GUARUJÁ, SP (FOLHAPRESS) – Um morador de rua foi morto e outro está desaparecido após uma ação da Polícia Militar na tarde do último domingo (30) em uma favela de Guarujá, no litoral paulista, segundo os relatos de oito pessoas. Testemunhas dizem que viram uma arma ser colocada pelos policiais na viela onde o homem morreu e que se sentiram ameaçadas para que mentissem e confirmassem a versão da PM.
Os oito moradores da comunidade do Pantanal, na Vila Baiana, acompanharam a reportagem até o local onde viram o corpo do morador de rua William, que é conhecido de todos no bairro. Eles mostraram os furos de balas nas paredes dos barracos e uma marca de sangue no local onde ele caiu.
A reportagem enviou os detalhes do caso à SSP (Secretaria de Segurança Pública), que respondeu por email com o áudio de uma entrevista coletiva do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) realizada na tarde desta terça (1º). A secretaria não confirmou nem negou que essas mortes tenham sido registradas.
Três policiais e o corpo foram vistos em uma viela estreita e sem nome dentro da favela, próxima à rua Vereador Orlando Falcão e à avenida Manoel Alves de Moraes.
William estava em frente à porta de um barraco de madeira que pretendia alugar quando foi alvejado, segundo os moradores. Eles relataram ter ouvido uma rajada de tiros de fuzil, mas nenhum sinal da da voz dos policiais ou do morador de rua.
Todos os moradores disseram à reportagem que os três PMs não tinham nas fardas nem câmera corporal nem o nome deles.
Ainda de acordo com eles, após a rajada de tiros, um dos policiais saiu correndo em direção à rua e, então, uma viatura do Batalhão de Choque se aproximou da viela. Depois disso, os policiais bloquearam três vielas com fitas isolantes e disseram aos moradores para não saírem de casa. A comunidade viu ao menos oito viaturas da PM chegarem ao local nos instantes seguintes.
Um homem de 33 anos que mora na mesma viela onde William foi baleado disse que um policial empurrou a porta de seu barraco de madeira e gritou com sua mulher. O PM, de acordo com a versão dele, afirmou que ela tinha ouvido os gritos dos policiais para que o homem não corresse.
A mulher respondeu que não ouviu os gritos, segundo seu marido. Ela teve uma crise de ansiedade e foi para o pronto-socorro, ele contou. A moradora de uma casa de alvenaria que fica em frente à viela onde aconteceu a ação confirmou que o mesmo ocorreu com ela: os policiais perguntaram se ela tinha ouvido os gritos e se podia confirmar o depoimento, mas ela negou. Eles também procuraram pela cápsula de uma bala no terreno em frente à casa.
Duas pessoas disseram ter visto uma pistola ser colocada no local do crime pelos policiais, após ser retirada de um carro cinza que acompanhava as viaturas. A arma estaria dentro de um saco plástico, que foi aberto na viela onde William morreu, segundo os relatos.
Há vídeos do corpo de William sendo colocado dentro de uma ambulância por policiais, um deles portando um fuzil. Um jovem morador de rua, chamado Mateus, de cerca de 25 anos, desapareceu no mesmo dia. Ele frequentava a comunidade do Pantanal. Os moradores não souberam dizer qual era a idade de William.
Além dos relatos, há informações do IML (Instituto Médico-Legal) de Praia Grande de que dois corpos não identificados, mortos a tiros em Guarujá no domingo, ainda estavam lá na tarde desta segunda-feira (31).
O Condepe (Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana) confirmou que recebeu relatos sobre mortes de moradores de rua e apura os casos.
TULIO KRUSE E DANILO VERPA / Folhapress