SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid, alvo de uma operação da Polícia Federal na manhã desta sexta (11) por ser suspeito de envio de valores aos EUA, é pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), e amigo de longa data do ex-presidente.
Cid pai e Bolsonaro foram colegas de turma na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende, no Rio de Janeiro, na década de 1970. Eles se formaram em 1977, na turma batizada de Tiradentes.
Uma vez presidente, Bolsonaro nomeou o general Cid como chefe do escritório brasileiro da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em Miami, nos EUA.
No cargo, conforme revelou a Folha, Cid pai atendeu a um pedido pessoal de Bolsonaro e arrumou um emprego para um médico pessoal do presidente.
Nascido em Niterói (RJ), o general foi, de 2015 a 2017, ainda antes do governo Bolsonaro, o comandante militar do Sudeste, um dos mais relevantes cargos das Forças no país. No organograma interno, a região militar do Sudeste abrange o estado de São Paulo.
Na sequência, foi nomeado para a chefia do Departamento de Cultura e Educação da Força, onde ficou até 2019.
Entre os 384 integrantes da turma Tiradentes, Lourena Cid foi um dos quatro que atingiram o posto máximo da carreira, general de exército (quatro estrelas). Os outros foram Carlos Alberto Neiva Barcellos, Edson Leal Pujol e Paulo Humberto Cesar de Oliveira.
Pujol foi nomeado comandante do Exército por Bolsonaro quando o capitão reformado assumiu o cargo, em 2019 seria demitido pelo ex-colega em 2021, por avaliar que ele não era fiel. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, também foi demitido na mesma ocasião, assim como os comandantes da Marinha e da Aeronáutica.
Os outros dois generais de quatro estrelas da turma de Bolsonaro na Aman também ganharam cargos.
Barcellos foi nomeado conselheiro militar junto à representação do Brasil na Conferência do Desarmamento da ONU, em Genebra. E Paulo Humberto obteve o cargo de presidente do Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios.
Como é comum no Exército, antes de Cid pai e Cid filho houve outro Cid militar, o coronel médico Antônio Carlos Cid Júnior, pai do general hoje investigado na operação da PF e avô do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
OPERAÇÃO
Nesta sexta (11), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão que miram o entorno de Bolsonaro no caso das joias e nviadas ao ex-presidente por autoridades sauditas.
Entre os alvos estão Mauro Cid e seu pai. As buscas da PF ainda incluem Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, tenente do Exército e que também atuou na ajudância de ordens da Presidência.
As ações ocorrem dentro do inquérito policial das milícias digitais, em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do governo brasileiro para “desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior”, afirmou a polícia.
A operação se deu porque o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou o envio suspeito de valores para o exterior, de forma fracionada, pelo general da reserva do Exército.
Os recursos foram enviados para uma conta própria nos Estados Unidos em quatro transferências de US$ 3.000 (mais de R$ 15 mil, com variações a depender da data) durante os dias 10, 11, 16 e 18 de janeiro de 2023. Elas totalizaram R$ 62.683.
O próprio Mauro Cid também enviou, em 12 de janeiro, outros R$ 367 mil para a sua conta nos Estados Unidos.
Redação / Folhapress