BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Na ausência de um candidato forte para vaga, aliados do presidente Lula (PT) sugerem o adiamento da escolha do futuro procurador-geral da República para que haja a busca do que chamam de “genérico” do atual titular, Augusto Aras.
Essa proposta vigora especialmente entre os apoiadores da recondução do próprio Aras e nasce da avaliação de que Lula ainda não conhece, suficientemente, o perfil dos principais postulantes ao cargo.
Integrantes deste grupo reconhecem que a associação da imagem do procurador-geral à do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dificulta sua permanência à frente do MPF (Ministério Público Federal).
A ala do PT que defende a recondução de Aras inclui o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, e líderes do chamado centrão.
Além do constrangimento pelo alinhamento do procurador à gestão Bolsonaro, uma recondução de Aras esbarra ainda na resistência de ministros do STF (Superior Tribunal Federal) a serem consultados por Lula. Entre eles, Alexandre de Moraes.
Caso esses obstáculos sejam intransponíveis para a Aras, a ideia seria designar um interino para que fosse submetido a uma espécie de test-drive no comando da instituição.
O presidente ainda não demonstrou preferência por nenhum nome e, ainda segundo colaboradores diretos, dá sinais de que não pretende escolher um dos indicados em lista tríplice eleita pela categoria, repetindo o que Bolsonaro fez na escolha de Aras.
A pedido de Wagner, Lula deverá se reunir com Aras em agosto. Além disso, solicitou que colaboradores busquem informações dos postulantes à vaga.
Dois nomes despontam no circuito petista. O procurador Antônio Bigonha conta com o apoio de integrantes do PT de São Paulo. O subprocurador-geral da República Mario Bonsaglia conta com o respaldo de sindicalistas.
Em campanha para a vaga, Bonsaglia já esteve reunido com o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) no Palácio do Planalto.
Desde a semana passada, o presidente tem conversado mais sobre os nomes à mesa. Na avaliação de integrantes do Palácio do Planalto, o desconhecimento do currículo e proximidade com os candidatos torna a decisão mais difícil do que para uma cadeira do STF.
Aras deixará a função no final de setembro. Um dos argumentos a favor dele é justamente o fato de ele ter sido testado no cargo e ter mantido boa relação com a classe política.
Além desses, aparece no páreo o vice-procurador-geral Paulo Gonet, apoiado pelos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do STF.
Moraes, inclusive, teria verbalizado a Lula a preferência durante um encontro no mês passado. Como mostrou a Folha de S.Paulo, porém, pesa contra a avaliação de que nomear Gonet seria dar muito poder aos dois ministros do Supremo.
Em outra frente, um dos nomes apoiados pelo atual procurador-geral para substituí-lo é o do procurador Carlos Frederico Santos, atual vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público.
Na hipótese de vacância do procurador-geral, quem assume o posto interinamente é o vice-presidente do conselho. Santos ocupará o cargo até agosto. Caso ele seja reconduzido ao cargo, aliados de Lula defendem que o presidente o deixe um tempo na condução do MPF para testá-lo.
Santos é coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos, que apresenta as denúncias contra os manifestantes golpistas que atacaram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro.
Seu nome ganha força diante das restrições a Aras no círculo petista. O procurador-geral tem, no entanto, buscado expandir o número de apoiadores dentro do PT com o intermédio de parlamentares do centrão.
Um dos argumentos usados por ministros e parlamentares próximos do presidente está no fato de que Aras já demonstrou como age no cargo e não apresentou problemas à classe política.
Além do assédio a aliados de Lula, Aras tem feito acenos ao presidente. Um deles aconteceu no julgamento da ação declaratória de inconstitucionalidade da Lei das Estatais, quando o procurador-geral mudou de posição para se alinhar aos interesses governistas.
Aras é apontado como um dos responsáveis pelo ocaso da Lava Jato, em conjunto com Bolsonaro. Essa atuação fez com que congressistas viessem a apoiar sua recondução, sendo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um de seus simpatizantes.
O procurador-geral também fez afagos em Lula. Literalmente. Na inauguração do ano Judiciário, estava ao lado do presidente e, segundo aliados, tocou mais de uma vez em sua mão. O gesto não passou despercebido por Lula, que chegou a comentar com aliados.
Apesar desses esforços, o fato de Aras ter evitado embates com Bolsonaro e ter atuado a favor do ex-presidente ainda pesa contra ele, assim como a atuação da PGR nas ações contra a Covid e sobre o meio ambiente.
Aras tem buscado se afastar do alinhamento a Bolsonaro nessa reta final do mandato.
Para um ministro do Palácio do Planalto, o procurador-geral terá de demonstrar que mudou muito para que Lula o escolha, já que seria uma decisão que provocaria desgastes.
Assim como outros integrantes do governo, a ministra Simone Tebet (Planejamento) afirmou que reconduzir Aras seria um “desastre” em entrevista à GloboNews.
Segundo aliados, Lula avaliará com cuidado os nomes em discussão, depois das decepções com os indicados nas administrações petistas.
Nas conversas, o presidente relembra a experiência com Rodrigo Janot. Escolhido no governo Dilma Rousseff com o apoio do ex-deputado José Genoino, em 2017, Janot ofereceu denúncia contra Lula e uma série de líderes do PT.
Petistas também costumam criticar a gestão do antecessor Roberto Gurgel. Em 2012, por exemplo, ele pediu a prisão dos condenados no mensalão o classificando como o maior escândalo da história.
O autor da denúncia do mensalão foi Antonio Fernando de Souza. Então procurador-geral, foi nomeado por Lula em 2005.
JULIA CHAIB E CATIA SEABRA / Folhapress