Primárias na Argentina têm alto comparecimento e problemas com urnas

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Num fresco domingo de sol, os argentinos saíram de casa em peso e enfrentaram longas filas para escolher os candidatos que participarão das eleições presidenciais em outubro. As primárias do país vizinho foram marcadas por um comparecimento às urnas maior do que o esperado e também por críticas de “improvisação” no sistema eleitoral.

A candidata mais linha-dura da coalizão de direita Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich —que disputa uma vaga interna com o moderado Horácio Larreta—, teve problemas ao votar e precisou ter a urna trocada. “Não pude votar por sete vezes”, disse depois de demorar 12 minutos para marcar sua escolha. “Os sistemas eleitorais têm que ter um nível de maturidade”, reclamou.

Além dos postulantes à Presidência, os argentinos definem neste domingo os candidatos das diferentes forças políticas para um terço do Senado, metade da Câmara de Deputados e para governos importantes, como o da província e da cidade de Buenos Aires. Na capital, houve uma demora acima da média porque as eleições locais foram feitas separadamente com sistema eletrônico.

Os eleitores portenhos, portanto, votaram em listas de papel para cargos nacionais e, em seguida, em urnas eletrônicas para cargos locais. Dúvidas em como utilizar a máquina e falhas nos equipamentos em alguns lugares fizeram as filas se estenderem, apesar de parte dos colégios eleitorais contarem com funcionários que explicavam como usá-la. Muitos esperaram mais de uma hora e meia.

“Eu até tenho vontade de votar, mas se tiver muita fila não vou, estão dizendo que as máquinas não funcionam”, comentava o motorista de aplicativo Oscar Andres, 52, em frente a uma escola em Belgrano, bairro abastado de Buenos Aires. Ele pretendia votar em Bullrich: “O diálogo não é ruim, mas neste país não serve para muita coisa. Bullrich tem mão dura, não vai se deixar dobrar como [o ex-presidente Mauricio] Macri”, opinava.

Mas foram muitos, também, os que votaram tranquilamente, como a funcionária administrativa Graciela Vildoza, 77, que saía sorridente de um dos colégios eleitorais da região. “Fui fiscal desde que se instalou a democracia nesse país, então para mim não há novidades”, disse ela, que também optou por Bullrich “porque é preciso colocar ordem nesse país, tanto na economia quanto na segurança”.

A violência e a inflação têm sido os dois grandes temas da corrida eleitoral até aqui. A desvalorização da moeda é citada por 55% da população como sua maior preocupação, e a insegurança, por 38% em uma pesquisa da Universidade de San Andrés —mesmo que a Argentina seja considerada um dos países mais seguros da América Latina.

Até as 17h, haviam votado 62% dos eleitores, segundo a Câmara Nacional Eleitoral, dois pontos percentuais a mais do registrado nas primárias de 2019. O órgão temia um grande índice de abstenção, como ocorreu em outras eleições provinciais deste ano, por isso, de forma inédita, emitiu um comunicado incentivando a participação na semana passada.

Pela manhã, a juíza federal eleitoral responsável pela cidade de Buenos Aires, María Servini, enviou um comunicado à instituição eleitoral dizendo ser “preocupante o grau de improvisação” da votação, “evidenciando uma falta de habilidade nunca antes vista na organização e execução de um processo eleitoral”.

As seções funcionam de 8h às 18h. Então, as portas dos centros de votação são fechadas e os presidentes das mesas esperam até que todas as pessoas nas filas depositem seu voto para dar início ao processo de apuração. De acordo com o chefe da Direção Nacional Eleitoral (Dine), Marcos Schiavi, a expectativa é que os resultados se tornem públicos a partir das 21h.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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