Serra da Bocaina une fiorde tropical, história do ouro e do café e cultura caiçara

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Das praias aos picos de mais de 2.000 metros de altitude, a porção de mata atlântica que cobre a costa da região de Paraty e sobe pelas encostas íngremes da Serra da Bocaina faz parte dos 15% remanescentes do bioma que existia em todo o Brasil ao redor do ano de 1500.

É possível que a dificuldade de acesso à área que envolve o lugar tenha sido justamente a chave para a região se tornar o maior conjunto preservado desse tipo de vegetação no país e que hoje leva o título de Patrimônio Mundial da Unesco.

O território abriga duas terras indígenas, dois territórios quilombolas e 28 comunidades caiçaras que procuram viver da pesca artesanal e do manejo sustentável. Essas comunidades tradicionais mantêm os modos de vida de seus antepassados, preservando a maior parte de suas relações culturais, como ritos, festividades e religiosidade.

A Serra da Bocaina, na divisa entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, é dividida em duas áreas: a parte alta, com grandes cadeias montanhosas, e a parte baixa, litorânea. Com aproximadamente 180 quilômetros de extensão total, engloba o parque nacional de mesmo nome -administrado hoje pelo ICMBio, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade- e cidades como as fluminenses Paraty e e Angra dos Reis e as paulistas Cunha e São José do Barreiro.

Na parte alta, essa última cidade é a principal entrada, com infraestrutura de pousadas e restaurantes. Se a ideia do turista for visitar a região em casal, a pousada Encanto da Bocaina, por exemplo, conta com três chalés e fica próxima ao centro, embora no meio de uma reserva natural particular. A diária custa em torno de R$ 650, mas varia de acordo com as temporadas. Estão incluídos o café da manhã, com pães, queijos e geleias feitos no local, além das refeições oferecidas de forma artesanal por um um bistrô.

Quedas d’água de até 80 metros de altura, mirantes com vistas panorâmicas de tirar o fôlego, antigas fazendas de café com arquitetura tradicional e muita história fazem parte dos atrativos da área.

Dentre eles estão a cachoeira de Santo Izidro e a dos Veados, a Fazenda Pau D’Alho, o Pico do Tira Chapéu e a Reserva Natural da Pedra Redonda -esta última abriga um antigo mosteiro budista com instalações rústicas a quase 1.800 metros de altitude e uma vista privilegiada.

De lá é possível ver a Serra da Mantiqueira e o Vale do Paraíba, com destaque para o Maciço de Itatiaia e o Pico das Agulhas Negras. O acesso à sede somente pode ser feito por caminhada, a cavalo ou em veículos traçados.

A estrada que liga a parte baixa da serra, que vai do Vale do Paraíba ao litoral fluminense, termina no trecho Paraty-Cunha na rota do ouro, que pode ser feita em até três dias caminhando. Iniciada pelos indígenas guaianás e depois aberta por pessoas escravizadas no período colonial, a estrada ganhou relevância por causa do minério que a coroa portuguesa trazia desde Minas Gerais em direção ao porto de Paraty,.

Ainda pelo caminho e quase chegando ao litoral, é possível fazer uma parada na Fazenda Bananal para uma experiência que une trilhas pela mata atlântica, exposições feitas em parceria com a Casa da Cultura de Paraty no casarão e um restaurante onde os pratos são releituras da culinária caiçara, com ingredientes cultivados na horta da fazenda.

Já a 40 minutos do porto principal de Paraty há um fenômeno geográfico singular no Brasil. É o Saco do Mamanguá, equilíbrio perfeito entre a água e a terra. O chamado fiorde tropical tem mais de oito quilômetros de extensão e dois quilômetros de largura -é o único estuário da chamada Costa Verde do estado do Rio de Janeiro.

Dois paredões de mata atlântica e o mar protegido em um formato peculiar -com apenas uma entrada estreita ligada ao oceano- criam uma sensação de isolamento naquele canto afastado, que só tem acesso por barco. Atualmente, a região é uma área de proteção ambiental.

Conforme o barco começa a navegar pelo canal entre a imensidão de montanhas cobertas por vegetação, já se sente o clima de tranquilidade e de paz das comunidades caiçaras locais. Isso porque as pequenos embarcações de pesca, normalmente confeccionadas pelos próprios pescadores, navegam por ali em busca de um lugar para esticar suas redes ao longo do canal que possui, no total, 33 praias.

Entre as poucas opções de hospedagem está o Mamanguá Eco Lodge, com 12 quartos, sinal de internet e ar condicionado a uma diária de mais ou menos R$ 1.600 para o casal, com café da manhã e jantar incluídos, todos servidos num grande gramado que termina nas areias da Praia Grande.

Foi ali que Isaías, morador da região há 40 anos, atracou seu barco de pesca no fim do dia e deixou o que seria o jantar: pescas de tainha assadas na bananeira, que viraram também uma moqueca. Tudo muito fresco e muito típico da região.

FLÁVIA VITORINO / Folhapress

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