SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), João Batista Inocentini, 72, morreu neste domingo (6). Fundador do sindicato, hoje a maior entidade de aposentados da América Latina, com mais de meio milhão de associados, foi vítima de choque séptico pulmonar, após passar cerca de 15 dias internado.
O presidente Lula (PT), o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e ministros do governo lamentaram a morte de Inocentini, ex-metalúrgico, que começou a vida sindical nos movimentos de trabalhadores no ABC, na ditadura militar.
“O movimento sindical brasileiro perde, nesta segunda-feira (7), uma de suas grandes referências. João Batista Inocentini foi metalúrgico, assim como eu, e fundou o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), o maior da categoria na América Latina. Defensor dos direitos dos aposentados, atuou de forma incansável pelo aprimoramento de políticas públicas voltadas para essa categoria”, afirmou Lula.
Em seguida, o presidente prestou solidariedade aos familiares. “João fará falta neste momento em que discutimos a melhoria da qualidade do trabalho no mundo. É com pesar e tristeza que recebo a notícia e me solidarizo com seus familiares e amigos”, completou em nota oficial divulgada pelo Palácio do Planalto.
Nas redes sociais, Alckmin também lamentou a morte do sindicalista. “Recebi consternado a notícia do falecimento de João Baptista [sic] Inocentini, presidente e fundador do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Metalúrgico, a história de Inocentini se confunde com a própria formação da representação organizada de aposentados e pensionistas dedicando sua vida à melhoria das condições de vida destes trabalhadores. Meus sentimentos”, disse o vice-presidente no Twitter.
O ministro Carlos Lupi, da Previdência Social, falou em “perda irreparável” e Luiz Marinho, ministro do Trabalho, disse ter recebido “com tristeza” a notícia e lembrou a atuação de Inocentini no movimento sindical.
Miguel Torres, presidente da Força Sindical, lembrou o apelido pelo qual o sindicalista era conhecido nos meios sindicais ao homenageá-lo. “João Feio era um líder sindical atuante, companheiro de inúmeras batalhas, na luta permanente pela classe trabalhadora e pelos direitos dos aposentados e pensionistas. Aos familiares, amigos e companheiros os nossos mais sinceros sentimentos. João Feio sempre estará presente!”, disse.
Inocentini começou sua vida profissional como metalúrgico, exercendo o cargo de auxiliar de ferramenteiro, em 1971, após um curso técnico no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem da Indústria). Em 1973, já na Volkswagem, entrou para o sindicato da categoria, onde conheceu o também Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na década de 70, participou das grandes greves do ABC -uma delas, quando estava na General Motors, durou 41 dias- quando foi preso três vezes, segundo relato dele a documentário que resgata a memória sindical. Participou da articulação da chapa de oposição que alçou Lula a presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e apoiou o petista em suas campanhas à Presidência da República.
Em 2000, já aposentado, fundou, ao lado de ex-metalúrgicos, o Sindnapi, hoje o maior da categoria na América Latina. Já em atuação por pautas da categoria, Inocentini esteve entre os articuladores dos movimentos em defesa da política de valorização do salário mínimo, com reajuste acima da inflação, em 2004.
Também atuou para que o governo federal, a partir do primeiro mandato de Lula, fizesse o pagamento adiantado da primeira parcela do 13º de aposentados e pensionistas do INSS. Parte do valor do abono de Natal era paga entre julho e agosto, e a segunda cota, entre novembro e dezembro.
A medida se tornou lei no governo Bolsonaro e, desde então, o 13º de aposentados deve ter sua primeira parcela paga, obrigatoriamente, no primeiro semestre. Nos últimos anos, no entanto, com a pandemia de Covid-19, as duas parcelas têm sido pagas de forma antecipada, como ocorreu em maio e junho de 2023.
Com a fila de espera do INSS chegando a 1,8 milhão de segurados neste ano, foi crítico da atuação do ex-presidente do instituto, Glauco Wamburg, substituído por Alessandro Stefanutto em junho, e chegou a procurar o Ministério Público em busca de uma solução.
Nas celebrações do 1º de Maio de 2023, Dia do Trabalho, aproveitou a visita de Lula para entregar a ele estudo mostrando o percentual de gastos de aposentados com medicamentos, solicitando aumento à lista de medicamentos gratuitos e a retomada do programa Farmácia Popular, medida atendida pelo presidente em junho. “Além de emblemático, esse 1º de Maio é da esperança”, disse em seu discurso.
Neste ano, durante movimentação do Ministério da Previdência pela queda dos juros do empréstimo consignado, que resultou na suspensão do crédito a aposentados por cerca de dez dias, fez críticas, mas defendeu taxa menor. Logo após assumir o sindicato, fundou a Copernapi, que oferece o empréstimo a aposentados.
Inocentini deixa mulher, três filhas e quatro netos.
CRISTIANE GERCINA / Folhapress