Inflação de serviços no Brasil ‘preocupa um pouco mais’, diz Campos Neto no Senado

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (10) que a inflação de serviços no Brasil ainda “preocupa um pouco mais”, citando que o índice do segmento tem caído lentamente e ainda está em um patamar acima da média.

O chefe da autoridade monetária também citou que o núcleo da inflação de serviços -parâmetro que tira os itens mais voláteis- ainda continua elevado.

“No caso do Brasil, o que hoje preocupa hoje um pouco mais é a inflação de serviços, que tem caído muito lentamente. Ela preocupa especialmente quando afeta a inflação de salários, a gente não tem visto isso ainda, a gente tem visto até uma melhora recente na inflação, apesar do núcleo inflação de serviços ainda estar alto”, afirmou.

“A gente vê que a inflação de serviços tem caído, mas ainda se encontra em um patamar bem acima da média. Quando olha o núcleo da inflação de serviços, tirando os itens mais voláteis, quando olha o intervalo mais curto não tem caído, mostrou uma ligeira subida”, acrescentou.

Campos Neto compareceu no Senado Federal para prestar contas sobre as decisões tomadas pela autoridade monetária em relação à inflação, aos juros e à estabilidade financeira. Conforme a lei de autonomia, em vigor desde 2021, o presidente do BC tem de ir ao Congresso Nacional prestar esclarecimentos ao menos duas vezes ao ano.

“Lembrando que amanhã [sexta] sai o número de inflação fechado, a gente deve ter uma pequena melhora, mas a gente está olhando a inflação de serviços como um elemento importante para convergência de todos os fatores da inflação”, disse.

O presidente do BC ressaltou que o índice voltará a subir nos próximos meses por conta da queda artificial nos preços com a desoneração de combustíveis no período eleitoral no ano passado.

O índice oficial de inflação do Brasil (IPCA) atualizado será divulgado nesta sexta-feira (11). De acordo com o último dado disponibilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a alta acumulada em 12 meses desacelerou para 3,16% até junho.

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que sinaliza uma tendência para os preços, teve queda de 0,07% em julho, com recuo dos preços de energia elétrica e alimentos.

No cenário de referência do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, a projeção de inflação para este ano caiu para 4,9% e, para 2024, se manteve em 3,4%. Para 2025, a estimativa é de 3%.

Atualmente, os objetivos perseguidos pelo BC são 3,25% neste ano e 3% a partir de 2024, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em junho, o CMN (Conselho Monetário Nacional) determinou que, a partir de 2025, o objetivo passará a ser perseguido de forma contínua, não mais seguindo o ano-calendário.

Na sessão do Senado, Campos Neto também fez um aceno ao ministro Fernando Haddad (Fazenda), dizendo ver nas medidas de arrecadação de receitas propostas pelo governo Lula (PT) o caminho para o ajuste fiscal no curto prazo.

A equipe econômica prevê arrecadar cerca de R$ 130 bilhões a mais com o pacote de propostas focado na tributação de ganhos financeiros para fechar as contas do Orçamento de 2024.

“É fácil falar que é importante cortar gastos de forma muito radical, mas tem de entender que parte dos gastos é indexada, é muito difícil de ser atacada”, afirmou.

“É importante ao longo do tempo criar medidas para que a gente consiga ter uma estabilidade fiscal sem precisar ter aumento de receita, porque a gente tem um nível de tributação já bastante alto, mas estou de acordo que agora precisa correr atrás de um equilíbrio fiscal”, continuou.

Segundo ele, com o plano desenhado pela Fazenda, se as metas fiscais forem atingidas, também abrirá espaço para juros mais baixos e mais estáveis à frente.

O Copom iniciou no dia 2 de agosto o ciclo de cortes de juros, com a redução da taxa básica em 0,5 ponto percentual -de 13,75% para 13,25% ao ano. Coube a Campos Neto dar o voto decisivo no apertado placar de 5 a 4.

A Selic ficou um ano parada no patamar de 13,75%, apesar da pressão do governo Lula e das críticas de empresários, depois de o BC ter promovido o mais longo choque de juros da história do Copom e o mais intenso aperto monetário desde a criação do sistema de metas de inflação, em 1999.

Aos senadores, o presidente do BC disse que a autoridade monetária fez um “pouso suave”, reduzindo a inflação com o “mínimo de custo possível” sobre o crescimento econômico e a geração de empregos.

Para Campos Neto, à medida que a política fiscal for “se sedimentando”, a inflação implícita -diferença entre a taxa de juros prefixada (nominal) e a taxa de juros indexada ao IPCA (real)- tende a melhorar. Ele disse também ver uma “desancoragem gêmea” das expectativas dos agentes do mercado financeiro.

“Digo que a inflação vai ser baixa na frente, o mercado nem sempre acredita, por outro lado o governo diz que vai fazer um fiscal melhor à frente, mercado não põe isso no preço. À medida que for passando as medidas que vão trazer mais receita, esses números devem melhorar”, projetou.

“Isso também vai contribuir para uma inflação menor à frente, consigo ancorar [convergir em direção à meta] a expectativa fiscal e também consigo ancorar a expectativa monetária, isso vai fazer com que o juro fique menor à frente.”

Sobre outros temas da agenda da equipe econômica, o presidente do BC afirmou que a Reforma Tributária é um assunto que está maduro para ser apreciado e que apoia a medida, embora não tenha visto os últimos detalhes do projeto. Segundo ele, o novo modelo trará melhoria de eficiência à economia brasileira no médio e longo prazo.

Na terça-feira (8), o Ministério da Fazenda divulgou estudo com estimativas para as alíquotas-padrão dos novos tributos sobre o consumo previstos na Reforma Tributária. Nas simulações do governo, elas vão variar de um mínimo de 20,73% a um teto de 27%.

Quando à reforma administrativa, Campos Neto disse aos parlamentares ver como “caminho correto”. Um dia antes, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o governo Lula vai precisar entrar na discussão da reforma administrativa “forçadamente” até o fim deste ano.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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