SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O partido político de Fernando Villavicencio, candidato à Presidência assassinado no Equador na última quarta (9), escolheu neste domingo (13) um novo candidato para concorrer ao cargo, recuando de decisão anunciada anteriormente.
O Movimento Construye disse em uma entrevista coletiva na capital, Quito, que vai optar por Christian Zurita para substituir Villavicencio. No sábado (12), o partido havia dito que Andrea González, uma ativista ambiental que concorre à Vice-Presidência pela legenda, seria a nova presidenciável -com a mudança de planos, fica definido que ela continua na disputa pelo cargo para o qual se candidatou originalmente.
A alteração dos nomes ocorre pela impossibilidade jurídica de mudar a cadeira pelo qual González vai disputar a essa altura da campanha –“as candidaturas a cargos de eleição popular, uma vez qualificadas e registradas, são irrenunciáveis”, diz o código eleitoral do país.
Assim como Villavicencio, Zurita, 53, também é jornalista. A dupla trabalhou em parceria por 15 anos e denunciou diversos casos de corrupção relacionados principalmente ao governo do ex-presidente Rafael Correa, atualmente representado pela candidata líder nas pesquisas de intenção de voto Luisa González.
A candidatura de Zurita ainda deve ser aprovada pelo Conselho Nacional Eleitoral e, por enquanto, há um clima de indefinição, apesar do anúncio. “Até agora não está claro para nós como podemos e devemos proceder”, disse Iván González, secretário do partido.
Independentemente do escolhido, é o nome de Villavicencio que vai aparecer nas cédulas da eleição, que já haviam sido impressas antes do assassinato. Os votos para ele serão automaticamente transferidos para o substituto.
“Vamos tentar emular suas habilidades e seu nome”, disse Zurita em entrevista coletiva, referindo-se a Villavicencio, enquanto usava um colete à prova de balas. Ele disse também que as ideias do político “estão totalmente intactas” e que não negociará com “nenhuma máfia”.
O novo presidenciável do Equador já se definiu como um “jornalista indignado”. “Não há poder que não enfrente, nem questões que lhe sejam estranhas. Inimigo persistente das tiranias, crítico do jornalismo populista. Esquerdista redimido”, lê-se em seu perfil no portal Periodismo de Investigación, que ele fundou com Villavicencio.
Eles se conheceram há mais de 25 anos na universidade, segundo jornais locais. “Juntos fizemos os trabalhos mais importantes da imprensa equatoriana”, disse o novo candidato neste domingo.
Zurita se refere a reportagens como as que denunciaram o episódio apelidado de Arroz Verde -supostos casos de financiamento ilegal das campanhas eleitorais do partido de Correa entre 2012 e 2016. Por essa investigação, os então colegas foram os vencedores do prêmio Jorge Mantilla Ortega de 2019.
O nome do caso vem do título de um email que detalhava supostos pagamentos ilegais à sigla feitos por diversas empresas, incluindo a brasileira Odebrecht: Receta de Arroz Verde 502.
Por esse escândalo, o ex-líder equatoriano e outros 18 acusados de suborno foram considerados culpados em 2020. Correa, atualmente autoexilado na Bélgica, foi condenado a oito anos de prisão pelo caso. Em diversas ocasiões o político negou as acusações e acusou seus oponentes de perseguição política.
Em 2011, ele chegou a processar por danos morais Zurita e outro jornalista, Juan Carlos Calderón, após a publicação de um livro que descrevia supostos contratos irregulares do irmão do ex-presidente. O caso foi arquivado a pedido de Correa.
Os colegas de profissão seguiram próximos depois de Villavicencio se enveredar para a carreira política nos últimos anos. No momento do assassinato, por exemplo, Zurita estava ao lado do presidenciável, já que fazia parte de sua equipe de campanha. “Fernando era meu parceiro, meu irmão, meu time. Fomos o melhor grupo de atacantes”, afirmou no dia da morte ao jornal mexicano Excelsior.
Villavicencio foi morto a 11 dias das eleições convocadas após o presidente Guillermo Lasso, sob ameaça de impeachment, dissolver o Congresso. O pleito, no próximo domingo (20), foi mantido, e o país, colocado sob estado de exceção em decorrência do crime.
O candidato saía de um comício em Quito quando foi atingido com três tiros na cabeça. Na sexta-feira (11), o Ministério Público do Equador acusou seis suspeitos, todos de nacio nalidade colombiana, pelo assassinato, cujas causas ainda são desconhecidas.
Por conta da indefinição de quem será o candidato do Movimento Construye, o partido não participará de um dos últimos debates eleitorais do pleito, na noite deste domingo. A decisão foi criticada pela candidata à Vice-Presidência, González. “Apesar de o Conselho Nacional Eleitoral não nos permitir participar, sabemos que Fernando é o ganhador do debate”, disse ela.
Redação / Folhapress