Após polêmica sobre Pochmann, aliados defendem que Lula indique Mantega para o BID

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A forte repercussão da indicação, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do economista Marcio Pochmann à chefia do IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pode acabar afetando também o futuro do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Lula tinha planos de emplacar Mantega como presidente-executivo da mineradora Vale, resgatando com isso um projeto que acalentou há 23 anos. A aliados ele afirma que o ex-ministro é um quadro técnico que pode ajudar o país e que gostaria de vê-lo à frente de uma empresa que tenha destaque na atividade econômica.

A tarefa já era difícil, pois a Vale é uma empresa privada —para fazer seu presidente, o governo teria de costurar o apoio dos demais acionistas e convencê-los a nomear Mantega. A polêmica em torno do nome de Pochmann, indicação pessoal do presidente que foi vista por críticos como não técnica, fez auxiliares do presidente passarem a defender que o ex-ministro seja indicado para o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Essa ala que defende repensar a indicação para a Vale inclui pessoas próximas ao ministro Fernando Haddad, que temem a reação do mercado caso o presidente tente bancar o ex-titular da Fazenda.

Por outro lado, integrantes do núcleo duro do presidente, incluindo ministros palacianos, afirmam que até agora Lula não falou em outra opção senão a Vale e nem dá abertura para discutir outra ideia. A ideia seria articular sua nomeação para lá ou para outro órgão de relevância para o governo

Essas opções estão na mesa porque Mantega está inabilitado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) para exercer cargo em comissão ou função de confiança na administração pública federal devido a uma punição ligada ao caso das pedaladas fiscais.

Além de considerá-lo quadro técnico, Lula quer recompensá-lo por considerá-lo um injustiçado, nas palavras do próprio presidente. Apesar do desejo de que ele vá para a Vale, o presidente não está trabalhando incisivamente para conseguir o apoio de acionistas na empresa, segundo o relato de um ministro palaciano.

Mas as pretensões do presidente já produziram reação no mercado, porque exigiriam a antecipação da saída do atual presidente, Eduardo Bartolomeo, cujo mandato expira apenas em maio de 2024.

Esta não é a primeira vez que Lula tenta acomodar Mantega na direção da Vale. Em 2010, ao final do segundo mandato do petista, o então presidente da companhia, Roger Agnelli, queixou-se da pressão do PT por uma cadeira na mineradora.

À época, o governo federal exercia grande influência sobre a empresa, por integrar o bloco de controle constituído após a privatização, em 1997, e com vigência de 20 anos. Mesmo assim, Mantega não assumiu o comando da empresa.

Em agosto de 2017, foi assinado um acordo de acionistas para transição ao atual modelo de gestão, que é diluído. Esse acordo expirou em novembro de 2020.

Atualmente, a interferência do governo se dá por meio da Previ, detentora de 8,72% das ações, sendo a maior acionista individual, e com dois assentos no conselho de administração. Apesar de não ter participação direta, o governo também pode exercer pressão de licenças e outras concessões públicas.

Um exemplo da influência do presidente aconteceu em 2011. Murilo Ferreira foi escolhido para comandar a Vale depois que Dilma Rousseff (PT) decidiu vetar uma escolha do Bradesco para o lugar de Agnelli.

Dilma acabou com um acordo informal que existia entre o governo e o Bradesco, que garantia ao banco a indicação do diretor-presidente da Vale, enquanto a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, nomeava o presidente do conselho de administração.

O acerto vigorava desde 2001, quando Agnelli assumiu a Vale e foi reconduzido, desde então, quatro vezes para o cargo —os mandatos do presidente da empresa são de dois anos.

Diante da reprovação de Dilma, o nome de Tito Martins, considerado até então o favorito para suceder Agnelli e uma escolha unilateral do Bradesco, acabou sendo descartado.

Ainda que o mercado reaja, a certeza entre integrantes do Palácio do Planalto é que Lula quer aproveitar Mantega em um espaço de peso. Desde o início do governo, o presidente falou no nome de ao menos três aliados que gostaria de ver em órgãos relevantes: o ex-ministro Sergio Rezende, o ex-presidente do Instituto Lula Marcio Pochmann e Mantega.

Rezende, que foi ministro da Ciência e Tecnologia de Lula no período de 2005 a 2010, acabou indicado para o conselho da Petrobras. Ele chegou a ter o nome rejeitado pelo conselho de governança da estatal, que o vedou por ser integrante do diretório do PSB, algo que afrontaria a Lei das Estatais. Ainda assim, o governo conseguiu aprová-lo com os votos que tem no conselho.

Lula também sempre disse que gostaria de aproveitar Pochmann. O ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) anunciou na semana passada que ele comandaria o IBGE. A decisão foi alvo de críticas do mercado, que o considera muito intervencionista e temia que houvesse interferência no órgão.

Nesta terça-feira (1º), o presidente da República saiu em defesa da escolha.

“É um dos grandes intelectuais deste país. É um rapaz extremamente preparado. Esse rapaz eu escolhi ele porque eu confio na capacidade intelectual dele, é um pesquisador exímio. Agora algumas pessoas que possivelmente queriam ir para lá ficam colocando dúvida sobre a idoneidade do Pochmann”, disse.

Lula ainda negou que a escolha tenha atropelado a ministra do Planejamento, Simone Tebet, “porque presidente não atropela” e porque esse não é seu jeito de fazer política.

O presidente também tem afirmado desde que tomou posse que quer aproveitar Mantega. O aliado foi ministro da Fazenda e do Planejamento durante governos de Lula.

A presença do aliado entre os conselheiros econômicos do presidente, porém, geraram desgaste ainda na transição, quando Mantega decidiu renunciar à equipe de transição.

Em carta endereçada ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), que comandava os trabalhos, ele apontou a intenção de adversários em “tumultuar” e “criar dificuldades para o novo governo” como uma das razões para o seu afastamento.

Mantega havia sido anunciado membro da transição havia apenas uma semana e seria integrante do grupo técnico responsável pelo planejamento, orçamento e gestão na equipe de transição.

JULIA CHAIB E CATIA SEABRA / Folhapress

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