiscal contou com a companhia de outros trabalhadores que buscavam emprego e também madrugaram, como Ramon Fraga Cacheda, 64. Desempregado há oito meses após um corte na empresa, Cacheda tem 32 anos de registro em carteira. Com a idade e o tempo de contribuição, ainda não consegue se aposentar.
Falta um ano para pedir o benefício idade ao INSS e três anos para a aposentadoria por tempo de contribuição. O profissional, porém, diz que começou a trabalhar aos 14 anos de idade, mas sem registro em carteira.
Pai de dois filhos, que já cursam faculdade, Cacheda conta com a renda da mulher, de 54 anos, que tem emprego pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ele acredita que tem sido barrado nos processos de seleção por causa da idade. “Não consigo nem entrevistas. É muito difícil não poder pagar as contas, fazer uma compra. Estou esperançoso em conseguir um emprego no mutirão”, diz.A auxiliar de logística
Jéssica Gabrieli Rufino, 31, chegou às 5h da madrugada e diz estar cansada de enviar currículos e não conseguir uma vaga. Desempregada há cinco meses, Jéssica mora com os pais, e está cursando o ensino técnico. Voltou a estudar para tentar colocação melhor no mercado de trabalho.
“Mandar cerca de cem currículos por dia e não conseguir nenhuma entrevista. Isso é o mais difícil de estar desempregada”, diz.
MULTIRÃO TEVE FILA MENOR NESTE ANO
Diferentemente de outros anos, a fila do mutirão em 2023 estava bem menor. Até 10h, cerca de 300 trabalhadores haviam sido atendidos. Do lado de fora, no entanto, dezenas deles ainda esperavam sua vez para entrar no sindicato, entregar o currículo ou preencher uma ficha em busca da vaga.
Até sexta, CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), governo federal, governo de SP e Prefeitura de São Paulo oferecem cursos e diversos serviços. O evento conta ainda com as parcerias de Sesc, Senac e Sesi. No Senac, 33 mil bolsas de estudo estavam sendo oferecidas. Basta o trabalhador se cadastrar no site.
O governo federal também oferece programa em parceria com a Microsoft, com 5,5 milhões de vagas na área de tecnologia. O trabalhador se inscreve no site Escola do Trabalhador. Preencher uma ficha e será direcionado para a melhor opção. Tem desde letramento digital até avançados em tecnologia da informação.
Os trabalhadores que madrugaram na fila foram recebidos por Roseli Aparecida Mariano, Cavalcanti, 59, a primeira da fila do ano passado. Roseli chegou às 19h do dia anterior ao feirão de 2022, foi atendida de conseguiu emprego. Na ocasião, ganhava R$ 50 por dia para lavar banheiros.
Hoje, ela comemora a conquista e diz para os trabalhadores não desistirem. “Não desistam, tenham fé. Do mesmo jeito que eu consegui, vocês vão conseguir. Eu estou muito contente, hoje eu não passo dificuldade. Antes eu ainda passava, mas, agora, graças a Deus apareceu essa oportunidade de abrirem as portas para mim, consegui e estou trabalhando até hoje.”
Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários e da UGT (União Geral dos Trabalhadores), diz que o mutirão começou como uma forma de fazer algo perante o desemprego e, a cada ano, vai evoluindo. “Estamos fazendo voltado para o primeiro emprego, porque o jovem tem dificuldade de trabalhar. Não tem experiência nenhuma e o pessoal não contrata. E também para 50 mais, que também são pessoas com dificuldade para encontrar emprego.”
Lucas da Silva, 23, operador de caixa, e Kaíke Santana Silva, 22, estudante de administração de empresas, estavam esperançosos em encontrar colocação no mutirão deste ano. Os dois foram atendidos, conseguiram fazer uma ficha e esperam resposta das empresas.
O evento contou com a presença do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que conversou com trabalhadores na fila. Segundo ele, a taxa de desemprego, hoje em 8%, ainda está alta, mas espera uma retomada maior da economia no segundo semestre e melhora nos índices. “Geração de emprego é a principal ferramenta para acabar com a fome e distribuir renda”, disse.
CRISTIANE GERCINA / Folhapress