Na noite de 28 de março de 2008, o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá voltava para casa com seus dois filhos e Isabella, filha dele com sua primeira mulher. As crianças estavam cansadas e irrequietas. Nervosa, Anna Carolina bateu em Isabella, causando um ferimento na cabeça da menina.
O casal levou Isabella para o apartamento. Alexandre entrou em casa com a filha nos braços. Ela sangrava pela testa. Anna Carolina tentou esganar a enteada, e a violência foi tamanha que o casal achou que a garota estava morta. Em pânico, Alexandre abriu um buraco na rede de proteção da janelas e atirou sua filha por ele. Mas Isabella ainda estava viva quando chegou ao chão.
Essa é a versão “oficial” para um dos crimes mais chocantes da história recente e se consolidou como a verdade absoluta na cabeça de muitos. Acontece que não há provas definitivas de que foi isso mesmo o que se passou.
A perícia do caso foi, no mínimo, enviesada. A investigação ignorou evidências que não se encaixavam em sua narrativa. E a própria Justiça transformou o julgamento num espetáculo para as massas. Quando o casal foi condenado, houve até queima de fogos.
Todas essas falhas na resolução do caso são levantadas pelo documentário “Isabella: O Caso Nardoni”, de Claudio Manoel e Micael Langer.
Ninguém das famílias Nardoni e Jatobá aceitou falar às câmeras. O que só corrobora um mistério apontado por alguns entrevistados. Qual foi a verdadeira participação de Anna Carolina Jatobá no crime? As marcas no pescoço de Isabella teriam mesmo sido infligidas por ela? Não há exame que chegue a uma conclusão definitiva.
“Isabella: O Caso Nardoni” sugere algo intrigante. Por alguma razão, Anna Carolina teria aceitado compartilhar a culpa com Alexandre, que seria o único culpado pela morte de Isabella. Mas o que levaria a mãe de duas crianças pequenas topar ir para a cadeia e se afastar de seus filhos durante anos?
Não há respostas para isto, só elucubrações. Na falta de revelações que mudariam o curso da história, a dúvida acerca da madrasta de Isabella é o dado de maior impacto do documentário.
O mérito do filme é tornar interessante um caso exaustivamente coberto pela mídia, e sobre o qual a maioria das pessoas têm uma opinião. Na impossibilidade de fazer suspense ou trazer novidades, o documentário abala as certezas do espectador e o deixa incomodado.
ISABELLA: O CASO NARDONI
Avaliação: Bom
Quando: Disponível na Netflix
Produção: Brasil, 2023
Direção: Claudio Manoel e Micael Langer
TONY GOES / Folhapress