BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-ministro da Justiça Anderson Torres afirmou à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal nesta quinta (10) que não “deu andamento” às informações levantadas sobre as cidades onde Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tiveram mais votos no primeiro turno porque não achou a métrica adequada.
A suspeita da Polícia Federal é de que, a partir do levantamento, o Ministério da Justiça tenha redirecionado equipes da PF e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) para dificultar a votação de eleitores do Nordeste, onde Lula tinha tido maioria esmagadora dos votos.
“Não dei andamento a isso porque não vi conexão disso com crime. Bolsonaro teve 75% dos votos em Santa Catarina, que crime ocorreu ali? Foi isso que eu questionei: como é que através disso nós vamos chegar a crimes eleitorais? E não tive essa resposta.”
O ex-diretor da PRF Silvinei Vasques foi preso nesta quarta (9) por suspeita de interferência no segundo turno das eleições para favorecer Bolsonaro. Naquele dia, a Folha de S.Paulo revelou que a PRF ampliou o número de abordagens a ônibus, descumprindo a decisão que proibia operações no transporte público.
O ex-superintendente da Polícia Federal na Bahia Leandro Almada afirmou em depoimento que Torres e o então diretor-geral da PF, Márcio Nunes, pediram para que a corporação também participasse das blitze da PRF em 30 de outubro. Os três se encontraram cinco dias antes do segundo turno.
A relatora da CPI do 8 de janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), propôs uma acareação entre Almada e Torres. Na terça (8), o ex-ministro também disse à comissão do Congresso que foi à Bahia para verificar as obras na sede da Polícia Federal no estado.
“Eles [PRF] tinham o planejamento deles, que é feito para o Brasil inteiro, e agiram conforme o planejamento deles. Isso não é atribuição do Ministério da Justiça. Atribuição exclusiva deles”, disse Torres nesta quinta, um dia após a prisão do antigo aliado.
Como ministro da Justiça, Torres foi um dos principais apoiadores das investidas antidemocráticas de Bolsonaro. Em 8 de janeiro, ele era o Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal -por onde já tinha passado no início do governo Ibaneis Rocha (MDB).
O levantamento às vésperas do segundo turno foi feito pela ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça Marília Alencar, que acompanhou Torres de volta à secretaria do DF após a derrota de Bolsonaro. No dia do ataque golpista, ela era responsável pela inteligência da pasta.
O ex-ministro também repetiu que a invasão aos Poderes teria sido evitada se o protocolo de ações da Secretaria da Segurança, feito em 6 janeiro, tivesse sido cumprido. Dentre outras coisas, o plano dizia que a Polícia Militar deveria impedir os golpistas de chegar à Praça dos Três Poderes.
Ele foi questionado sobre a informação de que o departamento operacional da PM teria retardado o envio das tropas à Esplanada dos Ministérios quando o Palácio do Planalto e o Congresso estavam prestes a ser invadidos. “Talvez seja o ponto chave”, respondeu.
Torres repetiu ainda, com as mesmas palavras, que a minuta golpista encontrada em sua casa é “fantasiosa”. A proposta de decreto, revelada pela Folha em janeiro, dava a Bolsonaro o poder de instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Torres é um dos investigados no inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar possíveis autoridades omissas nos ataques em Brasília. Ele foi exonerado por Ibaneis em 8 de janeiro e preso dias depois quando retornou ao Brasil.
O depoimento à Câmara Legislativa foi marcado por elogios a Torres e até mesmo ao advogado dele, Eumar Novacki, advogado do governador e ex-chefe da Casa Civil do DF. O presidente do colegiado, Chico Vigilante (PT), disse que a população de Brasília perdeu com a saída de Novacki do cargo.
Já o distrital Iolando Almeida (MDB), que substituía o relator, chegou a perguntar se Torres via alguma relação entre a prisão dele e a declaração do ministro do STF Luís Roberto Barroso sobre o Brasil ter derrotado o bolsonarismo. Torres respondeu que não queria fazer juízo de valor.
THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress