RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) teve lucro líquido recorrente de R$ 3,7 bilhões no primeiro semestre de 2023, de acordo com balanço divulgado nesta quarta-feira (16) pela instituição. O montante representa uma queda de cerca de 45% em relação a igual período de 2022 (R$ 6,7 bilhes).
Segundo o banco, a redução está associada ao impacto no caixa causado pelas devoluções antecipadas de recursos para o Tesouro Nacional ao longo de 2022.
“O BNDES, no ano passado, devolveu R$ 72 bilhões ao Tesouro Nacional, sendo que R$ 45 bilhões foram devolvidos em novembro, sem que a gente tivesse recebido as operações que haviam lastreado esses empréstimos”, disse Alexandre Abreu, diretor financeiro do BNDES. “Do ponto de vista financeiro, provoca um impacto em resultado”, completou.
O lucro recorrente desconsidera eventos esporádicos, que não tendem a se repetir. Já o lucro líquido contábil, que não faz essa exclusão, foi de R$ 9,5 bilhões no primeiro semestre.
Os desembolsos, que representam os financiamentos para diferentes setores da economia, chegaram a R$ 40,6 bilhões de janeiro a junho de 2023. Isso representa um crescimento de quase 22% ante igual período do ano passado.
QUEM TEM DE DESMAMAR É O TESOURO, DIZ MERCADANTE
O aumento está em linha com os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de fazer com que o BNDES retome seu papel como financiador de projetos na economia.
Para isso, a diretoria da instituição defende uma redução no nível de repasses para o Tesouro Nacional. Essa medida, contudo, pode esbarrar em resistências no Ministério da Fazenda, devido ao possível impacto nas contas públicas.
“Não estamos tratando de subsídios do Tesouro. Nosso esforço é para deixar de transferir recursos do BNDES na escala que foram transferidos para o Tesouro. Quem tem de desmamar é o Tesouro do BNDES”, disse o presidente do banco, Aloizio Mercadante, em entrevista após a divulgação do balanço nesta quarta.
Nos últimos anos, o BNDES repassou 60% de seu lucro líquido em dividendos à União. A medida defendida pelo banco é voltar a pagar apenas o patamar mínimo obrigatório, de 25%.
“Se não pagava historicamente, não faz sentido pagar 60%. Descapitaliza o banco. É o que estamos mostrando aqui”, afirmou Mercadante.
A atual gestão tem planos de dobrar o nível de desembolsos do BNDES até 2026. Assim, a ideia é retomar um patamar de financiamentos próximo a 2% do PIB (Produto Interno Bruto), verificado antes do impulso a empréstimos nos governos Lula e Dilma Rousseff (PT).
“O esforço fiscal do governo é fundamental. O arcabouço fiscal é muito importante, mas não podemos pagar mais do que 25% de dividendos para [conseguir] cumprir aquilo que o governo espera do banco, que é o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que é a política industrial”, disse Mercadante.
Ele estimou que os desembolsos do BNDES podem chegar a R$ 120 bilhões até o final de 2023. O petista ainda indicou que a instituição deve reservar R$ 270 bilhões para financiar obras do Novo PAC até o fim do mandato do presidente Lula.
INFRAESTRUTURA LIDERA DESEMBOLSOS, E AGRO SALTA 54%
O petista chamou de “difícil” o primeiro semestre de 2023 em razão de questões como os juros altos e a crise gerada pela descoberta de fraude na Americanas. Mesmo assim, procurou destacar ações do BNDES voltadas para áreas como a de infraestrutura.
Segundo o balanço divulgado nesta quarta, os desembolsos do banco para projetos de infraestrutura cresceram 17% em termos nominais no primeiro semestre, alcançando R$ 17,4 bilhões.
A quantia equivale a 42,8% do total de desembolsos do BNDES no período (R$ 40,6 bilhões). É a maior fatia entre os quatro setores atendidos pela instituição.
“Embora as taxas de juros estivessem altas, o BNDES tem linhas muito longas. As linhas em infraestrutura vão até 35 anos, e em energia até 24 anos. Alguns projetos não podem parar”, afirmou Luciana Costa, diretora de infraestrutura do BNDES. Ela vê uma demanda reprimida por crédito nessa área.
A indústria, por sua vez, recebeu a segunda maior parcela dos desembolsos no primeiro semestre. A quantia foi de R$ 9,1 bilhões, equivalente a 22,4% do total. O montante destinado às fábricas aumentou 11% frente a igual período de 2022.
O setor de comércio e serviços, por sua vez, recebeu R$ 7,2 bilhões no primeiro semestre (17,6% do total). A alta foi de 21% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já a agropecuária ficou com quase R$ 7 bilhões dos desembolsos. A quantia representa 17,2% do total, a menor fatia entre os quatro setores. A alta em relação a igual período de 2022, contudo, foi a maior em termos relativos: 54%.
Na primeira metade deste ano, a agropecuária foi aquecida pelo bom desempenho da safra de grãos, que deve bater recorde no país.
No seu discurso de posse, em fevereiro, Mercadante elogiou o fato de o Brasil ser a “fazenda do mundo”, em razão do potencial para produzir alimentos, mas disse que bens industriais de alto valor agregado também seriam essenciais para o desenvolvimento. Ele vem insistindo na ideia de que o país precisa se reindustrializar.
LEONARDO VIECELI / Folhapress