SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro minimizou nesta segunda-feira (7) a tentativa de Mauro Cid, que foi seu ajudante de ordens na Presidência, de colocar à venda um Rolex recebido como presente em viagem oficial.
A Polícia Federal investiga se Mauro Cid tentou vender o relógio por quase R$ 300 mil. A suspeita surgiu a partir de uma troca de emails de Cid com Maria Farani, que trabalhou na assessoria do Gabinete Adjunto de Informações presidencial até janeiro de 2023.
“Não vejo nenhuma maldade em você cotar o preço de alguma coisa, é natural.”
Bolsonaro falou com a imprensa após almoço em São Paulo com o prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), e o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Tudo que o TCU [Tribunal de Contas da União] pediu foi entregue. Até um relógio parecido com aquele. Essa resposta do Cid tem que vir dele e do advogado dele. Agora, não vejo nenhuma maldade em você cotar o preço de alguma coisa, é natural. Quanto é que vale isso aí?.”
Os documentos com a troca de emails foram enviados à CPI do 8 de Janeiro. Trata-se de mais um episódio negativo para Bolsonaro que tem Mauro Cid, que é tenente-coronel do Exército, como figura central.
A troca de emails foi revelada pelo O Globo. A Folha de S.Paulo teve acesso às mensagens.
Nas mensagens, ela pergunta quanto o então ajudante de ordens de Bolsonaro pensava em receber pelo relógio e questiona sobre o certificado de garantia original do item. Ele, por sua vez, diz que pretendia vender a peça por US$ 60 mil (cerca de R$ 290 mil).
Cid era uma das pessoas mais próximas do ex-presidente durante seu mandato à frente do Executivo e atualmente está preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sob suspeita de ter atuado para inserir no sistema do Ministério da Saúde dados falsos de vacinação.
Agora, ele também é investigado pelo caso do Rolex.
O ex-presidente recebeu um Rolex em 30 de outubro de 2019, durante almoço oferecido pela monarquia da Arábia Saudita à comitiva brasileira.
Em 11 de novembro daquele ano, o Rolex foi registrado no sistema do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do gabinete da Presidência da República.
A liberação do relógio no sistema ocorreu no dia 6 de junho de 2022. A troca de emails de Cid com Farani foi feita nesta mesma data, no meio do ano passado.
Ao jornal O Globo a ex-assessora da Presidência afirmou que Cid pediu sua ajuda porque ela é fluente em inglês -idioma usado nas mensagens trocadas entre os dois.
“Por eu falar inglês, ele pediu que eu mandasse esses emails e, quando recebi as respostas, encaminhei para ele”, afirmou Farani. “Ali, eu fazia secretariado-executivo, então, eu auxiliava todas as autoridades. Se pediam para mim ou para outra pessoa, não tinha como falar ‘eu não vou fazer'”, disse.
E prosseguiu: “Eu apenas intermediei, mas eu não sei com quem ele tratou. Eu repassei para ele os emails e foi só essa minha participação, eu não sei qual foi o desfecho disso. Não passou mais por mim”.
Nas mensagens em posse da CPI de 8 de Janeiro, Cid diz que o aparelho nunca foi utilizado, mas que não tem certificação de originalidade porque tratou-se de um presente recebido em “viagem oficial de negócios”.
“Nós não temos o certificado para o relógio, uma vez que ele foi um presente recebido numa viagem oficial de negócios. O que temos é o selo verde de certificado superlativo que vem junto com o relógio. Além disso, posso garantir que o relógio nunca foi usado. Pretendo obter com a peça um valor de cerca de US$ 60 mil”, diz Cid na mensagem.
Redação / Folhapress