SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A família real do Qatar injetou bilhões de dólares para melhorar sua imagem internacional por meio do futebol. Sediou a Copa do Mundo, abrigou Mundial de Clubes e outros eventos internacionais.
Rival dos qataris no Oriente Médio, a Arábia Saudita também quer usar o esporte como geopolítica. A ferramenta é o dinheiro. Mas há uma diferença. O país investiu em contratações de jogadores famosos ao redor do mundo para a liga local. Os mais conhecidos deles já na fase descendente da carreira.
A exceção pode ser o brasileiro Neymar, 31, confirmado nesta terça-feira (15) como reforço do Al Hilal. Ele vai para o Oriente Médio ainda com idade para manter um desempenho de alto nível.
A liga saudita, com 18 equipes na primeira divisão, começou na sexta-feira da semana passada (11) e jamais um campeonato nacional na região despertou tanto interesse internacional.
Neymar chega para o time local mais popular e vencedor. O Al Hilal conquistou 18 vezes o título e faz parte da lista de quatro principais times do campeonato, ao lado de Al Ittihad, Al Ahli e Al Nassr.
Reforçado na temporada passada por Cristiano Ronaldo, 38, dono do maior salário do futebol mundial, o torneio ganhou também a presença dos franceses Karim Benzema, 35, e NGolo Kanté; 32; dos brasileiros Fabinho, 29, e Malcom, 26; do senegalês Koulibaly, 32; do inglês Jordan Henderson, 33; do argentino Éver Banega, 35; e do argelino Riyad Mahrez, 32, entre outros.
No Brasil, os direitos de transmissão para TV pertencem à Band e ao Bandsports. Alguns jogos também estarão disponíveis no canal Goat, pelo YouTube.
Cristiano Ronaldo, cinco vezes eleito melhor do mundo, puxou a fila ao assinar com o Al Nassr em 2022 para receber cerca de US$ 200 milhões por temporada (R$ 998 milhões pela cotação atual). Foi seguido por Karim Benzema no Al Ittihad (US$ 190 milhões por temporada ou R$ 948 milhões).
Mesmo atletas de menos fama receberam ofertas que não obteriam em nenhum outro lugar. Henderson vai embolsar 42 milhões de euros (R$ 229 milhões) em um ano no Al Ettifaq, que não está entre as principais equipes sauditas.
Neymar encontrou mercado em nenhum dos grandes clubes da Europa. Seu sonho de voltar ao Barcelona não se viabilizou. A Arábia Saudita lhe propôs 320 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão) pelos dois anos de contrato.
O confronto entre Al Hilal e Al Nassr, que deverá colocar frente a frente o brasileiro e Cristiano Ronaldo, deverá acontecer na 15ª rodada. A data provável para a partida é 30 de novembro.
Assim como no Qatar, a expansão econômica da liga saudita faz parte de um plano maior. A ideia é diversificar a economia do país e torná-lo conhecido também por um aspecto positivo e popular como o futebol.
“Há o fato de que a Arábia Saudta deseja ser reconhecida por outras coisas que não sejam petróleo, extremismo religioso e um passado em que as mulheres não podiam dirigir. Isso é, claro, parte do que nos leva ao investimento saudita em esportes. Mas também é parte de algo maior, um plano que está descrito no Visão 2030”, escreve Steven A. Cook, estudioso dos assuntos do Oriente Médio e África para o Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores, em inglês).
Visão 2030 é um documento que detalha o que a família real pretende fazer para diversificar a economia e depender menos da extração de petróleo e gás natural. Passa pela construção de Neom, uma cidade que o governo saudita chama de “futurista”, ser erguida no meio do deserto ao custo estimado de US$ 500 bilhões (R$ 2,5 trilhões).
De novo, é um plano semelhante ao realizado pelo Qatar, que também deu vida, no meio do nada, a uma nova cidade: Lusail. A Arábia Saudita é uma das candidatas a sediar a Copa do Mundo de 2030.
As críticas são que o futebol se tornou mais uma vez ferramenta de “sporstwashing”, o uso do esporte como arma geopolítica. A Arábia Saudita já havia sido acusada disso quando empresa ligada à família real comprou o Newcastle United, da Inglaterra. O mesmo foi direcionado aos Emirados Árabes Unidos, donos do agora campeão europeu Manchester City, e ao Qatar, controladora do Paris Saint-Germain.
O futebol da Arábia Saudita vai passar por processo de privatização nos próximos Mas, antes disso, os principais clubes foram estatizados.
O fundo soberano do país, controlado pela família real, assumiu o controle dos quatro times mais populares: Al Nassr, Al Ittihad, Al Ahli e Al Hilal. A entidade de investimentos vai usar a mesma estratégia empregada em outros setores da economia. O Estado comandará as agremiações para depois colocá-las à venda para empresas e agências de desenvolvimento.
Dinheiro não falta. O Public Investment Fund, nome oficial do fundo soberano sob a administração da monarquia, vale US$ 620 bilhões (R$ 3 trilhões). É o quinto maior do planeta.
O propósito é aumentar a receita da liga profissional e levá-la a US$ 480 milhões (R$ 2,3 bilhões) em 2030. Atualmente, está em US$ 120 milhões (R$ 573 milhões). O valor de mercado do torneio, projetado, é de US$ 2,1 bilhões (R$ 10 bilhões).
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VEJA ABAIXO OS TIMES QUE COMPÕEM A LIGA SAUDITA DA PRIMEIRA DIVISÃO:
Abha
Cidade: Abha
Fundação: 1966
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Devis Epassy, Camarões
Maiores contratações: Krychowiak (volante, Krasnodar-RUS), Kamano (meia, Lokomotiv Moscou-RUS), Fabian Noguera (zagueiro, Nacional-URU)
Técnico: Czeslaw Michniewicz, Polônia
Al Ahli Saudi
Cidade: Jedá
Fundação: 1937
Títulos da liga: 3
Principal jogador: Mahrez, Argélia
Maiores contratações: Mahrez (meia, Manchester City-ING), Ibañez (zagueiro, Roma-ITA), Saint-Maximin (atacante, Newcastle-ING), Mendy (goleiro, Chelsea-ING)
Técnico: Matthias Jaissle, Holanda
Al Akhdoud
Cidade: Najran
Fundação: 1976
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Andrei Burca, Romênia
Maiores contratações: Andrei Burca (zagueiro, Cluj-ROM), Florin Tanase (meia, Al Jazira-EAU)
Técnico: Jorge Mendonça, Portugal
Al Ettifaq
Cidade: Damman
Fundação: 1945
Títulos da liga: 2
Principal jogador: Jordan Henderson, Inglaterra
Maiores contratações: Jordan Henderson (volante, Liverpool-ING), Jack Hendry (volante, Brugge-BEL), Moussa Dembelé (atacante, Lyon-FRA)
Técnico: Steven Gerrard, Inglaterra
Al Fateh
Cidade: Al Mubarraz
Fundação: 1958
Títulos da liga: 1
Principal jogador: Cristian Tello, Espanha
Maiores contratações: Zelarayán (meia, Columbus-EUA), Jason Denayer (zagueiro, Shabab Ah Ahli-EAU)
Técnico: Slaven Bilic, Croácia
Al Feiha
Cidade: Al Majmaah
Fundação: 1953
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Fashion Sakala, Zâmbia
Maiores contratações: Fashion Sakala (atacante, Rangers-ESC), Onyekuru (meia, Adana Demirspor-TUR), Gojko Cimirot (volante, Standard Liége-BEL)
Técnico: Vuk Rasovic, Sérvia
Al Hazm
Cidade: Ar Rass
Fundação: 1957
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Vina, Brasil
Principais contratações: Vina (meia, Ceará), Tozé (meia, Al Nasr-EAU), Selemani (meia, Kortrijk-BEL)
Técnico: Filipe Gouveia, Portugal
Al Hilal
Cidade: Riad
Fundação: 1957
Títulos da liga: 18
Principal jogador: Neymar, Brasil
Maiores contratações: Neymar (atacante, PSG-FRA), Malcom (atacante, Zenit-RUS), Ruben Neves (meia, Wolverhampton-ING), Milinkovic-Savic (volante, Lazio-ITA), Koulibaly (zagueiro, Chelsea-ING)
Técnico: Jorge Jesus, Portugal
Al Ittihad
Cidade: Jedá
Fundação: 1927
Títulos da liga: 9
Principal jogador: Karim Benzema, França
Maiores contratações: Benzema (atacante, Real Madrid-ESP) Fabinho (volante, Liverpool-ING), Kanté (volante, Chelsea-ING)
Técnico: Nuno Espírito Santo, Portugal
Al Khaleej
Cidade: Saihat
Fundação: 1945
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Fabio Martins, Portugal
Maiores contrarações: Lisandro López (zagueiro, Tijuana-MEX), Ivo Rodrigues (meia, Famalicão-POR)
Técnico: Pedro Emanuel, Portugal
Al Nassr
Cidade: Riad
Fundação: 1955
Títulos da liga: 9
Principal jogador: Cristiano Ronaldo, Portugal
Maiores contratações: Sadio Mané (atacante, Bayern de Munique-ALE), Seko Fofana (volante, Lens-FRA), Brozovic (volante, Internazionale-ITA), Alex Telles (lateral, Manchester United-ING)
Técnico: Luís Castro, Portugal
Al Raed
Cidade: Buraidah
Fundação: 1954
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Mamadou Loum, Senegal
Maiores contratações: André Moreira (goleiro, Grasshopers-SUI), Amir Sayoud (meia, Al Tai), Mamadou Loum (volante, Porto-POR)
Técnico: Igor Jovicevic, Croácia
Al Riyadh
Cidade: Riad
Fundação: 1961
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Martín Campaña, Uruguai
Maiores contratações: Birama Touré (volante, Auxerre-FRA), Didier Ndong (volante, Dijon-FRA)
Técnico: Yannick Ferrera, Bélgica
Al Shabab
Cidade: Riad
Fundação: 1947
Títulos da liga: 6
Principal jogador: Éver Banega, Argentina
Principais contratações: Habib Diallo (atacante, Strasbourg-FRA), Cuéllar (volante, Al Hilal)
Técnico: Marcel Keizer, Holanda
Al Taawoun
Cidade: Buraidah
Fundação: 1956
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Aschraf El Mahdioui, Holanda
Maiores contratações: Andrei Girotto (zagueiro, Nantes-FRA), Ismael Díaz (meia, Universidad Católica-CHI), Flavio (volante, Trabzonspor-TUR)
Técnico: Péricles Chamusca, Brasil
Al Tai
Cidade: Hail
Fundação: 1961
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Robert Bauer, Alemanha
Maiores contratações: Misidjan (meia, Twente-HOL), Mensah (atacante, Kayserispor-TUR), Enzo Roco (lateral, Elche-ESP)
Técnico: Kresimir Rezic, Croácia
Al Wehda
Cidade: Meca
Fundação: 1935
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Anselmo, Brasil
Maiores contratações: Saeed Al Mowalad (lateral, Al Ettifaq)
Técnico: Georgios Donis, Grècia
Damac
Cidade: Khamis Mushait
Fundação: 1972
Títulos da liga: 0
Principal jogador: Adam Maher, Holanda
Maiores contratações: Al Johani (atacante, Al Tai)
Técnico: Cosmin Contra, Romênia
Redação / Folhapress