SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem comprar ingressos buscando em “Iron – O Homem da Máscara de Ferro” uma reedição do filme de Randal Wallace estrelado por Leonardo DiCaprio pode se decepcionar.
Isso porque o musical que chegou ao palco do 033 Rooftop do Santander, na Vila Olímpia, nesta sexta-feira, está longe do caráter épico do longa, ou mesmo da história original, escrita pelo romancista francês Alexandre Dumas no século 19.
Está lá o fio condutor, que é a o irmão gêmeo do rei Luís 14, aprisionado na Bastilha e mantido com uma máscara de ferro para que jamais se descubra sua real identidade como um dos herdeiros do trono e filho da rainha Ana.
Entretanto, a montagem dirigida por Ulysses Cruz expande o universo épico da história original, transformando a encenação em uma balada eletrônica em que o público não apenas permanece em pé rodeado pelo elenco, como também ajuda na movimentação do cenário e pode até participar das festas patrocinadas pelo rei.
“A ideia é expandir o conceito do que é imersivo de verdade. A gente sempre ouve essa expressão, mas aqui ela é elevada”, diz o diretor, um dos idealizadores do projeto ao lado do ator Caio Paduan e do dramaturgo Marcos Daud, responsável pela adaptação do romance original para a cena.
A ideia imersiva está na encenação e até o texto, que parte de uma crise de criatividade de Alexandre Dumas. Sem inspiração, ele recebe a visita do espíritos dos três mosqueteiros que dão a ideia de revisitar uma antiga história abandonada, e assim surge “O Homem da Máscara de Ferro”, narrado por um mestre de cerimônias em tempo real enquanto é escrito.
A partir daí, é a história que todos conhecem a partir dos filmes. O trio de mosqueteiros, fartos dos desmandos de Luís 14, descobrem a existência do prisioneiro gêmeo e decidem não só libertá-lo, mas colocá-lo no trono, substituindo o monarca. Entre os empecilhos está D’Artagnan, chefe da guarda real e o verdadeiro pai do rei -informação que não consta no musical.
A produção é formada por um sexteto de músicos e um elenco de 15 atores, entre eles Thobias da Vai-Vai na pele de Alexandre Dumas, Paduan como D’Artagnan, Letícia Soares como a rainha Ana, Daniel Haidar como Molière e o veterano Saulo Vasconcelos como o Mestre de Cerimônias.
Na pele dos gêmeos Luís e Philippe, o ator e cantor Tiago Barbosa emplaca seu oitavo protagonista no teatro musical em 10 anos de trajetória, iniciada na primeira montagem brasileira de “O Rei Leão”, no qual deu vida ao protagonista, Simba.
A partir daí, o artista embalou uma série de espetáculos, entre eles a comédia “Mudança de Hábito” e o lúdico “Cinderella”, da dupla Rodgers & Hammerstein, onde deu vida a Topher, par da personagem-título e uma marca na história do musical ao redor do mundo, já que pela primeira vez o príncipe foi interpretado por um ator negro.
Ao currículo, o ator ainda adicionou títulos como “Wicked”, no qual deu vida ao príncipe Phyero, “Clube da Esquina – Os Sonhos não Envelhecem”, na pele de Milton Nascimento, além da montagem espanhola de “Kinky Boots”, musical com canções de Cyndi Lauper, que rendeu ao ator uma indicação de melhor ator no prêmio Teatro Musical, concorrendo com Antonio Banderas.
Barbosa não levou o prêmio, mas elevou mais sua cotação no teatro musical brasileiro, do qual já havia saído laureado com o Prêmio Bibi Ferreira de ator revelação, além de ganhar elogios públicos de Fernanda Montenegro, que se emocionou com a performance do ator na pele de Milton.
“Ela olhou no meu olho e me perguntou quem eram meus pais, se eu tinha amigos, se eu era feliz. Ela queria saber se o Tiago fora dos palcos tinha estrutura para aguentar tudo aquilo, e isso me emocionou muito, porque eu tenho uma história, e essa história me coloca em um lugar de estar sempre alerta, sempre atento, em busca de estudar, de melhorar. É isso que eu quero”, diz.
Considerado como uma das principais estrelas do teatro musical nacional, o ator refuta o título e prefere se manter ligado às origens. “Me alegra pensar que jovens que também vieram de comunidades, que também são pretos, que também não conseguem ter uma ideia de para onde ir, que eles me olham e pensam que podem chegar lá. Podem estudar, podem brilhar. Essa importância social que tem o meu trabalho é mais importante do que qualquer prêmio. Na verdade, esse é o prêmio.”
Após a estreia do espetáculo, o ator ainda pretende retomar a carreira musical que iniciou antes mesmo de estrelar “O Rei Leão”, como um dos concorrentes do programa Ídolos, além de já ter novos projetos no Brasil e na Espanha ao longo dos próximos dois anos e um show planejado para o ano que vem no Brasil.
A temporada de “Iron – O Homem da Máscara de Ferro” segue até o dia 8 de outubro, com sessões de sexta-feira a domingo. Os ingressos são distribuídos entre arquibancada e pista imersiva.
IRON – O HOMEM DA MÁSCARA DE FERRO
Quando 04/08 a 08/10 (sex. às 20h30; sáb. e dom. às 16h30 e 20h30)
Onde 033 Rooftop Santander (av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, Vila Olímpia)
Preço R$ 95 a R$ 250
Autor Marcos Daud
Elenco Tiago Barbosa, Caio Paduan, Saulo Vasconcelos, Letícia Soares, Thobias da Vai-Vai
Direção Ulysses Cruz
BRUNO CAVALCANTI / Folhapress