SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que para muitos é Messimania para outros pode ser um circo. O início avassalador de Lionel Messi no futebol dos Estados Unidos tem sido marcado por gols, vitórias da sua equipe e cenas midiáticas. Ou “instagramáveis”.
Nesta terça-feira (8), ele publicou foto em um assento da classe econômica de voo fretado do Inter Miami. Sua equipe voltava de Dallas, onde se classificou nos pênaltis na Copa da Liga. O espaço apertado para um dos maiores jogadores da história chamou a atenção, mas as aeronaves contratadas por clubes (ou franquias, como são chamadas) da MLS (Major League Soccer, a liga profissional dos Estados Unidos) não costumam ter primeira classe.
A experiência norte-americana reserva cenas midiáticas que não eram vistas quando o craque morava na sua mansão em Barcelona ou em sua luxuosa casa nos arredores de Paris. Antes mesmo da estreia, foi fotografado e filmado ao lado da mulher Antonela Roccuzzo e dos três filhos fazendo compras em um supermercado, sem pressa, de bermuda e chinelo de dedo.
Após o triunfo na Copa do Mundo do ano passado, com a Argentina, sua presença em uma pizzaria de Buenos Aires reuniu milhares de pessoas na porta do estabelecimento. O boato de que ele era espectador de uma peça de teatro na avenida Corrientes, tradicional reduto artístico da cidade, promoveu o mesmo fenômeno. A administração da casa de espetáculos teve de colocar um letreiro eletrônico com a frase “Messi não está aqui”.
Viver uma vida tão normal qual possível era um dos objetivos da família Messi na mudança para Miami. Antonela definiu o resort onde mora como “paraíso”. Em julho de 2022, quando passava férias na cidade, Lionel já havia dito a amigos que gostaria de viver na região no futuro.
Tudo o que ele faz vira em notícia. Transforma-se em “reels” no Instagram, vídeo no TikTok, notas em portais de notícias.
Imagens feitas por um torcedor mostraram, na última partida contra o Dallas, o atacante pronto para cobrar escanteio. Ao ver três crianças na primeira fileira de cadeiras, acenou para elas. Era algo que não costumava fazer na Europa.
Um colombiano que trabalhava como faxineiro no estádio do Inter Miami limpava os vestiários quando viu o ônibus da equipe chegando. Ao perceber a presença de Messi, gritou “vamos, campeão do mundo!”. O argentino assinou a camisa do empregado, que foi retirado do local pela segurança e depois demitido.
“Faria tudo de novo”, disse ele, que virou uma subcelebridade local.
Em campo, Messi tem correspondido às expectativas. Nos quatro jogos em que atuou, anotou sete gols. Na frieza dos números, independentemente da qualidade dos adversários, é um início melhor do que teve no Barcelona ou no Paris Saint-Germain. Em toda sua primeira temporada no PSG, anotou apenas seis vezes na liga francesa.
Todas as partidas que disputou até agora foram pela Copa da Liga, torneio que reúne todos os 29 times da MLS e 18 da Liga MX, a primeira divisão mexicana.
Na liga nacional, a situação do time é difícil. O Inter Miami está em último na tabela, a 12 pontos da zona de classificação aos “playoffs” e com apenas cinco vitórias em 22 jogos.
Dentro de campo, o Inter já ganhou quatro vezes (uma nos pênaltis) pela Copa desde a chegada do argentino e passou a ter uma atenção inédita.
Até a contratação de Messi, o clube jogava em casa com uma média de 4.000 lugares vazios em seu estádio. Os ingressos agora são disputados no mercado oficial e no paralelo. Entradas que custam cerca de US$ 25 são revendidas por US$ 400 (R$ 1.960 pela cotação atual). No confronto em Dallas, o primeiro como visitante do atleta sete vezes eleito melhor do planeta, os bilhetes saíram por até US$ 700 (R$ 3.430).
É uma badalação que não agrada a todos.
“Toda essa atenção que temos recebido com tudo isso… Está se tornando um circo”, queixou-se Óscar Pareja, técnico do Orlando City, sobre a voracidade da mídia e dos torcedores ao redor de Messi, que fez dois gols na vitória da sua equipe por 3 a 1.
Após a derrota, Pareja disse que o astro deveria ter sido expulso e declarou que a regra deveria valer para todos, insinuando que o tratamento para o argentino é diferente.
Antes do confronto no Texas, jogadores do Dallas pediram para não ser mais questionados sobre a presença de Messi. Consideraram as perguntas sobre o adversário um desrespeito.
ALEX SABINO / Folhapress