SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Era 5 de agosto de 2017, e Neymar falava havia cinco minutos, pela primeira vez, como jogador do Paris Saint-Germain, ao lado do presidente do clube, Nasser Al-Khelaifi. O atacante brasileiro interrompeu o patrão, indagado se havia multa rescisória para venda futura do jogador mais caro do planeta.
“Eu acabei de chegar, e você já quer que eu saia?”, questionou.
Não há multa rescisória, como é prática no futebol francês. Qualquer saída de atleta sob contrato precisa ter a anuência do clube. Seis anos depois, o casamento de conveniência entre o brasileiro e o PSG está perto do fim.
Neymar queria Paris para ser o melhor do mundo e a estrela principal de um clube de ponta, não um dos satélites que giravam ao redor do astro-rei Lionel Messi, como acontecia no Barcelona, onde ficou entre 2013 e 2017. O PSG desejava um astro que liderasse seu projeto bilionário de dominação do futebol europeu.
Se este é o fim da linha, nenhuma das partes teve sucesso.
Segundo a imprensa francesa, o PSG comunicou que não deseja contar com Neymar. A recíproca é verdadeira.
Um amigo da família do atacante disse à reportagem que o arrependimento do jogador em ter saído do Barcelona não é novo e que, no que dependesse de Neymar, o divórcio já teria sido concretizado há pelo menos dois anos.
O desejo do atleta é voltar ao Barcelona, de onde saiu para o PSG naquela que ainda é a transação mais vultosa da história do futebol. Com dinheiro da família real do Qatar, dona da agremiação francesa, foi pago o valor da multa rescisória: 222 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão pela cotação atual).
O clube espanhol fez todo o possível para manter Neymar na época. Durante a pré-tenporada, nos Estados Unidos, vários jogadores, liderados por Messi, pediram que ficasse. Ele postergou a decisão por algum tempo mesmo que, semanas antes, quando estava em férias no Brasil, tenha dito a vários amigos que a transferência para Paris estava acertada.
Agora o retorno pode ser complicado também, mesmo com a boa vontade do PSG em liberá-lo. O salário de Neymar está na casa dos 4 milhões de euros por mês (R$ 21,4 milhões). É muito para a equipe catalã, ainda sob as restrições financeiras que a obrigaram a abrir mão em 2021 do maior jogador de sua história: Messi.
Coincidentemente, o argentino foi para o PSG e voltou a ser companheiro do brasileiro. Saiu neste ano para atuar pelo Inter Miami, na liga dos Estados Unidos.
A três dias do início do Campeonato Espanhol, o Barcelona não conseguiu inscrever seus novos reforços por causa da regra do “fair play financeiro”. Pelas normas do torneio local, a preferência no espaço salarial do elenco é para jogadores que já estão no clube. Não para recém-chegados, como seria o caso de Neymar.
Uma alternativa é a Arábia Saudita, novo eldorado financeiro do futebol mundial. Al Ittihad e Al Hilal estariam interessados. Cristiano foi para o país aos 38 anos. Benzema aceitou proposta aos 35. A questão é se o brasileiro, que ainda não deixou claro se pretende disputar ou não a próxima Copa do Mundo, vai deixar a Europa e ir para uma liga bilionária, mas periférica, aos 31.
Nos seis anos de Neymar no PSG, o time foi dominante na liga francesa. Foi campeão em cinco das seis temporadas. Mas a supremacia já existia antes da chegada no brasileiro. O sonho de conquistar a Champions League não se tornou realidade. O mais perto que o time chegou foi a final de 2020, quando perdeu para o Bayern de Munique.
ALEX SABINO / Folhapress