Governo tenta fechar reforma ministerial até 6ª e descarta impacto de ruído entre Lira e Haddad

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A ala política do governo federal espera resolver o desenho da reforma ministerial para garantir a entrada do PP e do Republicanos na Esplanada dos Ministérios até o fim desta semana e antes de o presidente Lula (PT) embarcar para a Cúpula do Brics na África do Sul.

Membros do centrão têm reclamado sobre o que consideram uma letargia do governo, e auxiliares do petista têm receios que a demora em concretizar as mudanças ministeriais possa contaminar a relação entre Executivo e Legislativo e, dessa forma, atrapalhar o andamento de projetos de interesse do Planalto no Congresso Nacional.

A votação do novo arcabouço fiscal, matéria considerada prioritária para o Executivo, foi novamente adiada e agora deverá ocorrer na próxima semana.

Uma reunião sobre o projeto que estava prevista para segunda-feira (14) entre os líderes partidários e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi adiada após mal-estar causado por declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo”, disse Haddad em entrevista ao programa Reconversa, com o jornalista Reinaldo Azevedo e Walfrido Warde, que foi divulgada na segunda-feira.

A declaração azedou o clima político e obrigou o ministro a dar explicações após reação negativa por parte dos parlamentares.

À reportagem integrantes do Palácio do Planalto e líderes do centrão, no entanto, minimizam o efeito do episódio e descartam a possibilidade de ele atrapalhar o andamento das conversas da reforma ministerial.

Segundo eles, por mais que as declarações tenham gerado um desconforto, isso não será um fator que vai impedir as mudanças ministeriais.

Lira também rechaçou que isso possa prejudicar a relação com o Executivo. “Não temos interesse nenhum em promover qualquer acirramento de ânimos, mas o posicionamento foi necessário”, disse Lira nesta terça (15).

O presidente da Câmara afirmou ainda que tem mantido contato frequente com Lula. “A presidência da Câmara tem uma excelente relação com o presidente da República, temos que ter essa relação, temos essa relação, mas ela nem de longe é pautada por essa participação [em ministérios].”

“Somos facilitadores para que as matérias caminhem na Câmara dos Deputados. Quanto mais base o governo tiver, mais fácil o meu trabalho, mais fácil o trabalho do governo. Quem tem que construir é o governo, no tempo dele.”

Aliados do petista dizem ainda que, com a volta de Lula a Brasília após viagem ao Paraguai, ele deverá se debruçar sobre o desenho da Esplanada para tentar bater o martelo.

Já é certo que os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) serão ministros —mas ainda não há clareza sobre quais pastas irão ocupar.

A janela para o Palácio do Planalto resolver o imbróglio do desenho da reforma é curta. Lula já viaja novamente, no início da próxima semana, para participar da XV Cúpula do Brics, em Joanesburgo, na África do Sul.

A ideia de articuladores políticos do governo é tentar viabilizar o encontro de Lula com a cúpula do PP e do Republicanos ainda nesta semana. O presidente do Republicados, deputado Marcos Pereira (SP), também já retornou de uma viagem internacional nesta semana.

Lula se reuniu nesta terça com o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação com o Congresso e que participa das negociações da reforma ministerial.

Auxiliares de Lula já haviam apresentado diversos cenários para resolver a matemática da reforma. Até a criação de duas novas pastas está na mesa do presidente. O PP mira o Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família. O Republicanos está de olho no Ministério do Esporte.

No entanto, o PT e Lula resistem a ceder ao centrão a pasta responsável pelo principal programa social do governo. Por isso, o Planalto estuda uma dança de cadeiras para manter o Desenvolvimento Social com aliados próximos de Lula e oferecer outros ministérios ao PP, partido de Lira.

Apesar de o centrão, inclusive o PP, pressionar o governo a efetivar a reforma, Lira colocou panos quentes na crise nesta terça.

“Não há qualquer tipo de pressão em relação a isso. Eu trabalho sempre para que o governo tenha a maioria que ele precisa. Agora, sustentabilidade do governo quem tem que tratar é o governo”, afirmou.

“Há que se dar um tempo. Esse processo [de reforma ministerial] aconteceu em todos os governos, da redemocratização até agora. É o famoso problema dos governos de coalizão. O governo se elegeu, não elegeu maioria no Congresso e tem que fazer essa maioria de maneira organizada”, concluiu Lira.

VICTORIA AZEVEDO E THIAGO RESENDE / Folhapress

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