BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central concordou de forma unânime em manter o ritmo de cortes dos juros em 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, julgando como “pouco provável” uma intensificação adicional do afrouxamento da taxa básica (Selic), conforme ata publicada nesta terça-feira (8).
“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse.
“O comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, acrescentou.
Na última quarta-feira (2), o Copom iniciou o ciclo de cortes de juros, com a redução da taxa básica em 0,5 ponto percentual de 13,75% para 13,25% ao ano. Coube ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, dar o voto decisivo no placar de 5 a 4.
O encontro marcou a estreia dos diretores indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização).
Na discussão, o colegiado do BC considerou que tanto a opção de reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual como em 0,50 ponto percentual seriam compatíveis com a convergência da inflação para a meta.
No cenário de referência do Copom, as projeções para este ano caíram para 4,9% e, para 2024, se mantiveram em 3,4%. Para 2025, a estimativa é de 3%.
Atualmente, os objetivos perseguidos pelo BC são 3,25% neste ano e 3% a partir de 2024, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O grupo que votou por um primeiro corte já em ritmo moderado ponderou que, desde junho, a inflação apresentou um comportamento mais favorável, houve uma melhora na percepção dos agentes financeiros após a definição da meta pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e uma adequação de recalibrar a taxa de juros real em função dos movimentos nas expectativas de inflação.
Para o grupo que defendeu uma redução da taxa de juros mais parcimoniosa, por outro lado, não se observavam alterações relevantes no cenário ou nas projeções que justificassem uma reavaliação da sinalização de “cautela” feita pelo próprio comitê.
Os divergentes foram Diogo Guillen (Política Econômica), Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos), Renato Dias Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução) e Maurício Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta).
Apesar da divisão, todos os membros do comitê avaliaram que a evolução do cenário desde a última reunião permitiu acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de corte de juros e que era apropriado reduzir a Selic a partir deste encontro de agosto.
Contribuiu para a decisão o comportamento positivo das expectativas de inflação após a definição da manutenção da meta de 3% pelo CMN e o anúncio da mudança para o sistema de alvo contínuo.
“A redução das expectativas de inflação, assim como das medidas de inflação implícita nos ativos de mercado, reduz o custo da desinflação e tem impacto sobre o juro real ex ante da economia [taxa esperada calculada olhando para a frente, com base nas projeções para juros e inflação], como já anteriormente alertado pelo Copom”, disse o BC na ata.
Outro fator mencionado foi a melhora nos índices de inflação cheia, enquanto a inflação de serviços continua desacelerando na margem.
“Alguns membros deram mais ênfase à dinâmica recente, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente”, afirmou.
Notou-se também que a melhora parcial das expectativas de inflação em direção à meta colaborou para uma redução das projeções no cenário de referência, com a ressalva de que a atualização de algumas variáveis que afetam a estimativa e as projeções do hiato do produto [que mede a diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo] equalizaram esse movimento.
Quanto às questões fiscais, o comitê enfatizou que, embora tenha retirado de seu balanço de riscos a incerteza residual sobre a aprovação do arcabouço, a dinâmica fiscal continua sendo relevante em seu cenário.
Como mostrou a Folha, após mais de três anos demonstrando preocupação com a política fiscal, o Copom deixou de elencar o tema como fator de risco para alta da inflação em seu comunicado divulgado na última quarta.
Na ata, o colegiado do BC ressaltou que reformas estruturais e a previsibilidade das contas públicas são “essenciais para o aumento da produtividade da economia, para o crescimento potencial e para a maior confiança de empresas, investidores e famílias.”
“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre seu custo para a economia”, continuou.
De acordo com o documento, alguns membros do colegiado avaliaram que persiste “alguma incerteza” entre os agentes do mercado financeiro sobre a superação dos desafios fiscais, o que pode estar se refletindo em expectativas de inflação desancoradas [distantes da meta] para prazos mais longos.
Essa preocupação é evidenciada, de acordo com os membros da autoridade monetária, pelas expectativas de resultado primário que divergem das metas estabelecidas pelo governo.
“Nesse caso, a ancoragem das expectativas em torno das metas previstas no novo arcabouço fiscal, com a manutenção do compromisso fiscal externado, além de uma diminuição das incertezas acerca das medidas tributárias que fundamentam a execução de tal objetivo, contribuiria para um processo desinflacionário mais célere”, disse.
O comitê também debateu outros motivos para a dinâmica das expectativas, citando o cenário global de maior inflação e a possível percepção de que, ao longo do tempo, o BC poderia se tornar mais leniente no combate à inflação.
“Foi unânime o entendimento de que, independentemente da composição da diretoria colegiada ao longo do tempo, deve-se garantir a credibilidade e a reputação da instituição”, afirmou.
NATHALIA GARCIA / Folhapress