BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A defesa de Walter Delgatti afirmou na tarde desta quarta (16) que o hacker apresentou à Polícia Federal provas de que recebeu pagamentos da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Delgatti esteve na PF em Brasília para prestar depoimento.
O hacker foi preso novamente no começo do mês suspeito de tramar, a pedido de Zambelli, contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Questionado sobre as provas que Delgatti teria entregue à PF, o advogado Ariolvaldo Moreira afirmou que são “relacionadas a pagamentos que ele recebeu de Zambelli”.
Disse que seu cliente fez “prova de que recebeu valores da deputada”.
“Segundo Walter, o valor total chega próximo a R$ 40 mil reais. Foi próximo a R$ 14 mil em depósitos bancários e o restante em espécie”, disse.
Os valores em espécie, diz Moreira, foram entregues por um assessor da deputada em São Paulo. As provas citadas por ele seriam mensagem em que é discutida a realização desses pagamentos.
“Ele apresentou uma conversa com outras pessoas envolvidas e indicou outras pessoas que falavam com ele naquele período.”
A defesa de Zambelli voltou a negar que ela tenha cometido qualquer crime e rechaçou a hipótese de pagamento ao hacker.
Em 27 de junho, quando a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão sobre o caso, Delgatti confessou que invadiu os sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e inseriu um mandado de prisão falso contra Moraes assinado pelo próprio ministro.
O hacker também disse que recebeu um pedido de Zambelli no ano passado para invadir uma urna eletrônica “ou qualquer sistema da Justiça brasileira”. Delgatti admitiu que efetivamente tentou várias vezes, mas não conseguiu.
Segundo ele, o objetivo era demonstrar a fragilidade do sistema judicial do país. À época, o então presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Zambelli, promovia uma cruzada contra o sistema de votação e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmando não ser seguro nem transparente.
O hacker famoso por ter invadido contas de Telegram de procuradores da Lava Jato em 2019 teve encontros em agosto de 2022 com integrantes da campanha e aliados de Bolsonaro.
Na época, a revista Veja revelou que houve um encontro entre Delgatti e o próprio Bolsonaro. O objetivo da reunião, segundo a revista, foi tentar engajar o hacker na cruzada do então presidente contra as urnas eletrônicas.
Delgatti confirmou a versão e disse aos investigadores ter se encontrado com o ex-mandatário. Segundo ele, o então presidente perguntou se ele conseguiria invadir o sistema das urnas eletrônicas.
Após o depoimento nesta quarta, o advogado de Zambelli, Daniel Bialski, divulgou nota afirmando que ainda não teve acesso à íntegra dos autos.
“A defesa da deputada Carla Zambelli reitera que somente se manifestará após integral conhecimento do conteúdo dos autos o que ainda não aconteceu, inclusive de referido depoimento, porém reforça e rechaça qualquer acusação de prática de conduta ilícita e imoral pela parlamentar, inclusive, negando qualquer tipo de pagamento ao mencionado hacker”, disse Bialski.
No dia da operação, vieram a público informações da investigação apontando que pessoas próximas a Zambelli haviam repassado R$ 13,5 mil ao hacker. Desse valor, R$ 10,5 mil foram transferidos via Pix por Renan Goulart, assessor no gabinete do deputado estadual por São Paulo Bruno Zambelli (PL), irmão da deputada. Os outros R$ 3.000, apontou a PF, tinham sido enviados por Jean Vilela, secretário parlamentar da própria Zambelli.
A deputada afirmou após a prisão do hacker que ficou surpresa com a operação da PF e que estava à disposição do Judiciário para esclarecimentos. Ela também disse considerar que há uma tentativa de atingir o ex-presidente Bolsonaro por meio do caso.
Um depoimento dela que aconteceria no último dia 7 acabou sendo adiado.
“Não participaria de uma piada de mau gosto com o Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com um deputado que brinca com ministros do Supremo Tribunal Federal, haja visto nosso amigo Daniel Silveira”, disse, em referência ao ex-deputado preso.
FABIO SERAPIÃO / Folhapress