Vale do Ribeira recebe feira quilombola de troca de sementes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Essa feira, para mim, é o fortalecimento da nossa cultura alimentar, de trabalhar, de viver, de ser e fazer”. É assim que que a lavradora Vanilda Donato dos Santos, 35, define o evento de troca de sementes que acontece no Vale do Ribeira entre os dias 11 e 12 de agosto.

A Feira de Troca de Sementes e Mudas Tradicionais das Comunidades Quilombolas chega a sua 14ª edição e ocorre na cidade de Eldorado, no interior de São Paulo.

O espaço promove debates sobre a cultura e o manejo das roças tradicionais quilombolas. Mas o ponto alto do evento é a possibilidade de trocas de sementes e mudas. Além disso, a iniciativa ajuda a complementar a renda das comunidades pela venda de seus produtos agroecológicos.

“É um momento onde nós recuperamos e passamos aos nossos companheiros algumas mudas e sementes tradicionais que se perderam. É o momento também de mostrar nossa cultura de danças, músicas, contos, artesanatos e outras mais”, diz Vanilda.

Segundo ela, uma parte importante desse evento é estar junto com outras comunidades, criando vínculo de amizade e de troca de vivência.

Moradora do quilombo Porto Velho, em Iporanga (SP), a lavradora afirma ainda que para as crianças o evento possibilita compreender a relação de permanência no território e o fortalecimento da cultura quilombola.

“É uma verdadeira escola. É o dia que os meus filhos têm acesso a uma educação diferenciada que é a educação quilombola, que traz todas essas riquezas tradicionais e territoriais, vão aprender com as comunidades ali presentes o quanto somos resistentes e o quanto somos ricos de conhecimento.”

A feira deste ano contará com mudas e sementes de mandioca, batata-doce, hortelã, cará-de-espinho, plantas medicinais, abacate, arroz, feijão, amendoim, abóbora e milho. Essas e outras espécies são destinadas a trocas.

Para venda alguns dos produtos que serão encontrados no local são mel silvestre, paçoca e rapadura de amendoim, açúcar mascavo, feijão, arroz, mandioca, própolis, rapadura, farinha de mandioca, biju e taiada.

Segundo Valni de França Dias, do Quilombo São Pedro, uma das fundadoras do evento, a ideia da feira surgiu porque era a única forma na época, na avaliação das comunidades, de trocar ou comprar mudas para não perder a produção.

“A feira significa preservar a nossa ancestralidade, nossos costumes, nossa tradição, com comida saudável, melhor qualidade de vida para toda a população, tanto para nós que cultivamos, como para quem consome nossos produtos”, diz.

Bioma mais devastado do Brasil, a mata atlântica é o berço da renda de dezenas de comunidades da região. Os quilombolas do Vale do Ribeira manejam cerca de 83 espécies florestais e 70 variedades agrícolas no local.

Ainda que possibilite vendas de produtos, essa rede de sementes não tem apenas valor financeiro para os quilombolas. É também parte da identidade cultural destas comunidades. A colheita é uma tradição passada de geração para geração.

A sabedoria dos coletores inclui técnicas reconhecidas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural imaterial do país e se tornou modelo de desenvolvimento regional.

Ocupando parte do sul do estado de São Paulo e leste do Paraná, o Vale do Ribeira é uma região que concentra aproximadamente 50 comunidades quilombolas. Abriga ainda 60% da área remanescente de mata atlântica.

TAYGUARA RIBEIRO / Folhapress

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