A convidada da semana do Vozes da Vez é uma ternurinha. Cantora, compositora, atriz e instrumentista, Wanderléa acaba de lançar um álbum cantando choros. Neste novo trabalho, a artista revisita seu início de carreira como intérprete em programas de rádio e promove a valorização de um gênero seminal da música brasileira.
Wanderléa começou cedo na música. Nasceu em 1946, em Santo Antônio do Pontal – Minas Gerais – e mudou-se para o Rio de Janeiro com a família ainda criança. Iniciou a carreira em meados dos anos 50 e, aos dez anos de idade, ganhava concursos em rádios e apresentava-se em programas infantis como “O Clube do Guri”.
Aos 15, cantava em boates do Rio de Janeiro, com a autorização de seus pais e do juizado de menores. Em 1962, lançou o primeiro compacto e – no ano seguinte – o primeiro LP, “Wanderléa”. Foi nesta época que conheceu Roberto Carlos, que era da mesma gravadora que ela.
Wanderléa na Jovem Guarda
Em 1965, atingiu o auge da carreira. Wanderléa tornou-se conhecida do grande público quando esteve à frente de um dos maiores movimentos musicais e culturais de massa do país, que revolucionou o comportamento jovem brasileiro: a Jovem Guarda, junto com Roberto e Erasmo Carlos.
Wnderléa, Roberto e Erasmo apresentaram um programa com esse mesmo nome, aos domingos, na TV Tupi, entre os anos de 1965 e 1968.
O programa tornou-se um fenômeno de audiência e mídia, assim como o movimento – que uniu música, moda e comportamento, dando origem a uma nova linguagem musical e comportamental no país e arrastando multidões.
As músicas, em um primeiro momento, eram versões em português de hits do rock estrangeiro e, mais tarde, os astros da Jovem Guarda passaram a lançar suas próprias canções, encabeçados pelos principais compositores do movimento: Roberto e Erasmo. As letras tinham temática amorosa e do universo jovem.
Wanderléa foi a primeira mulher da cena rock no Brasil
Wanderléa, junto com Celly Campello, foi a primeira mulher da cena rock no Brasil. Seu modo de cantar, dançar, se comportar e se vestir – de minissaia, botas, calças boca-de-sino, pernas e umbigo de fora, em uma época em que as mulheres ainda não costumavam usar – fizeram dela uma referência de mulher de atitude e vanguarda. Foi pioneira e revolucionária.
Ficou conhecida como “Ternurinha”, apelido desde os tempos de Jovem Guarda, por conta da canção que foi um hit em sua voz: “Ternura”, composto por Rossini Pinto.
Wanderléa trabalhou também como atriz principal no filme brasileiro Juventude e Ternura, de 1968, e contracenou com Roberto e Erasmo, em Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa, de 1970, entre outros filmes. Também esteve em trilhas sonoras de novelas.
Carreira
Após a Jovem Guarda, a musa do iê-iê-iê passou a transitar em todas as vertentes da música popular. Gravou compositores como, Caetano Veloso e Djavan, além de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, seus grandes companheiros.
Seu CD, “Maravilhosa”, de 1972, é considerado uma obra cult, graças a sua sonoridade moderna. A parceria realizada com a produção musical de Egberto Gismonti, no disco “Vamos Que Eu Já Vou”, de 1977, também foi um sucesso. Seu disco “Nova Estação”, de 2008, foi indicado ao Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum de MPB.
Em comemoração aos seus 50 anos de carreira, Wanderléa lançou um livro autobiográfico, “Foi Assim”, em 2017. O nome do livro é também uma canção de Renato e Ronaldo Corrêa, eternizada na voz da cantora.
Também em 2017, Wanderléa apresentou – no Rio de Janeiro e em São Paulo – o musical “60! Década de Arromba”, revivendo acontecimentos importantes da década de 60.
“O rádio é muito importante para a ascensão da nossa cultura.” diz Wanderléa
Em conversa com Fabiane Pereira, Wanderléa fala sobre seu mais recente lançamento “Wanderléa canta Choros”, um álbum em que interpreta grandes canções do gênero musical.
Além de “Uva de Caminhão” e “Carinhoso”, a artista também canta no álbum “Um Chorinho para Wandeca”, composta por Douglas Germano e João Poleto, uma homenagem a cantora e sua relação com o Choro.
Durante o papo, Wanderléa também passeia por momentos marcantes da carreira e fala sobre a importância do rádio para cultura brasileira.
Ouça o episódio na íntegra:
Sobre o ‘Vozes da Vez’
Apresentado pela jornalista, radialista e curadora Fabiane Pereira, o Vozes da Vez é o programa que celebra as novidades da cultura brasileira no dial, uma espécie de rádio-talk-show.
Por meio de entrevistas intimistas e divertidas, a apresentadora – que já é conhecida do público por equilibrar perspicácia e descontração – vai conduzir o ouvinte a uma experiência sonora repleta de boas histórias com personalidades da música, do cinema, do esporte, da literatura, da política, da ciência e das artes em geral.
Confira a playlist oficial do programa: