Hoje seria aniversário de um dos nomes mais importantes do nosso samba: o compositor carioca Carlos Cachaça. Autor de mais de 500 composições, Carlos Cachaça foi o principal parceiro de Cartola e, ao lado dele, um dos fundadores da GRES Estação Primeira de Mangueira.
E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa MPB – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.
Carlos Cachaça
Carlos Cachaça nasceu em 1902, no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro. De família muito humilde, teve que trabalhar desde muito cedo, ajudando o padrinho – que o criou depois de o pai ter abandonado ele, a mãe e os cinco irmãos.
O menino cresceu participando de blocos e cordões e acompanhando o surgimento das escolas de samba na cidade. Aos 12 anos, já desfilava nos blocos de carnaval de rua pela comunidade da Mangueira. Aos 16, já atuava como pandeirista no conjunto de Mano Elói.
A origem do seu apelido, quando tinha 17 anos, se deve às rodas de bar onde Carlos só bebia cachaça ao invés de cerveja como os outros colegas.
Foi mais ou menos nesta época que Carlos Cachaça abandonou os estudos no curso ginasial para se dedicar ao samba. Aos 20 anos, compôs a sua primeira música, Não Me Deixaste ir ao Samba em Mangueira.
Em 1925, junto de Cartola, Marcelino José Claudino, Francisco Ribeiro e Saturnino Gonçalves, fundou o Bloco dos Arengueiros, que – mais tarde – deu origem à Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, da qual também foi um de seus fundadores.
Carlos Cachaça foi o primeiro compositor a inserir elementos históricos nos sambas-enredo
Carlos Cachaça foi o primeiro compositor a inserir elementos históricos nos sambas-enredo, o que é uma norma até hoje. A Mangueira não tinha samba definido para o desfile; eram cantados sambas de vários autores, geralmente só com a primeira parte, pois a segunda era improvisada pelos chamados “versadores”.
Em 1929, a Escola desfilou com o samba Chega de Demanda, parceria de Carlos Cachaça e Cartola. Em 1932, a Mangueira foi campeã do desfile com o samba Pudesse Meu Ideal, primeira composição sua em parceria com Cartola.
Em 1936, foi gravada em álbum a primeira de muitas parcerias da dupla: a canção Não Quero Mais Amar a Ninguém, gravada por Aracy de Almeida em um disco de 78 RPM.
Em 1926, Carlos Cachaça começou a trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil, onde galgou vários cargos, permanecendo até 1965, quando se aposentou como oficial de administração.
Fala Mangueira
Casou-se com Maria Aída da Silva, com quem teve três filhos e, depois separou-se e casou-se com Menininha (Clotilde da Silva, falecida em 1983), irmã de Dona Zica (esposa de Cartola), com quem viveu durante 45 anos.
Sua última participação ativa na Mangueira foi em 1948, quando a escola foi a primeira a colocar som no desfile, para o samba-enredo Vale de São Francisco. Em dezembro de 1980, lançou em co-autoria com Marília T. Barbosa da Silva e Arthur L. Oliveira Filho, o livro Fala Mangueira.
Em 1997, ao completar 95 anos, foi homenageado na quadra Mangueira, por ser o único fundador vivo da agremiação. O único disco solo de Cachaça é de 1976 e inclui pérolas como Quem Me Vê Sorrindo (parceria com Cartola), Juramento Falso e a música sobre a qual vamos falar hoje.
Saudando Grandes Compositores da MPB
Entre os inúmeros sucessos compostos por Carlos Cachaça, escolhemos contar a história de um grande clássico: Alvorada, composta em parceria com Cartola e Hermínio Bello de Carvalho, em 1968.
A história da música “Alvorada”, de Carlos Cahaça, Cartola e Hermínio Bello de Carvalho
Certa madrugada, Cartola e Cachaça estavam descendo o Morro do Pendura a Saia, no Rio de Janeiro, quando ficaram impressionados com os primeiros raios de sol que iluminavam o cenário, contrastando a beleza da cena com o sofrimento dos moradores do lugar.
Ali, fizeram, então, a primeira parte do samba:
Alvorada lá no morro que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo
Tingindo, tingindo a alvorada
Logo, levaram a música para a casa do compositor e produtor musical carioca, Hermínio Bello de Carvalho, para que ele completasse a composição. Hermínio fez a letra, enquanto Cartola compunha a melodia ali, na hora.
Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Quase nada, de que ir assim
Vagando numa estrada perdida
Em suas duas primeiras gravações – a primeira com Odete Amaral, no álbum Fala Mangueira, de 1968, e a segunda com Clara Nunes, no seu disco Clara Clarice Clara, de 1972 – o samba saiu com o título de Alvorada no Morro.
Depois, o nome foi simplificado para Alvorada, inclusive nas gravações de Cartola e Carlos Cachaça: a de Cartola em seu primeiro álbum, de 1974 (aos 66 anos de idade) e a de Cachaça, em seu primeiro e único, de 1976 (aos 74 anos).
A canção tornou-se um clássico e foi regravada por diversos outros grandes nomes da nossa música como:
- Emílio Santiago;
- Maria Bethânia;
- MPB4;
- Beth Carvalho;
- Jair Rodrigues;
- e Alcione.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Carlos Cachaça.